Antigamente
(nem tão assim) as pessoas falavam. Falar era um dos passatempos favoritos. Poderia
ser reclamar, elogiar, brigar e fofocar. Era uma sociedade nominalista ,onde tudo
era verbalizado. E como!Como só havia rádio as novelas eram faladas. Assim
mocinhos e mocinhas tinham belas vozes e os malvados pavorosas. Era não só a
era do rádio, era a era da fala.
Uma
das artes principais de então era a de contar histórias (ou causos).As visitas em geral eram sempre
bem vindas,pois novas histórias seriam contadas, da vida cotidiana. Dos
vizinhos, dos seus mal e bem feitos, tudo era transformado em palavras. Algumas
eram historias deliciosas, outras escabrosas e havia as de terror. Dessas que
ainda me lembro.
Havia
contadoras de história notáveis lembro-me de duas a Baixinha e a Cegonha. A
Baixinha era do campo suas histórias eram sempre engraçadas (ainda que
trágicas) contadas com aquela forma particular dos gaúchos onde as coisas têm
alma e movimento. Dona Iraci dos Reis era a rainha dos causos. Neles as coisas
eram mais vivas que as pessoas. Ela chegava na hora do chá ( em casa havia esse
costume) em geral servido as quatro horas, com tudo que havia de bom em casa.Aquilo que no
campo chamam de mistura. Depois do chá vinham as histórias. Sempre
começadas assim “Será que já contei a historia da Zuleide?” Logo saia uma
sátira deliciosa, ao contar a história seus olhos se iluminavam. Eram crônicas
do campo. Pena que não as recolhi, apenas as usufrui. Eram a um tempo tétricas,
fesceninas e muito engraçadas.
Já
a Cegonha como era conhecida Dona Clélia Sebben,parteira e comadre de minha mãe
era de Milão, serviu na Grande Guerra (1914-1918),
como enfermeira . Era tão morena que parecia mais africana do que italiana. Suas histórias eram
diferentes das da Baixinha. Eram ligadas à procriação e ao sexo, sabia dos
segredos de muitos e as contava num português tão carregado de erres e zes,que
parecia outra língua. A Cegonha baixava a voz e desfiava longas e escabrosas
histórias de incestos e de sexo. Era a crônica dos desvios morais da colônia.
Depois de ouvi-la ficava difícil acreditar na santidade dos imigrantes.
Havia
muitas outras cronistas de seu tempo entre as quais havia a Dona Nair Cesa, que
contava coisas do campo, (sob a ótica da colônia), pois, lá viveu muito tempo. Mas havia muitas outras
mestras na arte de contar histórias. Não sei se o costume continua no campo e
na colônia. Hoje, na cidade as pessoas
tem menos tempo e vagar para ouvir histórias De certa foram as
novelas da TV de certa forma as substituíram. Nas são longas e tediosas.
Nessa
coluna tentei me basear na forma como eram contadas as velhas histórias. Com um
enredo claro e com um final moral, usando palavras simples. Como as antigas
fábulas que nada mai. Hoje, na
cidade as pessoas tem menos tempo e
vagar para ouvir histórias s são do que historias do passado. Elas conseguem o impossível simplificar o complexo e enriquecer o insosso.Mas
a velha arte é difícil de ser imitada!
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