sexta-feira, 28 de outubro de 2016

MAÇONARIA E PODER


      

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  Um dos estudos mais apaixonantes dos dois últimos séculos é o da ação da Maçonaria, tanto no mundo quando no Brasil. A Maçonaria realizou movimentos liberais tanto na independência das colônias americanas como na luta contra os governos discricionários e absolutistas europeus. Há luminares maçons como Benjamin Franklin, George Washington, José Bonifácio e Antonio Carlos entre tantos outros. Suas lutas pelos direitos dos cidadãos  e contra o instituto da escravidão marcaram época na história nacional. Como nenhuma outra organização lutou a favor da constitucionalidade e da descolonização.
            Ao longo do tempo, a Maçonaria tem sofrido ataques sistemáticos de governantes ditatoriais como Mussolini que mais a perseguiu, e Hitler. Como diz Fernando Nobre :”Os maçons criaram certas reservas de proteção sempre com medo que uma ditadura se pudesse instalar e que  eles pudessem ir como foram na Alemanha ,para os campos de concentração”  
            Outra instituição que muito perseguiu a Maçonaria foi a Igreja Católica, por motivos políticos; a partir de 1870 quando da Unificação Italiana que retirou o poder temporal do Papa sobre os Estados Pontifícios dando origem até a chamada Questão Romana. A Maçonaria com Garibaldi e Cavour  havia sido uma das articuladoras  da Unificação.No Brasil foi a questão religiosa dela decorrente  enfraqueceu e derrubou o Império. No Brasil o governo Vargas que seguia outro credo (o positivista) a enfraqueceu ao proibir o funcionamento de suas lojas.
            Na antiga região colonial foi a Igreja promoveu várias querelas contra a Maçonaria, pois desejava a hegemonia sobre os pobres imigrantes. Na Colônia Caxias os mais ilustres políticos estavam ligados a Maçonaria, entre eles o grão mestre José Candido de Campo Jr. que ficou conhecido pelas suas lutas com o padre Nosadini e as Ligas Católicas. Celeste Gobbato deu a Praça Dante Alighieri sua fisionomia maçônica, que as várias reformas que sofreu não conseguem esconder. Joaquim Pedro Lisboa outro ilustre maçom caxiense  idealizou a  Festa da Uva,um dos marcos da região.
            Sendo a Maçonaria uma organização que visa o bem, baseada em regras morais, até agora não se havia voltado contra a democracia, os direitos civis e as liberdades democráticas. Mas o atual golpe (que alguns insistem em dizer que não é)parece revelar  e apontar para outra feição da irmandade: a intolerância. Ela está presente na ação de Moro (premiado Grão Mestre maçônico), de Temer e de Serra associados  dessa histórica irmandade.  Como diz Lauro Müller: ”É a intolerância que nos desgoverna, venha ela do exagero partidário ou nasça da ambição de conservar ou de adquirir o mundo. É dela que nascem os governos prepotentes e as oposições facciosas; dois extremos que se confundem na obra comum de destruição das liberdades políticas!”
            Os brasileiros que conhecem o papel da Maçonaria esperam que ela continue seguindo os seus princípios, respeitando as liberdades e as  diferenças políticas, religiosas e ideológicas. A sua história é longa demais para caber nesse espaço!


