quinta-feira, 21 de março de 2013


O PAPA NÃO É GAÚCHO!
Papa diz a Dilma que visitará Rio de Janeiro e Aparecida em julho

Outrora (contava-se) que quando um senhor medieval fosse viajar  e deixar sua propriedade por longo tempo  recebia sempre um sábio conselho: ’ Deixe seu dinheiro com os franciscanos e sua mulher com os  jesuítas.Mas, não faça o contrário senão ficará sem dinheiro e sem mulher.’Os franciscanos (outrora) eram famosos por seu gosto pelas mulheres e os jesuítas por sua paixão pelo dinheiro. Ao que tudo indica, os tempos mudaram o perfil das ordens. Hoje um jesuíta escolhe como papa o nome   Francisco,símbolo da ordem dos capuchinhos ,o que não deixa de ser  é um paradoxo.  Por outro lado, Dom Odilo Scherer afirmou que Francisco: “é um papa jesuíta, com coração franciscano,
O eleito (o mais improvável dos candidatos) foi um jesuíta argentino. Não havia um bom candidato brasileiro. O bem cotado Dom Odilo trocou os pés pelas mãos e perdeu a oportunidade de ficar calado. Assim, a maior potência católica do mundo ficou sem papa. Em compensação maioria dos hermanos  ficou satisfeita.Não basta o fato de já  terem Evita , Che, Maradona e  Messi,agora ,tem até um Papa. Mas nem todos estão felizes na Argentina, apesar da singeleza do Papa, há os que não esquecem a forma como ele tratou dois de seus irmãos jesuítas, expulsos da ordem (por ele) pela ação  deles contra a ditadura militar argentina. O New Iorker Times (de 18 de março) traz extensa matéria sobre o assunto, inclusive sobre a ação movida pela irmã de um dos jesuítas, Graziela Iório  contra o Papa recém eleito. A julgar pela reportagem (culpado ou não) o fato é que  Bergoglio teve no episódio uma ação( no mínimo) pouco corajosa.
Mas, de qualquer maneira, ele tem mostrado em suas aparições públicas, que é simpático e simples (como bom latino-americano), sem a empáfia europeia. Nunca tinha ouvido um Papa desejar um bom almoço para os fiéis. Ainda assim, fiquei pensando que muitos dos que assistiam ao Angelus de domingo, talvez não tivessem dinheiro para um almoço, bom ou não.
Eu creio que o Papa tem o pior trabalho do mundo. Além de dirigir um Estado teocrático e absoluto, deve cuidar da evangelização de milhões de católicos, que por sinal estão abandonando a Igreja em busca de religiões mais flexíveis e próximas deles. Buscar preencher os seminários vazios (por falta de vocações) e, deter uma Cúria marcada pela incúria no trato do dinheiro público. A dupla função de Pastor da Igreja e Chefe de Estado parece estar acima das forças de qualquer homem. Basta verificar nos estados democráticos o número de ministros e secretários necessários para dirigir o  governo. Fico pensando como faria o Dr. Alceu se fosse ao mesmo tempo Prefeito e Bispo de Caxias. Seria algo impraticável. Então imagine (ao mesmo tempo) ser papa e o chefe de uma nação. Pobre Francisco! Nem Hercules seria capaz de tal façanha. Será que não estaria na hora de uma reformulação do Vaticano? Afinal, não foi Jesus  quem armou tal arapuca.
 Loraine Slomp Giron Historiadora Twitter: @loslomp Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/




