domingo, 30 de março de 2014

A GLORIOSA


             Há cinquenta anos aconteceu o Golpe de 1964, conhecido como a Revolução Gloriosa, ou a Gloriosa para os íntimos. Foi um dos muitos golpes que aconteceram no Brasil desde o Golpe de 1889, que instituiu  a República .
            Em geral, os golpes são chamados de revoluções. É um engano pois, revolução é uma coisa e golpe é outra. O que é revolução? A palavra vem do latim revolutìo,ou seja, o ato de revolver, significa uma mudança radical do poder político-econômico e da organização de uma sociedade .Não é por acaso que a palavra revolver tem a mesma origem. Segundo Marx quando as relações de produção transformam-se em grilhões, ocorre então uma época favorável à revolução social. Em geral se baseia na revolta popular contra um estado de coisas adverso. Foi assim na Revolução Francesa e na Russa e na Americana.  
            Já golpe é outra coisa. A palavra tem sua origem no latim vulgar e significa pancada ou bofetada. Não visa mudar nada, antes, ao contrario busca derrubar um governo constitucionalmente legítimo. Os golpes de estado podem ser violentos, e em geral, correspondem aos interesses de uma minoria. Não precisam do apoio popular,  embora este tipo de ação normalmente só triunfe quando tem esse  apoio .Quantos golpes de estado teve o Brasil? Pelos meus cálculos foram cinco. Alguns com 20 ou mais anos de duração e outros muito curtos. O mais curto?O que depôs Fernando Collor. Foi golpe sim!O mais longo? O golpe de 1964.
A Gloriosa (não deveria ser chamada de o Glorioso?) foi um golpe contra o governo constitucional de João Goulart, que resolveu fazer algumas reformas de base. Tais reformas não agradaram à burguesia, a principal das quais era a reforma agrária.
            Durante o Golpe de 64 foram cometidos todos (mesmo) ataques possíveis às instituições democráticas A Gloriosa retirou os direitos básicos dos cidadãos, terminou com os partidos políticos e com o instituto do habeas corpus. Os brasileiros eram considerados culpados se não estivessem de acordo com seus princípios, os quais não eram conhecidos. . Os inimigos do poder deveriam assim provar sua inocência, já que o Governo garantia apenas sua culpa sem qualquer comprovação. Sem falar nos assassinatos. Para os saudosos da ditadura (e são muitos) gostaria de lembrar que não há nada mais perverso do que a ausência de um estado de direito, onde vigora o arbítrio e o terror. Segundo Jorge Luis Borges (um dos viúvos da ditadura Argentina) “As ditaduras fomentam a opressão, as ditaduras fomentam o servilismo, as ditaduras fomentam a crueldade; mas o mais abominável é que elas fomentam a idiotia.” Eu acrescento as ditaduras fomentam a autocensura, e o pior dos males que instituem o pensamento único, ou seja, a negação do livre pensar divergente e criativo. Mais do que tudo, criam palermas e capachos, seres sem espinha dorsal, ou seja, vermes, que a tudo se submetem.·Há coisa mais repelente do que as lesmas? .
Loraine Slomp Giron Historiadora



sábado, 22 de março de 2014

SOBRE A ESCRAVIDÃO


 A escravidão não acabou de todo, pois, ainda continua o tráfico humano. Mas a escravidão africana na América  acabou em 1888. O Brasil foi o último país a libertar os escravos e  os Estados Unidos em 1865.
No Oscar desse ano um filme causou sensação 12 anos de escravidão, que mereceu vários prêmios. O filme retoma o tema  cerca de oitenta  anos depois de O vento levou , que trata da abolição sob a ótica  da Guerra da Secessão. O filme12 anos de escravidão se baseia em fatos reais de um homem livre que foi vendido como escravo. Solomon Northup contou sua história a um jornalista  que a escreveu usando  falar  dele. O livro de igual nome escrito em 1853 fez grande sucesso na época. O presidente Obama ao tomar conhecimento da sua existência mandou imprimir e distribuir nas escolas. Se fosse feito aqui seria a maior gritaria, mas lá tudo bem! Assim, Hollywood prestou um serviço à Nação ao redescobrir as memórias de Solomon.
Tenho lido a literatura e a historiografia sobre a escravidão desde que comecei a estudar, mas, nunca tinha lido nada semelhante ao relato de Northup, onde a voz do escravo que voltou a ser liberto doze anos depois se faz ouvir. A narrativa do livro é bem mais cruel do que a do filme, mais crua e detalhada. Leitura obrigatória para historiadores. Do filme foram expurgados vários episódios, amenizando um pouco os fatos. Especialmente em relação a reconquista da liberdade Ainda assim  é um filme único e portanto  imperdível.
No Brasil não são raros  os casos  de homens livres vendidos como escravos,entre eles Manuel Congo no Rio Grande do Sul. Aprisionado ao desembarcar de um navio, em Capão dos Negros (próximo de Capão da Canoa) e vendido como escravo nos Campos de Cima da Serra. O processo de concessão da sua liberdade levou anos para ser julgado, depois de livre tomou o nome de Manuel de Paula.
Outro homem livre que se tornou escravo foi Luiz da Gama vendido por seu próprio pai para pagar dividas de jogo. Filho de pai branco e de mãe negra foi autodidata e o único abolicionista a ter passado pela experiência da escravidão, dedicou sua vida na defesa da liberdade e da república, morreu sem ver seus ideais  realizados. Daria um grande filme, pois Gama foi um dos maiores líderes da Abolição. Aqui como nos Estados Unidos poucos são os filmes que tratam do penoso tema. Ao que tudo indica, ainda há certo preconceito em tratar da escravidão. De qualquer modo é bom saber que há homens que como Lincoln que  afirmou  “Aqueles que negam liberdade aos outros não a merecem para si mesmos.”

