Na
Caxias antiga os homens mandavam. Enquanto na colônia as mulheres tinham função e poder,
na cidade as mulheres tinham apenas a função da reprodução e o trabalho do lar. Quando a idade fértil
passava, as empregadas faziam o trabalho
e os filhos cresciam, para elas nada restava .Havia apenas a síndrome do ninho vazio.Em geral
recolhiam-se à suas casas, saindo apenas para ir a igreja.Naqueles tempos o
luto era comum. As mulheres se vestiam de preto e os homens usavam apenas uma fita
negra na manga, chamada de fumo. Até no
luto havia discriminação! Como sempre havia mortes nas famílias, as mulheres mais
velhas viviam em eterno luto.
Enquanto
elas murchavam e sofriam com a solidão ,eles saiam cada vez mais. Os ricos
fechavam os cabarés (prostíbulos) e davam grandes festas. Mantinham jovens (teudas
e manteudas) e passavam dias e noites com elas. Hoje isso já não acontece. (será
mesmo?) Por outro lado as saídas tinham que ser protegidas por belas desculpas
e havia muitas. Para os homens maduros o jogo de cartas era a melhor delas, tanto
para as saídas como para os gastos. Mas havia outras desculpas: viagens de
negócios, reuniões tardias, enfim, um rosário de mentiras.
Um
vizinho, ao chegar à idade do lobo, (quando os conflitos da meia idade são amenizados
pelas aventuras) tinha encontros diários com o com ‘jogo’. Todas as madrugadas podia-se
ver estacionando o carro, depois das noitadas. Sua mulher era um anjo, gentil, bonita
e boa dona de casa, nunca reclamava das andanças noturnas do marido, que.segundo
ela. tinha um só defeito o jogo no Clube
.
Algum dia poderá ser feito um estudo dos
verdadeiros cassinos, que funcionam nos clubes da cidade. Como o Clube ficava a
menos de duas quadras da sua casa, ficava difícil justificar o uso do carro. Mas
ele tinha suas desculpas, o frio, o calor e a bronquite, tudo servia. Seu vicio
real não era o jogo ,mas uma jovem cor
de cuia ,com a qual passava as noites.Algumas vezes, os dois frequentavam restaurantes e boates ( hoje baladas)
longe do centro ,onde não eram conhecidos.
Passados
alguns anos, de muita alegria, numa bela noite, o vizinho morreu na cama de sua
amada. A jovem apavorada chamou um taxi, ( ambulância não havia) para leva-lo
ao Hospital .Então o caso veio a luz.
Foi um escândalo geral. Surgiram dezenas de explicações para a sua morte.
Só
a esposa não se escandalizou, atribuiu às fofocas as versões para morte do
marido. Como sempre, só ela acreditava na fidelidade do marido. Continuava elogiando. Um dia uma vizinha mais atrevida
resolveu comentar com ela a morte do marido, ela lhe deu uma resposta lapidar: ”Se
ele me traia, não é motivo para que eu agora traia sua memória. “Portou-se como
a deusa romana Fides .Irretocável!
Loriane
Slomp Giron Historiadora.
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