quinta-feira, 29 de novembro de 2012


VANDA OU A PAIXÃO
Antinoo,  Museu de Eleusis .2012


Um dia cheguei na casa de minha mãe e ela me alertou” Não faz barulho” fiquei espantada ,pois em geral sou silenciosa. Perguntei” Por que ? Ela respondeu mais do que depressa: “a Vanda está dormindo”. Eu nem lembrava quem era Vanda, pois a casa de minha mãe era frequentada pelos mais estranhos seres, que ela recolhia  e nos mais diversos locais e  situações. Às vezes era um pedinte, às vezes um vendedor ambulante ou a dona da banca da esquina. Coisas de Dejanira!
Acontece que a acolhida daquele dia era membro da melhor sociedade local. Então em voz muito baixa me: contou que estava na casa da Iria B.(enfermeira aposentada) quando chegou a Vanda toda machucada. Ela havia sido posta para fora de casa, e completou  “Como não tinha onde ficar eu a trouxe para casa ”. Quem a havia expulsado  fora  o motorista, que passara a prestar alguns outros serviços.
Vanda tinha 81 anos. Havia sido uma mulher mimada pela sorte, filha de pais ricos se casara com um homem muito mais velho, que o seu próprio pai. Ele também era muito rico. O marido a tratara como uma filha muito amada e fizera todas suas vontades. Com o passar do tempo ele envelhecera, durante anos esteve entrevado e a pobre Vanda não tinha quem a mimasse. Para cuidar do marido montou uma equipe de enfermeiros que se revezavam nos cuidados. Vanda apenas observava,segundo palavras de minha mãe que frequentava o seu apartamento na santa missão de “visitar doentes”.
Um dia o marido morreu e a equipe foi desmontada, ficaram apenas os criados triviais: faxineira, lavadeira, cozinheira e motorista. O motorista era de Vacaria e tinha vindo para cá em busca de emprego, casado a família lá permanecera. Era um gaucho forte e sacudido bem diferente do falecido marido que era alemão e gordo. Tinha a metade da idade dela. Como começou o caso minha mãe não soube contar. O que ela sabia era que Vanda começara a dar ao serviçal as roupas do falecido, depois um de seus vários carros e por fim dinheiro para a família dele, muito necessitada. Por fim, deu a ele o lugar do falecido.
Ela era exigente, e sempre tivera tudo o que queria. Creio que o motorista nem sempre estava disposto a obedecer à patroa, e um dia a expulsou de casa depois de uma bela surra. “Cansei da v... velha.”, afirmou o meigo companheiro. Detalhes fornecidos por minha mãe.
Alertei minha mãe, ela estava se metendo onde não devia. Pedi que avisasse a filha única de Vanda que morava em Porto Alegre. No mesmo dia ela veio e internou a mãe numa casa de repouso A dificuldade maior foi despedir o motorista que alegava união estável com sua patroa, com carteira assinada!. Perdeu a causa!  Coisas de Caxias do século passado!


 O CAMINHO DAS BORBOLETAS


Biblioteca de Adriano .Atenas .2012


Não há nada como a  tecnologia. Na era mecânica,  na cozinha não poderia haver bem maior do uma máquina de moer carne e de ralar queijo. Na era da eletricidade foi a vez de um liquidificador e do processador, que melhoraram a qualidade de vida das cozinheiras. A chegada do fogão a gás poupou o trabalho de cortar lenha.Sem falar nos congelados e no micro-ondas, coisas tão práticas.  Nada melhor do que a técnica aplicada ao bem estar dos seres humanos.
Os aparelhos eletrônicos reduziram o tempo tanto do trabalho físico como do  mental. Enormes  são as  vantagens do computador e   da Internet. Servem tanto para  uma consulta rápida sobre o ano da publicação de um livro como à  leitura de um clássico disponibilizado para   uso público (salve projeto Gutenberg! ).
O Google como memória suplementar e a Wikipédia como sucedâneo virtual da velha enciclopédia Jackson do passado.( sem a mesma qualidade)são instrumentos essências ao conhecimento, nos novos tempos virtuais. È possível ainda fazer ainda tabelas e gráficos com rapidez e precisão! Sem esquecer a comunicação imediata pelo Skype.
A exposição  da vida privada no espaço público das redes sociais criou um mundo virtual, muito semelhante ao real. Nem melhor, nem pior, apenas outro mundo. Quando mais o tempo passa mais a realidade vai se escondendo no mundo virtual. Hoje è possível jogar videogame com parceiros distantes e conhecer (biblicamente) parceiros sexuais.  E ainda conhecer de forma imediata o que está ocorrendo no mundo, pesquisar  tendências,  e  até mandar presentes pelo espaço  virtual , que é novo paraíso  do consumo.
Quando mais o tempo passa mais a realidade se oculta no mundo virtual.  Mas há coisas que realmente que não podem ser atendidas no mundo virtual. Muitas coisas que não podem ser feitas por meio da tecnologia. Não é possível ser  teletransportado de um lugar para outro, nem sentir o cheiro das flores e o ar fresco das matas. Com ele  não se pode matar a saudade dos queridos. Nem acompanhar o crescimento das árvores.
O real é muito maior do que o virtual. O virtual nada mais é do que o ectoplasma do mundo real. Como Quintana se pode dizer’ “O segredo não é seguir as borboletas, mas fazer com que elas nos sigam”. Para isso é necessário que cada um cuide de seu  jardim .ainda não foi inventado um jardim virtual.