Mas, infelizmente no mundo em que se vive “A liberdade é defendida com discursos e atacada com metralhadoras”. “Como cantou o poeta maior dos poetas brasileiros Carlos Drummond de Andrade”.

domingo, 16 de março de 2014

ROUBO OU TRANSFERÊNCIA?



 Quando eu era bebe havia um costume na minha família o de colocar dinheiro na poupança em nome do recém-nascido. Assim quando meus avós paternos colocaram duzentos mil reis na minha poupança, a mesma quantia foi posta pelos meus padrinhos de batismo. A quantia era apreciável, cerca de quinhentos reais.
O dinheiro ficou esquecido da década de 1930 até a de 1970. Em 1972 fiz uma pequena reforma em minha casa e precisei de dinheiro , fui na Caixa Econômica e descobri que tinha a espantosa quantia de 12 cruzeiros novos.  Como alguns devem se lembrar, havia a inflação e reformas da moeda. A primeira foi a de 1000 mil réis para 1 Cruzeiro, nova unidade monetária instituída em 1942. A segunda foi reforma foi de 1967, na qual mil cruzeiros passaram a valer 1 Cruzeiro Novo.
Ora o dinheirinho na minha conta passou de 500 mil réis para 5 cruzeiros. Ou seja uma redução de um milhar. Quem ficou o lucro de tal operação? Os Bancos é claro, que sabiam das reformas. Como sempre, povo foi lesado,
Mas a máquina de repassar o dinheiro dos pobres para os ricos não terminou ai. Em 1986 foi criado o Cruzado que passou a valer 1000 cruzeiros houve outras reformas monetárias. Quem se lembra do Cruzado Novo de 1989, que valia 1000 cruzados, e Cruzeiro que virou Cruzeiro Real, em 1990 mais 1000 de desvalorização monetária. Lembram-se da cassação das poupanças? O povo teve seu dinheiro retido, mas não os ricos que sabiam da tramoia.  Finalmente veio o milagroso real que repassou d 2.700 cruzeiros reais para 1 Real.
Quanto desvalorizou nossa moeda de 1986 até hoje? A bagatela de 2700.000.000.000.000, ou seja, nada menos que 2,7 trilhões de vezes. Meus cálculos não fazem a conversão real, limita-se apenas a contar os zeros retirados da moeda do dia a cada reforma. Segundo cálculos encontrados na Internet nossa moeda de 1940 a 1994 desvalorizou em 0,000000000000000000000363636 Gostaram? Pois, muito menos eu.
Por alguns milhões de reais passados ao povo faminto pelo tesouro federal (e não de seus bolsos) as pessoas se revoltam, mas nunca vi movimentos contra o roubo sofrido pelas reformas monetárias. Alguém viu?Pois é...
Como bem afirmou Marx, o Estado é o petit comite da burguesia, e mais, (digo eu) o governo é o concessionário dos partidos. Como diz Adam Smith “É injusto que toda a sociedade contribua para custear uma despesa cujo benefício vai a apenas uma parte dessa sociedade.  
Porque ninguém se revolta com  essa falcatrua ? O que pensam os leitores?


