Quem viu o filme Filomena encontrará na história que segue uma estreita
ligação com a jovem, que foi separada à força de seu filho. Quem enviou a pequena saga que resume bem a
situação da mulher na região foi a leitora amiga Arlete Kemft. Conta ela que
uma jovem de dezessete anos engravidou, vivia no interior de Bento Gonçalves. .Por
não ter marido foi expulsa pela família e enviada à Santa Casa Misericórdia de
Porto Alegre. Tudo organizado pelo pároco da cidade. Lá ela trabalhou e teve seu
filho. Conta Arlete: “embora a roda dos expostos há muito tinha sido abolida na
Santa Casa, a instituição continuava sendo um ponto de intermediação para
jovens desgraçadas que não podiam criar os filhos espúrios e casais inférteis,
interessados em adotar bebês.”.
Um casal informado do nascimento da criança se apresentou para busca-la.
O menino foi registrado (houve muitos casos) como seu filho legitimo casal. “Mal
tinha nascido o menino franzino, foi tirado dos braços da jovem mãe. Ela chorou
e sofreu muito, mas nada podia fazer.” O menino era muito fraco e sofreu pela
ausência do leite materno, por pouco não morreu.
Arlete informa: “Ele era meu
‘primo’, tínhamos nascido no ano de 1951, brincamos juntos uns bons anos de
nossa infância. Logo que tive noção das coisas, fiquei sabendo que não era
filho dessa minha "tia-avó" e de seu marido. Aliás, toda a comunidade
sabia, acredito que com o passar dos anos, na escola, até meu "primo"
ficou sabendo”. Ele sempre se deu bem com os pais adotivos.
Só no
fim da vida é que a mãe revelou ao filho a sua origem e da sua adoção, dizendo
enfim o nome da sua mãe biológica. Depois da morte da mãe adotiva e ele começou
buscar sua mãe. Na Santa Casa, só
conseguiu informações após ação judicial, mas nada conseguiu saber sobre a mãe.
Depois desistiu.Finalmente,há quatro anos, já sexagenário por acaso se encontrou com ela , então com
quase oitenta anos. Assim ao contrario do filme Filomena no qual mãe e filho
haviam se procurado inutilmente, enfim se encontraram. Ele ficou sabendo da
vida de sua mãe, que se empregara na casa de um alto funcionário público em
Porto Alegre, onde foi babá e doméstica, por longos anos. Casou-se com um viúvo,
com seis filhos, ajudando a cria-los. Ao casar trocou de sobrenome, mudando-se
para outra cidade.
Mas a história não acaba se repete muitas e
muitas vezes. Acontece que as relações que se estabelecem entre mãe e filho são
profundos, ultrapassam os sentimentos esse entranham no ser. Geneticistas do Centro Médico de Boston (Nova
Inglaterra, USA) descobriram que as mães mantêm no organismo, durante décadas, cromossomos
que escaparam do feto do filho, durante a gravidez. Os cromossomos Y que existem no sangue materno pertencem
ao filho. A descoberta revela que a separação entre ambos nunca ocorre. As
células dos filhos de certa forma continuam vivendo em suas mães. A prática de
separar à força mães e filhos gera uma perda que nunca é superada. Histórias
como esta só servem para comprovar o fato!