quinta-feira, 25 de abril de 2013

TUDO QUE EU SABIA...




Sem sombra de dúvida, Walter Benjamin foi uma das mais lúcidas mentes humanas. Na Tese I sobre a filosofia da história, descreve um autômato constituído por um boneco que poderia vencer todas as partidas de xadrez.  O simulacro de computador imaginado por Benjamin era uma fraude. Na verdade, um anão corcunda, mestre de xadrez estava sentado debaixo do boneco, e, era ele quem controlava as jogadas.
 A ciência caminha a partir de experimentos e de hipóteses, e, muitas vezes  o que valia ontem, já não vale hoje. Pois, a ciência como os homens é falível. Mas há ciências e Ciências. Há aquelas que seguem e as que são seguidas. Como em tudo no mundo há Cientistas e cientistas. Se eu não tivesse continuado a estudar (por conta) desde o fim do ensino médio, de ciência eu não saberia  nada. Pois, tudo, ou quase tudo que eu estudei foi revisto e aquilo que era “dogma” passou a valer nada.
Poucas são as ciências que não mudaram. Creio que a  que  menos  mudou  foi a matemática. A física, a astronomia, a química e especialmente a biologia ganharam uma nova visão e deram nova feição a explicação do mundo, do universo e do homem.
A grande ciência hoje parece ser a neurociência, filha da psicologia e  da biologia. Se os neuros cientistas como Michael Gazzaniga(*1939, Universidade da Califórnia ) e Jerry Doyle( *1942 ,Universidade de Chicago) estiverem certos,  os homens não possuem liberdade de escolha e o livre arbítrio morreu. Hoje a neurociência  afirma que  a vontade humana é dirigida por um sistema  cerebral automático,portanto,  que o livre-arbítrio não existe. O homem seria como o boneco de Benjamin controlado pelo anão, no caso  o hemisfério direito do cérebro,ou seja ,um teleguiado  que não pode ser responsabilizado  por seus atos. Posto isto, toda uma linhagem de pensadores de Santo Agostinho a Skinner deveriam ser ignorados, pois acreditavam na liberdade de pensamento. Afinal, sem liberdade o caminho é traçado por um  autômato!
.Sem a existência do  livre arbítrio  ,seria  preciso   mudar  não só o pensamento humano, como  suas instituições sociais (em especial  sistema de justiça) pois os homens deixariam de ser  responsáveis por seus atos. È possível que os neuros cientistas estejam certos (ou não), nesse caso o mundo viraria de cabeça para baixo. Deveriam ser pensadas novas leis e novos códigos. Os  criminosos deveriam ser punidos com  apenas uma lobotomia( fim dos presídios) .
Ainda bem que as explicações da ciência (como tudo no mundo) são  transitórias! Logo novas teorias surgirão. Não se pode  esquecer que já  foi dogma( de fé )e da ciência  que o Sol girava em torno da Terra? Não há como negar a ciência (como  o homem) é falível!
Loraine Slomp Giron Historiadora



