Um
dia cheguei na casa de minha mãe e ela me alertou” Não faz barulho” fiquei
espantada ,pois em geral sou silenciosa. Perguntei” Por que ? Ela respondeu mais
do que depressa: “a Vanda está dormindo”. Eu nem lembrava quem era Vanda, pois a
casa de minha mãe era frequentada pelos mais estranhos seres, que ela recolhia e nos mais diversos locais e situações. Às vezes era um pedinte, às vezes
um vendedor ambulante ou a dona da banca da esquina. Coisas de Dejanira!
Acontece
que a acolhida daquele dia era membro da melhor sociedade local. Então em voz
muito baixa me: contou que estava na casa da Iria B.(enfermeira aposentada)
quando chegou a Vanda toda machucada. Ela havia sido posta para fora de casa, e
completou “Como não tinha onde ficar eu
a trouxe para casa ”. Quem a havia expulsado
fora o motorista, que passara a
prestar alguns outros serviços.
Vanda
tinha 81 anos. Havia sido uma mulher mimada pela sorte, filha de pais ricos se casara
com um homem muito mais velho, que o seu próprio pai. Ele também era muito
rico. O marido a tratara como uma filha muito amada e fizera todas suas
vontades. Com o passar do tempo ele envelhecera, durante anos esteve entrevado e
a pobre Vanda não tinha quem a mimasse. Para cuidar do marido montou uma equipe
de enfermeiros que se revezavam nos cuidados. Vanda apenas observava,segundo
palavras de minha mãe que frequentava o seu apartamento na santa missão de
“visitar doentes”.
Um
dia o marido morreu e a equipe foi desmontada, ficaram apenas os criados triviais:
faxineira, lavadeira, cozinheira e motorista. O motorista era de Vacaria e
tinha vindo para cá em busca de emprego, casado a família lá permanecera. Era
um gaucho forte e sacudido bem diferente do falecido marido que era alemão e gordo.
Tinha a metade da idade dela. Como começou o caso minha mãe não soube contar. O
que ela sabia era que Vanda começara a dar ao serviçal as roupas do falecido,
depois um de seus vários carros e por fim dinheiro para a família dele, muito necessitada.
Por fim, deu a ele o lugar do falecido.
Ela
era exigente, e sempre tivera tudo o que queria. Creio que o motorista nem
sempre estava disposto a obedecer à patroa, e um dia a expulsou de casa depois
de uma bela surra. “Cansei da v... velha.”, afirmou o meigo companheiro. Detalhes
fornecidos por minha mãe.
Alertei
minha mãe, ela estava se metendo onde não devia. Pedi que avisasse a filha
única de Vanda que morava em Porto Alegre. No mesmo dia ela veio e internou a
mãe numa casa de repouso A dificuldade maior foi despedir o motorista que
alegava união estável com sua patroa, com carteira assinada!. Perdeu a causa! Coisas de Caxias do século passado!