sábado, 1 de fevereiro de 2014

FIDÉLIA

Na Caxias antiga os homens mandavam. Enquanto  na colônia as mulheres tinham função e poder, na cidade as mulheres  tinham apenas a  função da reprodução e  o trabalho do lar. Quando a idade fértil passava, as empregadas faziam o trabalho  e os filhos cresciam, para elas nada restava .Havia apenas  a síndrome do ninho vazio.Em geral recolhiam-se à suas casas, saindo apenas para ir a igreja.Naqueles tempos o luto era comum. As mulheres se vestiam de preto e os homens usavam apenas uma fita negra na manga, chamada de fumo.  Até no luto havia discriminação! Como sempre havia mortes nas famílias, as mulheres mais velhas viviam em eterno luto.
Enquanto elas murchavam e sofriam com a solidão ,eles saiam cada vez mais. Os ricos fechavam os cabarés (prostíbulos) e davam grandes festas. Mantinham jovens (teudas e manteudas) e passavam dias e noites com elas. Hoje isso já não acontece. (será mesmo?) Por outro lado as saídas tinham que ser protegidas por belas desculpas e havia muitas. Para os homens maduros o jogo de cartas era a melhor delas, tanto para as saídas como para os gastos. Mas havia outras desculpas: viagens de negócios, reuniões tardias, enfim, um rosário de mentiras.
Um vizinho, ao chegar à idade do lobo, (quando os conflitos da meia idade são amenizados pelas aventuras) tinha encontros diários com o com ‘jogo’. Todas as madrugadas podia-se ver estacionando o carro, depois das noitadas. Sua mulher era um anjo, gentil, bonita e boa dona de casa, nunca reclamava das andanças noturnas do marido, que.segundo ela. tinha um só  defeito o jogo no Clube .
 Algum dia poderá ser feito um estudo dos verdadeiros cassinos, que funcionam nos clubes da cidade. Como o Clube ficava a menos de duas quadras da sua casa, ficava difícil justificar o uso do carro. Mas ele tinha suas desculpas, o frio, o calor e a bronquite, tudo servia. Seu vicio real não era o jogo ,mas uma  jovem cor de cuia ,com a qual passava as noites.Algumas vezes, os dois  frequentavam restaurantes e boates ( hoje baladas) longe do centro ,onde não eram  conhecidos.
Passados alguns anos, de muita alegria, numa bela noite, o vizinho morreu na cama de sua amada. A jovem apavorada chamou um taxi, ( ambulância não havia) para leva-lo ao Hospital .Então o caso  veio a luz. Foi um escândalo geral. Surgiram dezenas de explicações para a sua morte.
Só a esposa não se escandalizou, atribuiu às fofocas as versões para morte do marido. Como sempre, só ela acreditava na fidelidade do marido. Continuava  elogiando. Um dia uma vizinha mais atrevida resolveu comentar com ela a morte do marido, ela lhe deu uma resposta lapidar: ”Se ele me traia, não é motivo para que eu agora traia sua memória. “Portou-se como a deusa  romana  Fides .Irretocável!

Loriane Slomp Giron Historiadora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário