sexta-feira, 18 de abril de 2014

FILHAS




            Há vinte anos minha amiga Dolaimes Stedile sugeriu que fizéssemos uma pesquisa sobre as injustiças que as filhas tem sofrido nas empresas de seus pais, tanto  na divisão dos bens e  como nas atribuições de poderes. Poucos anos depois ela morreu. Fiquei devendo  a pesquisa para ela, pois o tema é muito delicado e de difícil comprovação. Mas todos os meses de março eu me lembro dela, da sua simpatia irradiante e de sua proposta. Mas eu pergunto “Quem vai reconhecer que preteriu suas filhas capazes em favor de seus filhos incapazes?” Ninguém. Além do mais hão  direito  sobre heranças que de certa forma pode minimizar as diferenças.
A injustiça  com as mulheres não é algo novo, começa na colônia Os colonos poderiam dar aulas sobre as formas de fraudar  as filhas nas  partilhas de seus bens. Delas foram retirados os direitos à terra sob os mais diversos pretextos. Creio que há poucas regiões no mundo onde as filhas foram  exploradas mais  do que nessa região. Até o nascimento de filhas era motivo de  tristeza de desilusão dos pais  , já que esperavam  um braço forte para o trabalho na colônia.Pretensamente as mulheres tem menos força que os homens e são tradicionalmente conhecidas como sexo frágil. Sexo frágil que aguenta a maternidade e todas suas decorrências e ainda vive bem mais tempo que o chamado sexo forte.
Antigamente não havia dia da mulher, foi só em 1975 que a Assembleia da ONU decretou o dia oito de março como  Dia Internacional da Mulher. A existência de um dia da mulher (como o Dia do Índio)revela toda a dominação e toda a subordinação da mulher a que ela é submetida  na sociedade machista.Os homens  repetem os velhos procedimentos de antigamente que tentam retirar da mulher seus direitos e seu poder de autodeterminação.
Conheço casos incríveis de exploração de filha tanto na colônia como na cidade. Um dos casos que me vem a lembrança é o de Lourdes uma menina de quatorze anos entregue por seus pais pobres que viviam em Esteio  a uma patroa cruel de Caxias. Lourdes trabalhava da manhã a noite sem direito a estudo e a descanso semanal. Em contra partida seus pais recebiam seu misero salário para continuar vivendo. Essa é uma forma de escravidão chamada no instituto da escravidão  de escravo de ganho. Ou seja, o trabalho de alguém  é alugado à terceiros, mas quem recebe o salário não é o trabalhador  mas o seu dono. Lourdes sofria da dupla exploração o  da patroa e a de seus pais.No entanto vivia alegre .Ainda bem que teve sorte e se casou e foi feliz. Há muitos outros casos como os de Lourdes e algum dia os  contarei .
Como bem observa George Bernard ShawA escravatura humana atingiu o seu ponto culminante na nossa época sob a forma do trabalho livremente assalariado.” Coisa bem antiga o que levou Diderot a afirmar Ter escravos não é nada, mas o que se torna intolerável é ter escravos chamando-lhes cidadãos.”

Loraine Slomp Giron Historiadora

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