sexta-feira, 15 de março de 2013


CARISMA & POPULISMO

Hugo Chávez e Pastor Maldonado, em evento da Williams

O pensador alemão Max Weber (1864-1920) estabelece três tipos de dominação: a legal, a burocrática e a carismática. A dominação legal é a decorrente do Estado de Direito que impõe ao individuo suas leis, necessitando de poder coercitivo.  A dominação burocrática não se sustenta de forma isolada, precisa de um líder para organizar os quadros. Por sua forma, ela pode se tornar um entrave para aplicação das leis e normas.  A dominação carismática depende do poder exclusivo de um indivíduo, pode se dar de acordo com a ordem legal (por meio de processo eleitoral) ou não. Há formas de tomada do poder carismático, que não dependem do voto, pode ser por meio de uma revolução  de uma contra revolução.Tanto o nazismo como o fascismo foram decorrência do voto popular.
Na América Latina, os maiores líderes foram tachados de populistas, ou seja, de dominar o povo por meio de um discurso vazio. Tal visão é reducionista. Os maiores líderes  latino americanos se impuseram tanto pela força  das armas como pelo voto. Alguns o foram pelas duas maneiras, como Vargas (1882-1954) no Brasil e Perón (1895-1974) na Argentina. Pois, depois de se manter no poder pela força das armas, retornaram pela força do voto. Revelando seu poder junto às massas.
Mais que qualquer outro chefe de Estado é o populista (e carismático) que tem sofrido a maior reação das elites. Perón derrotou as oligarquias ligadas a produção do gado e Getúlio a elite dos cafeicultores paulistas. Tais feitos são imperdoáveis quando vistos pela ótica da burguesia. O mesmo não acontece com a maior parte da população, especialmente os desvalidos que em geral são os maiores beneficiários das políticas (ditas) populistas.   Foi o mesmo destino o de Hugo Chavez, líder carismático, que venceu as empresas estrangeiras, que detinham o monopólio da produção do petróleo. Foi eleito a partir de um movimento chamado de bolivarismo, por ele criado, no meio das forças armadas. O movimento deriva de Simon Bolívar (1783- 1830) líder maior da independência da Venezuela, outro grande líder carismático. Sem seu o poder não teria havido a  descolonização.
A vida e a morte de Chaves atestam que a maioria da população venezuelana aprovou sua forma de governar. Tão difícil como a implantação de mudanças sociais é a substituição de um líder carismático. Como afirma Max Weber não há rotinização para o carisma, nem substituto legal. Enfim, Hugo Chavez morreu. Agora resta saber qual será o saldo de sua política. O maior problema dos líderes carismáticos é que não tem sucessores a sua altura.  Basta lembrar o caso de Perón que foi substituído pela sua (inepta) esposa e vice-presidente Isabelita. Não sei se esse será o caso de Maduro, indicado por Chavez como seu sucessor. Cabe uma pergunta: “Será que toda a ação em prol do povo é demagógica e populista”?  Ao que tudo indica, em geral é considerado melhor o governo que defende a burguesia. Uma coisa não se pode negar, o que é bom para uma classe nem sempre é bom para outra.
Loraine Slomp Giron  Historiadora Twitter: @loslomp Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/








quinta-feira, 7 de março de 2013


VARGAS EM CAXIAS



 Lembro-me do tempo em que as eleições eram realizadas sem  o apoio  de propaganda grátis no rádio e na televisão. Naqueles tempos logo após a queda de Vargas (1945) o que valia eram os comícios realizados em muitas cidades. Eram espetáculos à parte. Os comícios se realizavam nos cinemas (que eram enormes ) e para abrilhanta-los chegavam comitivas dos mais importantes políticos nacionais e estaduais. Não havia shows nem artistas, apenas discursos de políticos,  que discursos e que políticos.
 As suas caravanas comitivas eram formadas com carros magníficos,vindos de Porto Alegre, como os  Rolls Royce,os  Mercedes Benz  e as  limusines (cuja marca desconheço) .Os homens  vinham  bem trajados de  terno e gravata . Mas de todos os políticos que conheci (de Getúlio à Dilma) o que mais me impressionou foi Getulio Vargas. Ele era pequeno e troncudo. Não vestia terno, mas bombachas, botas e camisa branca e um lenço branco de seda no pescoço (como bom republicano). Tinha a pele morena, queimada de sol e um sorriso tão radiante que iluminava tudo à sua volta.
Virei getulista no ato. Para escândalo da minha família que apoiava o Brigadeiro Eduardo Gomes (totalmente sem graça). Torcia pelo queremismo. As notícias sobre o movimento eram veiculadas pelas emissoras de rádio e pelo Jornal Nacional, exibido no inicio das sessões de cinema. Havia inclusive uma música (de Haroldo Lobo e Marino Pinto) cantada por Francisco Alves cujo refrão dizia assim “Bota o retrato do velho meu bem, bota no mesmo lugar” e completava “o sorriso do Velhinho faz a gente trabalhar.” O trabalho havia sido a tônica da ditadura (1930-1945) e os trabalhadores urbanos os grandes beneficiários de sua política social.
Em de três de outubro de 1950 o antigo Ditador foi eleito por voto direto com 48% do total. Ele voltou à Caxias para inauguração do Monumento do Imigrante, em 28 de fevereiro de 1954. Assistiu ao desfile da Festa da Uva (de terno) e percorreu os pavilhões que então ficavam entre as ruas 20 de setembro e a Bento Gonçalves (onde hoje está o Zaffari).  O sucesso daquela Festa foi enorme, tendo sido prorrogada, em vez de terminar em 28 de março, se prolongou até 18 de abril. O evento naquele ano durou 51 dias. Isso  lhe rendeu  o apelido de a Festa da Uva interminável
Em 24 de agosto daquele ano mesmo ano o Presidente se suicidou. O Brasil parou. Jornais e empresas antigetulistas foram queimados Foi a primeira e a última vez que chorei por um político. Nunca mais Caxias teve uma Festa assim, nem um presidente como Vargas. Com certeza, não se fazem mais políticos como ele, nem Festas da Uva como aquela.
Loraine Slomp Giron – Historiadora
Twitter: @loslomp Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/