Meu
pai era um homem inteligente. Ensinou-me muitas coisas, a principal delas foi a
dúvida. Segundo ele não se deveria acreditar em nada. Duvidar de tudo era o
principio, e só depois só tomar uma decisão. Na verdade o que ele me ensinou foi a negação hegeliana. Assim, aprendi
dialética (pela duvida), desde criança, sem saber realmente o que era. Outra coisa ele que me
ensinou foi não olhar para o passado. Ao escolher a história neguei seu
conselho.. Ainda assim, guardou velhos documentos e gravuras trazidas da
Áustria (Trento) por seu avô. Assim guardou até morrer a imagem da família de
Francisco José, imperador da Áustria e uma gravura do Monte Bondone que guarda a
cidade de Trento. Muitos descendentes de imigrantes execravam o passado!Outros
dele nunca falavam. Assim muitas
histórias se perderam.
De
uma forma geral, os imigrantes aprenderam a esquecer do passado. Dura foi a perda do lugar de nascimento, , por muitos anos guardaram
calados o luto pela pátria perdida. O
luto é a dor da perda de algo ou alguém querido. Quem já o passou por ele sabe
o que significa. Assim, ensinaram seus filhos a olhar para frente e não para
trás para evitar o sofrimento das lembranças. Outros, na Itália tinham problemas
com a justiça, calar era preciso. Alguns desses princípios ensinados se mantiveram
no tempo, não olhar para o passado parece ser um deles. O resultado é a sua
destruição!
Vi
com tristeza a destruição de várias casas históricas. Faz pouco derrubaram a casa de Dona Sabina Pessin. A casa construída
por Vicente Rovea, em 1928, era uma sobrevivente da antiga Caxias. As casas de
madeira de três ou quatro pavimentos eram comuns na cidade de ontem. Não sobrou nenhuma! Foram proibidas as
construções de madeira no centro da Cidade por causa dos incêndios. O perfil da
cidade mudou por força da lei, antes de madeira depois de material.
No
centro da cidade os melhores exemplos da arquitetura colonial foram tombados
literalmente sem dó nem piedade, algumas pelo poder público e outras com seu
aval. Lembro-me de algumas: o cine Ópera, o Ideal e a Casa Raabe. Em seu lugar
foram construídos pavorosos prédios, que só servem para entristecer. Teria
bastado um pouco de boa vontade dos proprietários, e esses e outros marcos da
história regional ainda estariam de pé.
Mas
voltando ao passado. Basta verificar na colônia as magníficas casas de pedra,
que foram demolidas ou passaram a servir de estábulo ou galpão. Não sei se a questão é a do passado ou a do lucro.
Creio que é o segundo!Como disse Voltaire: ‘Quando se trata de dinheiro, os homens (e os caxienses )todos
tem a mesma religião’. Ou não?
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