A cidade está à mercê dos gatunos.
Em cada loja há um caso de roubo. Numa ótica vizinha, homens bem vestidos
carregaram todos os óculos do mostruário e trancaram a proprietária no
banheiro. Por falar em roubos, eles se tornaram uma constante em tempos de
crise, tanto é, que muitas lojas tem trabalhado com portas trancadas. Só
atendem os compradores com cara de honestos, o que não é fácil distinguir!
Num mundo de especialização até (ou principalmente) os ladrões se tornaram especialistas. Há os gatunos de bolsas, os ladrões de bancos (esses tem doutorado em roubos), os ladrões de drogas e de joias. Em geral uns não invadem o terreno dos outros.
Falando com um joalheiro amigo, fiquei sabendo de quatro assaltos que sua loja sofreu nos últimos cinco anos. Trata-se de uma empresa central e tradicional cujo nome não vem ao caso. Ladrões especializados limparam as vitrines das joias, outros esvaziaram o cofre e prenderam o dono no banheiro. Enfim, assaltos completos, para ninguém botar defeito. Na joalheria os prejuízos foram altos e a recuperação das perdas nunca será conseguida. A joalheria tem mais de 60 anos de idade até então não tinha sido assaltada.
Após o roubo a história fica mais chocante. O caso não se resume aos assaltantes, diga-se de passagem, conhecidos da polícia. Há a continuação do assalto, um assalto em dois tempos. Havia na joalheria muitas joias para conserto, cerca de cinquenta clientes que tiveram-nas levadas no assalto.
Os honestos clientes com grande volúpia atiraram-se sobre o pobre comerciante exigindo pagamentos superiores ao valor das joias subtraídas. Aproveitando o roubo os clientes procuraram ganhar mais. O comerciante foi duplamente assaltado de um lado pelos ladrões e de outro pelos nem tão honestos clientes.
As joias com o roubo, na avaliação de seus donos triplicaram de valor, por exemplo, uma corrente de doze gramas passou a ter trinta e seis gramas. Apenas um dos clientes não agiu desta maneira desonesta, o que corresponde a menos de 1% deles.
Lembrando o velho Machado: “A ocasião não faz o ladrão, faz o roubo. O ladrão já nasce feito.” Tão ladrão é o que rouba como aquele que mente que foi lesado. A honestidade é tão difícil de encontrar que parece não existir. Diógenes filosofo grego, andava pelas ruas carregando uma lanterna, "procuro um homem" dizia ele, que vivesse segundo a sua essência, sem exterioridades exigidas pelas convenções sociais. Ele procurava um homem honesto. Segundo conta a lenda, ele nunca o encontrou. Na Bíblia, Jeremias afirma que se fosse encontrado um só homem honesto a cidade de Jerusalém teria sido poupada. Jerusalém foi destruída. Pelo jeito, também a honestidade era coisa rara. Depois acusam o governo, poupem-me!
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