sábado, 12 de março de 2016

SOBRE A FESTA


         








   Não se pretende aqui fazer uma crítica ou um elogio à Festa da Uva  de 2016,que parece ter sido um sucesso.O ponto que se pretende refletir  é outro ou seja o da identidade da festa.A questão que se propõe  é : a  festa é da uva ou da imigração italiana?
            Há várias festas da uva   no país,  como ,por exemplo, a de São Roque e a de Jundiaí ambas  em São Paulo. As festas daqueles lugares são realmente festas da uva, o que não acontece aqui.As festas daqui faz muito tempo que deixaram de ser da  uva.Tornaram-se um misto de feira industrial ,festa agrícola e  de comercio varejista . Da uva restou o nome da rainha e uma exposição do produto, cada vez menos significativa.  
            A análise dos cartazes e sua evolução pode ser um exercício interessante, tanto das novas tecnologias gráficas como das mudanças dos significados da uva na Festa. O cartaz deste ano, por exemplo, tem como figura central um colono (por sinal é a cara da atual presidente da Festa) já as uvas aparecem na base do pôster como mera decoração. Os cartazes na década de cinquenta eram pequenos folhetos com a imagem de um cacho de uva monocromático. A uva tem reduzido sua força nos cartazes de divulgação. Neles impera o produtor, o mítico imigrante O assunto daria uma tese muito interessante..
            A questão que se propõe é: por que se mantém a confusão entre o produto (uva ) e o produtor  (colono imigrante )  da festa?Trata-se de saber quando começou o culto ao imigrante. Ao que tudo indica, as mudanças se deram aos poucos. Nos primeiros tempos a figura do imigrante não aparecia. Em 1931,quando Joaquim Pedro Lisboa, (grande líder maçônico) pensou numa festa que representasse a economia regional, a escolha só poderia ser o vinho e a uva. Os imigrantes então apenas produziam a uva, não sendo  cultuados como mitos fundadores de Caxias.Não há menção deles nas primeiras festas.
            Aos poucos a uva (e o vinho) deixou de ser a grande estrela da economia, a indústria metalúrgica tomou o lugar da de bebidas. As maiores empresas da cidade ainda são de oriundi, que segundo a crença geral enriqueceram com o trabalho. O mito teve inicio com Abramo Eberle, com a pequena casa de madeira encarapitada na moderna indústria de então. Com ele teve inicio a crença que o trabalho enriquece.  Caxias virou uma colmeia de abelhas loucamente operosas.
            A perda do lugar da uva na festa que leva seu nome começou em 1965, com a inserção da feira industrial no mesmo espaço que ela. Era o poder da indústria que passava a se manifestar. Começa o culto ao imigrante, em decorrência das comemorações do centenário da imigração. Depois foi a vez do comercio e a Festa virou uma tenda de venda de artigos variados.
            Em 1975 ocorreu a grande inversão quando o produtor passou a substituir o produto. Desde então o produtor tomou o lugar do produto, o imigrante roubou o lugar da uva. Não seria hora de repensar  a Festa, dando a Cesar o que é de Cesar?  
           


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