sexta-feira, 21 de outubro de 2016

K-RELATO DE UMA BUSCA








            Diz-se que os jovens já não leem e o que é mais sério, não gostam de ler. A culpa é de quem? Deve haver algo ou alguém responsável pelo abandono da leitura. Não é possível que a culpa seja da Internet. Para acessa-la e se comunicar por meio dela é preciso ler. Nela tudo cabe: obras clássicas, mensagens ,noticias ,estudos e fofocas. Nunca se leu tanto como agora, pelo menos nos celulares e androides, ao mesmo tempo nunca se leu tão poucos livros. 
            Seria interessante se perguntar o porquê da redução da leitura. Se não há uma resposta definitiva sempre é possível levantar hipóteses. A primeira hipótese: os bons escritores estão sumidos. A segunda hipótese é que os possíveis leitores (os alunos em especial) não são estimulados a ler. A terceira hipótese : as editoras não tem sido cuidadosas na publicação de obras ditas literárias. Uma destas hipóteses pode se ser verdadeira, ou  todas ou nenhuma .
            De qualquer forma é possível ver  que nunca se produziu tantos livros, ao mesmo tempo nunca se produziu tantos livros ruínas . A literatura brasileira  como o Brasil está em crise. As obras publicadas ultimamente tratam preferencialmente de: sexo, da vulgarização de história e  de   autoajuda. O que significa a mais completa miséria literária.
            Assim quando sai um livro bom ele merece ser destacado. Um livro perfeito é K Relato de uma busca. O livro publicado pela Companhia das Letras em 2010 foi relançado em 2016.È um livro  curto ,tem apenas 169 páginas. Pode ser lido em duas horas.   O autor é o jornalista e professor da USP Bernardo Kucinski .Trata-se de uma história real contada  sob a forma ficção,tão emocionante quanto a  Sangue Frio de Truman Capote,e  tão bem engendrado quanto  Santa Evita de Tomas Eloy  Martinez .O livro trata de um caso  onde a realidade  de longe vence  a ficção.Tão absurda pode ser a realidade, que nem a ficção pode vencê-la .Como diz o autor na epigrafe “ Caro leitor, tudo neste livro é invenção ,mas quase tudo aconteceu”.
            A história é simples um pai chamado de K busca sua filha, doutora em química, professora de USP desaparecida durante a repressão ,possivelmente em 1972 ela  como seu pai  é inominada.A desaparecida tinha uma vida e uma história,que seu pai desconhecia.Assim enquanto procura pela filha acha parte da vida  e da  história dela .Esta é a história a de uma busca. Onde se encontram torturadores, torturados, coniventes, aproveitadores  dando golpes, onde se encontra um pouco de tudo menos os corpos perdidos dos trucidados pelo regime  e para sempre perdidos.
            Não cabe aqui contar as peripécias, de um pai desesperado. Basta recomendar a leitura de uma obra literária perfeita. No dizer de Eric Nepomuceno:”K é uma narrativa de vertigem ,escrita de forma pungente e avassaladora.Mais do que um grito de dor e revolta ,mais do que um uivo inconformado ,é  um lento ,sossegado lamento” . Constitui o mais perfeito retrato da crueldade da ditadura militar.

                    

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

PODER E ORGANIZAÇÃO






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            O homem não vive só, desde o nascimento depende de outros seja da mãe seja do o grupo no qual nasceu. O homem desde sempre parece ter vivido em bandos. Como bípede implume o homem tem muitas necessidades e destas nasce sua organização. Ele precisa de comida, roupa e abrigo, outras vieram e se tornaram infinitas. Faz milênios que ele inventou formas de organização para não enfrentar o mundo sozinho.
            Há organizações pequenas como a família, e dela dependem a manutenção da vida. Há organizações enormes como o Estado. Não importa que tipo de família seja poligâmica, monogâmica aberta ou fechada, ela foi organizada para garantir a espécie e a propriedade. A família decorre da necessidade essencial da espécie: a procriação. A noção de amor ligada à sua procriação é coisa recente data do século XIX, do romantismo. Antes os casamentos ocorriam pela união entre famílias por vários interesses manter a cultura, a propriedade e poder. Estas formas de família antecederam a família ligada ao amor. Delas o amor estava ausente. Claro que o amor existia entre os homens, mas como um sentimento, não como uma função, nem como organizador. E, geral o amor era periférico à família.
            A maior e mais importante organização do mundo é o Estado. Seja mega ou mini o Estado dirige os indivíduos (como a organização familiar) não depende do amor, mas de crenças e principalmente de interesses. São estes últimos  que movem as organizações. Pode haver até amor, mas é sentimento acessório, não essencial. Como diriam os filósofos, o amor nestes casos é contingente não necessário.
            Há outras organizações que garante o Estado, entre elas a religião e a escola. A primeira cultiva uma crença da qual deriva todo seu poder, baseado em dogmas, na fé e não na razão. A escola é definida pelos  objetivos do Estado, para formar (ou melhor, formatar) os seus cidadãos. Do Estado derivam outras organizações como o sistema de cobrança de impostos, a lei, policia e os exércitos. Não é preciso amar nem o estado, nem o poder, nem os partidos políticos. Para que o poder se exerça, basta o temor e a obediência. Amar o Estado é coisa do século XX, resultado das duas grandes guerras, do fascismo e da descolonização. Como obrigar um homem a morrer por seu pais?
            O amor é aplicado em coisas menores como o dedicado a uma pessoa ou a um time de futebol, mas importantíssimas para a manutenção do sistema.  Para o amor, são criadas organizações nas quais a paixão é essencial. Velha herança do circo romano os times são destinados a entreter os homens, tendo como missão mantê-los dóceis e obedientes, distraídos das verdadeiras lutas. Para o mesmo propósito existe o amor que serve para fazer esquecer a morte, e que é vendido como produto junto a outros os produtos do mercado.  O filosofo que pensou as organizações que sustentam o Estado foi Max Weber e seu ideólogo maior Althusser. Hoje tudo que o homem pensa, acredita  e ama está mediado pelo poder do Estado. Como bem observou Karl Jung Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é à sombra do outro.  Em outras palavras o poder é a sombra negra do amor!


