sexta-feira, 21 de setembro de 2012


ROSINHA

 Recorte de quadro de  C. Monet.Não é ,mas poderia ser Rosinha.


Naqueles tempos de ingenuidade havia estranhos costumes. Nos domingos depois da missa, na Praça havia o footing. Era um passeio das meninas, na calçada fronteira ao Cinema Central, entre as ruas Dr. Montaury e Marquês do Herval. Os rapazes ficavam parados nos bancos ou encostados nas árvores. Raramente um se aproximava. Ainda assim alguns se consideravam namorados, só de olhar. Era um rito muitíssimo esquisito. Mas havia outros.
 Era no meu tempo de colégio São José. Então, havia dois tipos de meninas, as que eram e as que não eram mocinhas, assim eram chamadas as púberes de então. Diziam que Rosinha foi a primeira a virar mocinha. Com certeza eu fui a última. Terminei o ginásio e nada. Tal fato era motivo de deboche.  
Ela era a mais requisitada de todas as garotas, vivia em bailes e boates (naquele tempo existiam só as de Clubes). Seu pai era gerente de um banco e a família viera de fora, de Passo Fundo, tinham outros hábitos. Como era namoradeira era muitíssimo mal falada.As minhas colegas e eu entre elas, sentíamos um pouco de inveja dela, sempre  bem arrumada , tão desinibida, tão livre, mas  tão galinha ( assim se dizia).
Naquele tempo os meninos (pois eram muito novos) tinham outro costume, de literalmente correr atrás das meninas. Dois ou três guris tinham a mania de correr atrás de mim, da escola até em casa.   Eu saia do colégio e vinha aquele trio ou duo. Entrava no portão de casa correndo e me escondia, com raiva e medo. Um dia pedi para meu primo que era um guri por que eles faziam aquilo. Ele não explicou, mas me aconselhou a pegar um pau de vassoura e bater neles. Achei um conselho muito bom.  Foi o que eu fiz, nem uma, nem duas, mas todas as vezes que apareciam aqueles débeis mentais na minha frente. Enfim, depois de muito bater pararam de me perseguir.
Um dia Rosinha me chamou de lado e disse que eu estava sendo falada. Segundo a voz popular, eu era louca de atar. Disse-me que meninas não agem assim, são boazinhas com os meninos. Mas o que eu tinha feito fora feito e muito bem feito
Nem bem terminara o ginásio Rosinha casou. Dizia a voz a do povo que estava grávida. Não sei se era verdadeiro o boato. Pouco depois foi embora de Caxias e nunca mais soube dela. Séculos depois, em Porto Alegre meu filho foi colega de uma de suas  filhas na PUC. Ela continuava casada (no terceiro marido) e sempre boazinha. Ela contou à filha que se lembrava de mim, pois louca. Eu custei a me lembrar dela, pois boazinha. Como o mundo é pequeno.
Loraine Slomp Giron

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