sábado, 14 de junho de 2014

RECREIO DAS MARRECAS

          

  Alguns políticos são muito criativos. Ninguém como eles para inventar leis e artimanhas. Desvio de verbas é com eles, bem como o aumento do custo das obras. Outra coisa  em que são especializados é em inaugurar obras inacabadas. Basta ver quantas vezes foi inaugurada a Rota do Sol, que levou setenta anos para ser construída e o Hospital Geral que levou apenas quarenta anos. Nesse tempo foram inauguradas várias vezes, desde a pedra fundamental até a conclusão. Não vou fazer uma pesquisa sobre o assunto, mas se não me falha a memória, foram seis vezes inauguradas. O gosto pelas inaugurações mereceria um estudo. Deve ser algo relacionado com o gosto pela exposição pública do próprio ridículo. São os selfies do far niente!
            A mais recente dessas inaugurações fictícias é a da represa das Marrecas, que ainda não funciona. Há muito que contar sobre ela. Até agora, tem servido como parque temático das aves que lhe dão o nome. Poderá no futuro servir como área de lazer para o caxienses andarem de pedalinho. Diga-se de passagem, a mais milionária das áreas de recreação já construídas. Por que não funciona? Ora são as bombas, ora são os encanamentos. Vai saber!Enfim, as infindáveis desculpas e pretextos tão bem conhecidos.  Inaugurada com certeza ela está. Logo poderão fazer a inauguração de cada bomba, ou de cada cano colocado. Haverá assim motivos para a alegria geral! Não foi feito assim na Rota do Sol, onde cada viaduto foi inaugurado?
Quem vive tanto como eu, pensa que já viu tudo. Ledo engano! Sempre se aprende mais e mais. Pois, os seres humanos não imbatíveis na arte de enganar. Lembro-me da história do velho que estava morrendo. Como a família era pobre e não tivesse dinheiro, faltou à vela que se costumava para colocar na mão dos moribundos. Não tendo outro jeito, algum gaiato da família, pegou no fogão (a lenha é claro) uma acha acessa e a colocou na mão do velho. Então ele disse suas últimas e lapidares palavras: ”Morrendo e aprendendo”. Esta é uma historia muito antiga e sábia. Na verdade nunca é tarde aprender.
Sugiro aos políticos da cidade que tenham mais cuidado com as inaugurações e com as verbas públicas. Não faria mal, que tivessem um cuidado especial com as palavras, para que os seus eleitores não se sintam palhaços e deixem de votar neles. Parece é isso que os eleitores são para os luminares dirigentes! Como disse George Orwell (1984) e eu gostaria que estivesse errado:A linguagem política, destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável, bem como a imprimir ao vento uma aparência de solidez”. Não é bem posto?


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