segunda-feira, 23 de março de 2015

DO OUTONO






Hoje de manhã cedinho vi as primeiras folhas amarelas voando pelo chão. È o outono que chega! Acho o outono a mais bela das estações, pela luz e sombra, pelo grande contraste entre ambas. Pelas temperaturas amenas e por ser uma estação intermediária entre o extremo calor do verão e o frio do inverno. Tudo que é intermediário é agradável. Igual à áurea mediocridade dos gregos. No meio termo a sabedoria!
Os fatos desagradáveis se esquecem de acontecer no outono.  As plantas começam a adormecer e aprofundam suas raízes no solo úmido. Até as chuvas parecem mais doces. Caem devagar sem ruídos ou raios. Por outro lado o Sol aos poucos vai se deitando e seu calor se esfuma como as névoas matutinas. Tudo suave perfeito demais. Nem fatos históricos relevantes acontecem nesta estação. Basta fazer um pequeno levantamento. Quando ocorreram os grandes fatos históricos? No inverno e na primavera. Mas, foi no outono que aconteceu o Golpe de 1964 mais precisamente em1º de abril!
Esperando o outono, o movimento de domingo chegou bem organizado, com milhares de pessoas caminhando nas ruas das cidades contra o governo e contra a corrupção. Tal fato só poderia acontecer em tempos de democracia. Creio que foi o maior movimento até hoje realizado na cidade. Tudo muito democrático! Foi comovente ver os mais ricos desfilando e bradando contra a roubalheira. Antes eram apenas os mais pobres que gritavam nas ruas.  ! Em tempos férreos não haveria desfiles contra o governo, nem de ricos, nem de pobres.
 Por falar no movimento de domingo (águas de março) teve de tudo um pouco: cantores, animadores, fantasiados e até carro de som, seria por acaso da infraestrutura de alguma outra festa? Da sua organização participaram vários poderes  o  dirigente, o  dominante  e o hegemônico  unidos para o sucesso. Todos concorreram para o êxito da festa!Sem esquecer os amigos do Norte que  colaboraram e vibraram com os feitos destes  seletos brasileiros .
Lembro-me de Adam Smith, o padroeiro do liberalismo, que diz: é muito mais fácil organizar os patrões do que os operários, porque são em menor número e tem os mesmos objetivos. Esqueceu-se de dizer ainda que com bastante  dinheiro pode se organizar  golpes e passeatas !Foi ele que disse também que:A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes.” Mas disso poucos se lembram e,pelo jeito ,muitos temem . 
Mas voltando ao outono, que deu origem à reflexão de hoje. Destaca-se que os mais duros filósofos e escritores a ele se rendem. Diz Camus :”Outono é outra primavera, cada folha uma flor.”  E Nietzsche :”Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza.” E por fim Baudelaire: “Eis que alcancei o outono de meu pensamento”. Infelizmente, poucos alcançam tal outono!
Loraine Slomp Giron  Historiadora


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