Eu
morro e não vejo tudo. Vivo e aprendo com fatos novos, nem sempre
gratificantes. Elza nasceu no ano do inicio da Primeira Guerra. Era saudável e bonita,
tinha 23 anos e ainda estava solteira. Onde
ela morava no interior de Caxias eram raros os possíveis noivos. Havia muitos
viajantes. Na década de trinta, alguns viajantes se hospedavam na casa de
comércio de seus pais, que oferecia pernoite. Foi assim que Elza conheceu um
rapaz e por ele se apaixonou. Os viajantes eram famosos por seus muitos amores.
Como os marinheiros tinham um amor em cada lugar. Festejados por onde passavam, traziam as
novidades de outros lugares, além de novos produtos.
Foi
numa dessas visitas, não se sabe nem onde nem quando, que ela engravidou. O
viajante sumiu e nunca mais voltou À gravidez se adiantou, impossibilitando o
aborto. A descoberta de tal fato abalou a família. Esconder o estado da jovem
era difícil numa localidade tão pequena,mas fechada em casa, completou o tempo
de gestação. O nascimento foi uma superprodução. Parte da família levou a
gestante para Santa Casa de Misericórdia, na capital, aonde deu a luz a um
menino, que logo foi dado à adoção. Voltando para casa sem o filho, a jovem
deve ter sofrido com desespero por ser obrigada a ficar separada dele.
Logo
os pais começaram a pensar no futuro de sua filha ‘desonrada’. O casamento com
um motorista interessado na filha logo foi arranjado. As condições que não
tinham dado ao neto deram-nas ao pretendente.
Logo se casaram e tiveram muitos filhos Do filho dado à adoção nunca mais
se falou. Apenas alguns comentários esparsos davam a entender que algo de sério
tinha ocorrido.
Fico
pensando o que levou os avós da criança, católicos bons, a entregarem um neto
de seu próprio sangue para outros criarem. Não era a falta de condições
materiais, uma boca entre tantas não faria muita diferença. Era o medo do que
os outros diriam. Era maior o temor do falatório, do que amor pela filha,
condenada que foi ao sofrimento. Naqueles tempos a opinião dos outros era mais
importante do que bondade. Tal ação não impediu que os protagonistas morressem em odor
de santidade.
O que fazer? A verdade é relativa como diz
Nietzsche: “A verdade e a mentira são construções que decorrem da vida do
rebanho e da linguagem que lhe corresponde. O homem do rebanho chama de verdade
aquilo que o conserva no rebanho e chama de mentira aquilo que o ameaça e o
exclui do rebanho.” Nada há o que julgar, os protagonistas dessa história
(real) agiram de acordo com as normas do rebanho!
Nenhum comentário:
Postar um comentário