quinta-feira, 13 de setembro de 2012


DILÚVIO DE LÁGRIMAS


Nova Vicenza em 1926,Cinema Central ficava ao lado da Casa Fetter,

Os italianos não são melhores do que os outros povos em matéria de artes. Afinal o que eles têm? Um ou outro Dante, na poesia; um ou outro Ítalo Calvino, na literatura; um  Da Vinci na  pintura e  um Miguel Ângelo na escultura. Possuem ainda  alguns pensadores como Giordano Bruno ,Galileu Galilei, Maquiavel e Gramsci  na filosofia  e  na política. Enfim, nada que não possa ser igualado por outros povos.
Em tempos de eleições, fujo do tema política , dedicando-me  às lembranças  não muito sentimentais  do passado .Vamos ao passado.  Uma pessoa importantíssima para mim foi meu tio Willy Fetter, na verdade meu avô adotivo. Ele era dono de um cinema em Farroupilha. Ficava num prédio de madeira, na Rua Júlio de Castilhos. Quando eu ia passar as férias na casa da minha tia todas as noites minha prima e eu, íamos ao cinema com ele. Assim pude ver velhos filmes clássicos, os lançamentos dos desenhos de Walt Disney e os péssimos seriados que faziam dos alemães e dos japoneses os bandidos do mundo. Voltávamos para casa tarde comentando as peripécias do filme que tínhamos visto.  Meu tio era um ser especial: tocava violão (chorinhos), fumava palheiro, era luterano, lia policiais e tinha uma boa biblioteca. Com ele perdi os antolhos. Muito cedo, entendi a diferença entre católicos e protestantes, assisti a belos cultos e passei a ler a Bíblia (protestante no caso).
Seu avô alemão tinha lutado nas guerras sulinas do século XIX, e recebeu  terras do governo, como outros soldados prussianos engajados no recém criado exército nacional. Ele guardava com carinho as suas armas, seus livros e o telescópio. Em tempos de caça às bruxas o que restou de seu avô foi confiscado. A destruição das  suas lembranças pela polícia, me fez perceber como os homens  e a política podem ser injustos. Meu tio era o mais brasileiro de todos e mais artista que muitos, nunca falou em política, só em livros e em filmes. Os anos passaram meu tio morreu, mas não a minha saudade.
Mas voltando aos italianos. Em 1988, assisti ao filme Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore. Nunca chorei tanto, nunca mesmo, creio que de  saudades do cinema  e do meu tio. Tornatore não é nenhum Fellini, apenas o mais sensível dos cineastas italianos. Como poucos lida  com vestígios do   passado.Há pouco vi pela televisão outro de seus  filmes Baaria ( de 2009) .Onde  retrata as lutas dos comunistas italianos contra  o fascismo e a máfia  na Sicilia. O filme é autobiográfico, Bagheria  é sua cidade natal., onde foi filmado O Poderoso Chefão. O filme recupera o outro lado da história da cidade. Nem só de máfia, nem de fascismo vive a Itália Há ainda as lutas sindicais, a reforma agrária e o ideal da igualdade que vigoraram na Itália no pós guerra.A crítica não gostou, danem -se os críticos. Comovente é o adjetivo que lhe cabe. Recomendo!  Realmente, os italianos podem não ser os melhores, são apenas  imbatíveis
Loraine Slomp Giron    Twitter: loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/


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