sexta-feira, 9 de novembro de 2012


A SOMBRA DOS JACARANDÁS EM FLOR



Os jacarandas de Antoninho Perazzolo  em 012

Novembro é segundo a velha tradição cristã o mês  de todos os santos e todos os mortos, o dia dos Finados .Bela palavra  e  o mais belo dos meses para alegrar os olhos.Porém é letal para os alérgicos ao pólen ( como eu). Quando chega novembro os jacarandás das ruas de Caxias florescem.  De inesquecível beleza é o lilás de suas flores compondo perfeitos arranjos contra o azul do céu. Para completar as flores mortas desenham no chão um tapete lilás, copiando com perfeição a sombra das árvores. Então me vem  a memória algumas lembranças .
 Lembro-me, em primeiro lugar de quem as plantou.  Em tempos anteriores à extremada especialização, os professores da UCS tinham as mais variadas formações. Um geólogo poderia ensinar fundamentos de geologia, um economista poderia lecionar Geografia econômica e assim por diante. Durante algum tempo ele que era agrônomo,  foi meu colega na UCS, lecionava no curso de Geografia. Lembro (foi nos idos de 1970) quando ele falou em plantar os jacarandás em Caxias. Foi pouco antes de uma reunião realizada no segundo andar, na parte central do atual Bloco A. Eu fiquei feliz, pois amava as plantas que deixavam belíssima Porto Alegre,na primavera.
 Na reunião seguinte (no mês seguinte) ele comentou que desordeiros haviam arrancado cerca de duas mil mudas de jacarandás. Foi de cortar o coração, tendo sido gasto inutilmente o dinheiro público nas mudas das plantas.
Pouco tempo depois deixou o cargo na Prefeitura e o magistério. Ele amava a família, a terra e as plantas como poucos. Deixou a política e o magistério e foi fazer o que gostava cuidar da terra e de sua produção.  Morreu em 2006, mas sua lembrança ficou em cada um dos jacarandás plantados na cidade. Pois, apesar das mudas arrancadas muitas árvores sobreviveram mais de trinta anos  e com sua beleza enfeitam algumas ruas da cidade, entre as quais a  20 de Setembro.
Os jacarandás (como as demais árvores de Caxias )estão em petição de miséria. Seus galhos foram amputados para a proteção dos fios elétricos e das câmaras de vídeo. Hoje as árvores estão cobertas de cochonilhas, algumas foram arrancadas, uma delas  ficava na Bento com a Marques ( eu sei ) foi  cortada  para proteger  uma garagem  de automóveis. As flores incomodavam o dono.  Mas quem protege os jacarandás?
Assim todos os anos, quando florescem os jacarandás eu me lembro de Antoninho Perazzolo  e de seu esforço para embelezar  Caxias . De fato ele deixou a cidade mais bela, e ao que sei também o mundo melhor. 


quinta-feira, 1 de novembro de 2012


SAUDADES DO FUTEBOL



Flamengo de Caxias do Sul campeão citadino de 1951.Fonte:Adami ,J.S História de Caxias do Sul

Vivemos num tempo de redução do futebol e de futebol reduzido.Hoje o futebol do Rio Grande do Sul ficou reduzido ao futebol porto-alegrense .Os gaúchos foram levados a acreditar que o futebol do estado se resume ao  da  sua capital.Sou do tempo em que havia ( e como era bom) o campeonato citadino de futebol. Cada cidade realizava seu campeonato e o campeão da cidade disputava com os campões de outras cidades, na qual se incluía a capital.
Sou do tempo em que havia campeonato varzeano, e se não me falha a memória havia pelo dez campos de futebol só na cidade .Eles eram simples sem alambrado e arquibancadas. As famílias iam ao campo como a um piquenique, levando merenda e foguetes. Não havia agressões maiores que uns bons palavrões. Esses, sim eram muitos!
Os tempos eram outros. Em Porto Alegre havia renhidos campeonatos entre o Grêmio, o Internacional, o Cruzeiro, o São José e o Renner. Em Caxias, por sua vez havia o Juventude, o Flamengo, o Gianella e o Fluminense. Tempos do Nacional de São Leopoldo e do Grêmio Caiense de São Sebastião. Tempos onde o campo se chamava cancha, o resultado escore e o goleiro  goalkeeper,sem falar nos half, nos backs  e nos off side. Football que por sua vez era narrado  por speakers.
Tempos de futebol amador, no qual os jogadores jogavam por amor à camisa e os torcedores amavam seus times. Os jogadores ganhavam alguma coisa em caso de vitória. . Os jogadores tinham outras profissões. Alguns eram borracheiros, padeiros, funcionários públicos e até filhos de donos de empresa. Como novos gladiadores eram os heróis da torcida, não se vendiam, nem eram comprados. Seria impensável vender um jogador para o time rival. Lembro-me o escândalo que foi a venda da Tesourinha. Bons tempos,onde os torcedores se escandalizavam  !
Com o tempo o futebol se tornou mais uma mercadoria, hoje tudo se vende jogadores, símbolos e honra, em nome de um pretenso profissionalismo. Hoje torcedores se chamam sócios.   Na verdade o melhor time é que mais é o que mais vende  e o que mais compra (do juiz ao time  adversário).
Hoje temos times isolados em divisões de acesso restrito.  Com novos soberanos ditando as regras do jogo: o  Clube dos Treze .(Ave Koff!)   Como nos tempos de antanho assistimos a luta entre nobreza e plebe. Creio que os leitores estão lembrados de como terminou essa  a luta ,que na França levou a burguesia ao poder. Hoje, o mesmo ocorre no futebol. Mas, quem leva vantagem (lei de Gerson por sinal) e o lucro não são os donos dos times, nem os jogadores, muito menos os sócios (torcedores). Quem realmente ganha são os intermediários. Saudades do FlaJu.
Loraine Slomp Giron 
Twitter :loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/