ROSINHA
Recorte de quadro de C. Monet.Não é ,mas poderia ser Rosinha. |
Naqueles
tempos de ingenuidade havia estranhos costumes. Nos domingos depois da missa,
na Praça havia o footing. Era um
passeio das meninas, na calçada fronteira ao Cinema Central, entre as ruas Dr.
Montaury e Marquês do Herval. Os rapazes ficavam parados nos bancos ou
encostados nas árvores. Raramente um se aproximava. Ainda assim alguns se
consideravam namorados, só de olhar. Era um rito muitíssimo esquisito. Mas
havia outros.
Era no meu tempo de colégio São José. Então, havia
dois tipos de meninas, as que eram e as que não eram mocinhas, assim eram
chamadas as púberes de então. Diziam que Rosinha foi a primeira a virar
mocinha. Com certeza eu fui a última. Terminei o ginásio e nada. Tal fato era
motivo de deboche.
Ela
era a mais requisitada de todas as garotas, vivia em bailes e boates (naquele
tempo existiam só as de Clubes). Seu pai era gerente de um banco e a família viera
de fora, de Passo Fundo, tinham outros hábitos. Como era namoradeira era muitíssimo
mal falada.As minhas colegas e eu entre elas, sentíamos um pouco de inveja dela,
sempre bem arrumada , tão desinibida, tão
livre, mas tão galinha ( assim se dizia).
Naquele
tempo os meninos (pois eram muito novos) tinham outro costume, de literalmente
correr atrás das meninas. Dois ou três guris tinham a mania de correr atrás de
mim, da escola até em casa. Eu saia do colégio e vinha aquele trio ou duo.
Entrava no portão de casa correndo e me escondia, com raiva e medo. Um dia pedi
para meu primo que era um guri por que eles faziam aquilo. Ele não explicou, mas
me aconselhou a pegar um pau de vassoura e bater neles. Achei um conselho muito
bom. Foi o que eu fiz, nem uma, nem duas,
mas todas as vezes que apareciam aqueles débeis mentais na minha frente. Enfim,
depois de muito bater pararam de me perseguir.
Um
dia Rosinha me chamou de lado e disse que eu estava sendo falada. Segundo a voz
popular, eu era louca de atar. Disse-me que meninas não agem assim, são
boazinhas com os meninos. Mas o que eu tinha feito fora feito e muito bem feito
Nem
bem terminara o ginásio Rosinha casou. Dizia a voz a do povo que estava
grávida. Não sei se era verdadeiro o boato. Pouco depois foi embora de Caxias e
nunca mais soube dela. Séculos depois, em Porto Alegre meu filho foi colega de
uma de suas filhas na PUC. Ela
continuava casada (no terceiro marido) e sempre boazinha. Ela contou à filha
que se lembrava de mim, pois louca. Eu custei a me lembrar dela, pois boazinha.
Como o mundo é pequeno.
Loraine
Slomp Giron
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