Não se pretende aqui fazer uma crítica ou um elogio à
Festa da Uva de 2016,que parece ter sido
um sucesso.O ponto que se pretende refletir
é outro ou seja o da identidade da festa.A questão que se propõe é : a
festa é da uva ou da imigração italiana?
Há várias festas da uva no país, como ,por exemplo, a de São Roque e a de
Jundiaí ambas em São Paulo. As festas
daqueles lugares são realmente festas da uva, o que não acontece aqui.As festas
daqui faz muito tempo que deixaram de ser da uva.Tornaram-se um misto de feira industrial ,festa
agrícola e de comercio varejista . Da
uva restou o nome da rainha e uma exposição do produto, cada vez menos
significativa.
A análise dos cartazes e sua evolução pode ser um exercício
interessante, tanto das novas tecnologias gráficas como das mudanças dos
significados da uva na Festa. O cartaz deste ano, por exemplo, tem como figura
central um colono (por sinal é a cara da atual presidente da Festa) já as uvas aparecem
na base do pôster como mera decoração. Os cartazes na década de cinquenta eram
pequenos folhetos com a imagem de um cacho de uva monocromático. A uva tem
reduzido sua força nos cartazes de divulgação. Neles impera o produtor, o
mítico imigrante O assunto daria uma tese muito interessante..
A questão que se propõe é: por que se mantém a confusão
entre o produto (uva ) e o produtor (colono imigrante ) da festa?Trata-se de saber quando começou o
culto ao imigrante. Ao que tudo indica, as mudanças se deram aos poucos. Nos
primeiros tempos a figura do imigrante não aparecia. Em 1931,quando Joaquim
Pedro Lisboa, (grande líder maçônico) pensou numa festa que representasse a economia regional, a
escolha só poderia ser o vinho e a uva. Os imigrantes então apenas produziam a uva,
não sendo cultuados como mitos
fundadores de Caxias.Não há menção deles nas primeiras festas.
Aos poucos a
uva (e o vinho) deixou de ser a grande estrela da economia, a indústria
metalúrgica tomou o lugar da de bebidas. As maiores empresas da cidade ainda são
de oriundi, que segundo a crença
geral enriqueceram com o trabalho. O mito teve inicio com Abramo Eberle, com a
pequena casa de madeira encarapitada na moderna indústria de então. Com ele
teve inicio a crença que o trabalho enriquece. Caxias virou uma colmeia de abelhas loucamente
operosas.
A perda do lugar da uva na festa que leva seu nome
começou em 1965, com a inserção da feira industrial no mesmo espaço que ela. Era
o poder da indústria que passava a se manifestar. Começa o culto ao imigrante, em
decorrência das comemorações do centenário da imigração. Depois foi a vez do
comercio e a Festa virou uma tenda de venda de artigos variados.
Em 1975 ocorreu a grande inversão quando o produtor
passou a substituir o produto. Desde então o produtor tomou o lugar do produto,
o imigrante roubou o lugar da uva. Não seria hora de repensar a Festa, dando a Cesar o que é de Cesar?
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