quinta-feira, 7 de março de 2013


VARGAS EM CAXIAS



 Lembro-me do tempo em que as eleições eram realizadas sem  o apoio  de propaganda grátis no rádio e na televisão. Naqueles tempos logo após a queda de Vargas (1945) o que valia eram os comícios realizados em muitas cidades. Eram espetáculos à parte. Os comícios se realizavam nos cinemas (que eram enormes ) e para abrilhanta-los chegavam comitivas dos mais importantes políticos nacionais e estaduais. Não havia shows nem artistas, apenas discursos de políticos,  que discursos e que políticos.
 As suas caravanas comitivas eram formadas com carros magníficos,vindos de Porto Alegre, como os  Rolls Royce,os  Mercedes Benz  e as  limusines (cuja marca desconheço) .Os homens  vinham  bem trajados de  terno e gravata . Mas de todos os políticos que conheci (de Getúlio à Dilma) o que mais me impressionou foi Getulio Vargas. Ele era pequeno e troncudo. Não vestia terno, mas bombachas, botas e camisa branca e um lenço branco de seda no pescoço (como bom republicano). Tinha a pele morena, queimada de sol e um sorriso tão radiante que iluminava tudo à sua volta.
Virei getulista no ato. Para escândalo da minha família que apoiava o Brigadeiro Eduardo Gomes (totalmente sem graça). Torcia pelo queremismo. As notícias sobre o movimento eram veiculadas pelas emissoras de rádio e pelo Jornal Nacional, exibido no inicio das sessões de cinema. Havia inclusive uma música (de Haroldo Lobo e Marino Pinto) cantada por Francisco Alves cujo refrão dizia assim “Bota o retrato do velho meu bem, bota no mesmo lugar” e completava “o sorriso do Velhinho faz a gente trabalhar.” O trabalho havia sido a tônica da ditadura (1930-1945) e os trabalhadores urbanos os grandes beneficiários de sua política social.
Em de três de outubro de 1950 o antigo Ditador foi eleito por voto direto com 48% do total. Ele voltou à Caxias para inauguração do Monumento do Imigrante, em 28 de fevereiro de 1954. Assistiu ao desfile da Festa da Uva (de terno) e percorreu os pavilhões que então ficavam entre as ruas 20 de setembro e a Bento Gonçalves (onde hoje está o Zaffari).  O sucesso daquela Festa foi enorme, tendo sido prorrogada, em vez de terminar em 28 de março, se prolongou até 18 de abril. O evento naquele ano durou 51 dias. Isso  lhe rendeu  o apelido de a Festa da Uva interminável
Em 24 de agosto daquele ano mesmo ano o Presidente se suicidou. O Brasil parou. Jornais e empresas antigetulistas foram queimados Foi a primeira e a última vez que chorei por um político. Nunca mais Caxias teve uma Festa assim, nem um presidente como Vargas. Com certeza, não se fazem mais políticos como ele, nem Festas da Uva como aquela.
Loraine Slomp Giron – Historiadora
Twitter: @loslomp Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/




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