DILÚVIO
DE LÁGRIMAS
Nova Vicenza em 1926,Cinema Central ficava ao lado da Casa Fetter, |
Os
italianos não são melhores do que os outros povos em matéria de artes. Afinal o
que eles têm? Um ou outro Dante, na poesia; um ou outro Ítalo Calvino, na
literatura; um Da Vinci na pintura e um Miguel Ângelo na escultura. Possuem ainda alguns pensadores como Giordano Bruno ,Galileu
Galilei, Maquiavel e Gramsci na
filosofia e na política. Enfim, nada que não possa ser
igualado por outros povos.
Em
tempos de eleições, fujo do tema política , dedicando-me às lembranças
não muito sentimentais do passado
.Vamos ao passado. Uma pessoa importantíssima
para mim foi meu tio Willy Fetter, na verdade meu avô adotivo. Ele era dono de um
cinema em Farroupilha. Ficava num prédio de madeira, na Rua Júlio de Castilhos.
Quando eu ia passar as férias na casa da minha tia todas as noites minha prima
e eu, íamos ao cinema com ele. Assim pude ver velhos filmes clássicos, os
lançamentos dos desenhos de Walt Disney e os péssimos seriados que faziam dos
alemães e dos japoneses os bandidos do mundo. Voltávamos para casa tarde
comentando as peripécias do filme que tínhamos visto. Meu tio era um ser especial: tocava violão (chorinhos),
fumava palheiro, era luterano, lia policiais e tinha uma boa biblioteca. Com ele
perdi os antolhos. Muito cedo, entendi a diferença entre católicos e protestantes,
assisti a belos cultos e passei a ler a Bíblia (protestante no caso).
Seu
avô alemão tinha lutado nas guerras sulinas do século XIX, e recebeu terras do governo, como outros soldados
prussianos engajados no recém criado exército nacional. Ele guardava com
carinho as suas armas, seus livros e o telescópio. Em tempos de caça às bruxas
o que restou de seu avô foi confiscado. A destruição das suas lembranças pela polícia, me fez perceber
como os homens e a política podem ser
injustos. Meu tio era o mais brasileiro de todos e mais artista que muitos, nunca
falou em política, só em livros e em filmes. Os anos passaram meu tio morreu,
mas não a minha saudade.
Mas
voltando aos italianos. Em 1988, assisti ao filme Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore. Nunca chorei tanto, nunca
mesmo, creio que de saudades do cinema e do meu tio. Tornatore não é nenhum Fellini, apenas
o mais sensível dos cineastas italianos. Como poucos lida com vestígios do passado.Há pouco vi pela televisão outro de
seus filmes Baaria ( de 2009) .Onde retrata as lutas dos comunistas italianos
contra o fascismo e a máfia na Sicilia. O filme é autobiográfico, Bagheria
é sua cidade natal., onde foi filmado O
Poderoso Chefão. O filme recupera o outro lado da história da cidade. Nem só de
máfia, nem de fascismo vive a Itália Há ainda as lutas sindicais, a reforma
agrária e o ideal da igualdade que vigoraram na Itália no pós guerra.A crítica
não gostou, danem -se os críticos. Comovente é o adjetivo que lhe cabe.
Recomendo! Realmente, os italianos podem
não ser os melhores, são apenas imbatíveis
Nenhum comentário:
Postar um comentário