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

DAS ELEIÇÕES


            








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Para quem gosta de sociologia política o resultado das eleições do dia 2 de outubro é  prato cheio. O grande vencedor das eleições no Brasil foi o PSDB. No Rio Grande do Sul continua a  velha querela entre chimangos e maragatos agora com outros nomes e siglas.Entre os chimangos está o PMDB  e o PDT (finalmente coligados)entre os maragatos o PP,o  DEM, o PRB e  outros. No Brasil, mais uma vez a roda da fortuna girou, desta vez fazendo subir os partidos de direita. Se no país existisse um  grande líder de direita esta seria a sua hora.O fascismo avança em passos largos.
             Em Caxias pela primeira vez não haverá embate entre a direita e a esquerda. As  facções vencedoras e seus   candidatos se  alinham com o centro. Longe deles estão os ideais de Brizola com um socialismo à europeia. Basta verificar os resultados dos partidos situados à esquerda do PT.  O caxiense perdeu a memória política, e passou a acreditar mais uma vez em falácias, ou quem sabe tenha havido uma renovação tão grande no eleitorado que desconhece o passado, que por ser jovem desconhece o passado.
            O PT foi expulso do páreo. Fato indubitável, sua queda se deve em parte a contrapropaganda realizada de forma perfeita pela Globo. A análise da retórica  nacional deverá ser objeto de várias teses de doutorado. Em parte é devida a Lava Jato, ao impeachment que em  perfeita sincronia  se concretizou às vésperas das eleições. Por fim pela  sua própria atuação política  no governo federal. Deve-se destacar que os petistas gaúchos não foram acusados de nenhuma contravenção. Basta lembrar os nomes impolutos de Olívio Dutra, Paulo Paim e Raul Pont, para citar apenas alguns. Tal fato não serviu para mudar o certeiro golpe que o  retirou do poder.
            Por outro lado o golpe parece ter sido aceito pelos eleitores, que nele acreditaram. Os eleitores que deram a vitória a Hitler e a Mussolini também acreditaram que o comunismo era a origem dos males econômicos da Europa. O povo é ingênuo em sua maioria e acredita no que ouve, basta ver os resultados das fofocas. Ninguém precisa provar nada basta afirmar.  Outro fato nesta eleição, que merece destaque é o maior numero de mulheres que concorreram e mesmo as que ganharam para o executivo eo legislativo.. O sexismo não explica a política, mas serve para revelar a descriminação da mulher e  outros gêneros que não o masculino. Este sempre esteve presente no Brasil. Infelizmente este espaço é curto e a política complexa.
            De qualquer for a nunca é demais recorrer a Maquiavel. Poucos pensadores entenderam como ele a política e o ser humano. Alguns de seus pensamentos podem ser uteis para aqueles que deles carecem. Resumidamente diz ele que o melhor método para avaliar a inteligência de um governante é verificar quem ele tem a sua volta,ou seja quem ele escolheu para o auxiliar. Para ele há três tipos de homem, o primeiro  é aquele que entende por si mesmo, o segundo só entende quando os primeiros lhes explicam, os terceiros nada entendem. A estes ele chama de inúteis. Os descerebrados são germens nocivos!