Loraine Slomp Giron Historiadora

O PODER DO TEMPO


O tempo é tão importante que os gregos tinham um deus chamado Cronos, que para os romanos se chamava Saturno. Era um dos titãs  filho  do Céu ( Urano) e da Terra (Gaia) Ele castrou seu pai e pela morte  de cada um dos seus filhos,que comia logo que nasciam . Zeus um de seus filhos conseguiu engana-lo e se tornou o senhor o Olimpo. Só vencendo o tempo é possível se tornar deus e  imortal. Mas o tempo não é só um deus, é resultado da Terra no espaço, e de forma inevitável mata todos os seus filhos que vivem nesse espaço.
O tempo é tão importante que para marcar seu poder a Inglaterra tornou-se dona do meridiano inicial, ou meridiano de Greenwich. Em 1884 a Grã Bretanha possuía o império colonial do mundo ,assim pode impor aos demais países a  sua proposta de divisão dos fusos .Na  Conferência Internacional do Primeiro Meridiano, realizada em  Washington(USA) Estados Unidos. Foi aceita a teoria de Fleming. (senador do Canadá), que propunha um sistema internacional de fusos horários. Para tanto a terra foi dividida em 24 faixas verticais (ou fusos horários) com a duração de uma hora, ou seja, com 15 graus. A longitude 0° passaria pelo Observatório Real de Greenwich, a partir dos quais os fusos seriam demarcados, aumentando uma hora para cada fuso a Leste e reduzindo uma hora para Oeste. A 180º (A Leste) se situava o Antimeridiano, (Oceano Pacífico) chamado Linha Internacional de Data. Antes desta data todos os pais definia seu horário a partir do Sol no Zenith. Determinar o tempo mundial é um grande poder.
Mas o tempo tem outros poderes Hegel ao tratar das ordens sociais (classes) afirma que os agricultores são servos do tempo (meteorológico), pois a plantação e a qualidade de seus produtos dele dependem. Diz mais por causa dessa dependência os agricultores tendem a ser mais submissos e conservadores. Já a ordem industrial não depende do tempo já que ela o domina. Não disse que é o tempo que a enriquece. Mas é o que acontece.
Segundo Adam Smith rico é o homem que pode comprar a força de trabalho do outro. O salário passa a ser calculado por hora. Um exemplo bem simples serve para clarear a diferença. Se para pagar um professor são necessários dez alunos, se ele da aula para cinquenta alunos, o pagamento de quarenta alunos fica para o proprietário da escola. Isso foi chamado por Smith de valor trabalho e por Marx de mais-valia, que é uma só e mesma coisa. Outro exemplo, se numa jornada de trabalho um operário produz mil peças e para paga-lo bastam cem, as outras novecentos ficam com o dono da empresa.
Daí os vários provérbios sobre o tempo como “O tempo é dinheiro” ou "Nada se faz sem tempo". Assim o tempo que come seus filhos (pela morte de cada um) enriquece alguns e exaure a maioria dos outros Aprendam há gastar seu tempo com um pouco de divertimento. Pois devem pensar que ‘Sic transit gloria mundié (“Assim passa a glória do mundo”.), ou seja, a única coisa permanente no mundo do tempo é a sua transitoriedade, nada mais.


BODE EXPIATÓRIO





Entre os judeus havia um costume, o de separar um animal do rebanho, em geral um bode, deixando-o solto no deserto, carregado dos pecados de todos.  Esse era chamado de bode expiatório. Ele se tornava responsável pelos pecados  do restante da população, que assim se livrava deles. Esse costume ganhou espaço na cultura judaico cristã.
Em geral, os homens fogem de sua responsabilidade, transferindo a culpa para algo ou alguém. Logo após a  Segunda Guerra tudo o que acontecia no mundo era culpa  dos japoneses e dos alemães. Assim nos filmes, nos seriados e até os sermões da Igreja eram eles os bandidos culpados pelos problemas do mundo, apesar de ser uma época de guerra mundial onde os homens de muitas nações se matavam. Como os comunistas da URSS faziam parte dos Aliados deles não se falava.
Terminada a Guerra o grande bandido passou a ser o comunismo e os comunistas. Assim, tudo o que acontecia no mundo era por culpa deles. Tudo o que dava errado no Brasil era de sua responsabilidade: greves, desordens e problemas. Como o responsável era conhecido era atacado e os verdadeiros responsáveis ficavam satisfeitos. Os baixos salários ou os problemas de segurança não contavam, os culpados eram sempre os comunistas.
Durante a ditadura,, no Brasil o grande representante do mal foi Leonel Brizola. Acusado de tudo o que acontecia desde a guerrilha até o assalto aos bancos. Alguém se lembra do Grupo dos 11, responsável por todo o mal.  Ao que indica seria m mortos muitos pais,  segundo o que se dizia Brizola  pretendia realizar uma chacina . Com o fim da Guerra Fria e a queda do muro (1989) era preciso encontrar novo responsável pelos mal feitos. Logo se achou os árabes (iraquianos) e Sadam Hussein. Depois, outros mais foram encontrados como Osama Bin Laden.Sempre um bode novo.

No Brasil novo bode foi encontrado o Partido dos Trabalhadores. Nas capas das revistas apareciam caricaturas do Sapo Barbudo, apelido dado a Lula por Delfim Neto (?). Assim graças à propaganda enganosa o Brasil elegeu o Caçador de Marajás, um dos maiores equívocos nacionais. Pois bem o tempo passou e o Sapo Barbudo foi eleito presidente, desde então há um novo inimigo a combater no caso o PT. Segundo parece tudo o que acontece atualmente no Brasil é por culpa desse Partido. As falcatruas políticas que todos cometeram (e cometem) ficam restritas a ele. Assim fica fácil viver, pois enquanto se acusa o culpado do dia os outros podem descansam em paz com seus próprios erros e falcatruas. Fica fácil acusar o outro pelos próprios erros. Por falar nisso quem é mesmo seu bode expiatório?