quinta-feira, 18 de abril de 2013


BANG BANG NA  PRAÇA



Era uma manhã de veranico de maio, de sol morno, e de muita atividade na Praça Dante na pequena cidade de Caxias. Eram pouco mais de 8, 30 horas da manhã, do dia sete de maio de 1927,. A cidade tinha pouco mais de 20 mil habitantes, nela circulavam 218 automóveis e 87 caminhões. No mês anterior houvera um incêndio (criminoso) na Casa Comercial Salatino, falava-se que era para esconder a falência recém-decretada. O Intendente Celeste Gobato preocupava-se com a situação,pois, no   distrito de São Marcos,  ocorrera no cartório local outro incêndio criminoso.
 Dante Marcucci (que depois seria interventor e prefeito da cidade) era gerente da casa comercial de Adelino Sassi, sita na esquina da Júlio de Castilhos com a Dr. Montaury. Ele se dirigia para o trabalho,quando chegou defronte do Banco Nacional do Comércio (situado do outro lado da rua da casa Sassi) foi abordado pelo jovem José Joaquim Teixeira de Oliveira, funcionário do Banco Popular. Os dois trocaram algumas palavras, e logo, nove tiros foram disparados. Cinco por José e quatro por Dante.
O tiroteio teve causas desconhecidas, alguns afirmavam que era por causa de mulher. Afinal a cidade sempre foi (e é) conhecida pelas suas fofocas. Os três semanários da cidade, noticiaram que a causa teria sido   uma nota  escrita por Marcucci, a favor da exibição de  documentário de propaganda fascista do governo de Benito Mussolini, cuja estreia  estava prevista para o  cinema Central. Havia então uma campanha contra a exibição do documentário, liderada por nacionalistas locais.   Marcucci   teria  agredido verbalmente os promotores dessa campanha. José Joaquim  que dela fazia parte,  teria se sentido agredido, pelas  palavras de Marcucci.
Como resultado do  bang bang  na Praça,  Marcucci foi internado no hospital do Dr. Rômulo Carbone (hoje Arquivo Histórico Municipal),com um tiro no abdômen. Oliveira se apresentou na Delegacia, sendo após liberado por habeas corpus. Marcucci ficou internado no Hospital por mais de um mês, sendo jovem se salvou. Naqueles tempos sem antibióticos eram longas as temporadas passadas nos hospitais.
O chamado atentado teve grande destaque nas notícias.  Sobre o incidente, cabem algumas questões: Por que ambos estavam armados e sacaram os revolveres ao mesmo tempo?  Será que era necessário portar armas em pleno sábado de manhã, na pequena Caxias?Não sei a resposta.
Em 11 de junho de 1927, teve início o processo contra Oliveira, defendido por Demétrio Niederaurer, advogado e proprietário do jornal O popular.  Oliveira (de abastada família de Santa Maria) foi absolvido por legítima defesa. Naquele mesmo mês foi incendiado o Cine Apollo e desmantelada uma fábrica de moedas falsas. Caxias parecia ser  uma cidade violenta.

quarta-feira, 10 de abril de 2013



A  VIOLÊNCIA E SUAS CAUSAS

pistola
Ouvi na Rádio Caxias, que em proporção á sua população, Caxias tem mais homicídios do que São Paulo. Nem sempre foi assim. Para entender de crimes há que entender de homens e de  sua sociedade.
Lembro que nos primeiros tempos do povoamento da Vila (de 1890 a 1910) havia menos diferenças sociais do que hoje,  então, os crimes eram poucos .Um levantamento nos arquivos da Brigada, feito por Manoelito Savaris (então aluno de História )revelava o tipo de contravenções que então ocorriam . Os crimes eram poucos. Havia pequenas contravenções, como por exemplo, de animais de um vizinho  invadindo o terreno de outro.
Entre 1910 e 1930, também a violência, não era muito grande. Foram registrados alguns incêndios criminosos, alguns enfrentamentos políticos e poucos homicídios. Esses, em geral, tinham como causa disputas de terras, em geral invasões de limites. Na região não se mata por amor.  Que eu conheça, há apenas um crime, do qual não encontrei registro. Um grande crime por motivos raciais, ocorreu em 1924, em Galópolis .
Hoje fica difícil fazer um levantamento das causas dos crimes e das  contravenções. Tenho acompanhado as notícias das rádios e dos jornais, que só apresentam deles causas supostas. Ou seja, o que aparentemente poderia ter ocasionado o assassinato.
Ao que tudo indica, levando em conta os motivos alegados cheguei a conclusão que a grande causa dos crimes de morte na cidade são decorrentes do tráfico de drogas, que parece corresponder ao maior percentual. Os demais crimes têm causas diversas. Alguns são decorrentes de brigas entre amigos (por causa da bebida), outros são enfrentamentos suspeitos entre’ polícia e bandido’. Os crimes por amor continuam sendo poucos, e que, na verdade, nem chegam a ser por amor, são crimes pela manutenção da propriedade do ente dito querido. Os homens matam por abandono e mulheres para se livrar da opressão. Na verdade, é a velha luta pelo poder doméstico.
Em Caxias há poucos latrocínios. Os ladrões em geral só roubam, mas não matam. Em geral são roubos setorizados entre os quais: os de bancos, os de lojas, os de casas e os de carros. Que eu saiba aqui nunca houve grandes  assassinos, ou serial killers.Tudo muito pequeno.  O que falta é um estudo sério para definir as reais causas (e não as alegadas) da criminalidade local. Só conhecendo as suas causas é que poderá ser combatida. Em geral tem causas sociais. Ainda assim, onde existem homens há crimes e contravenções, não há como evitar!
Loraine Slomp Giron Historiadora Twitter:@loslomp


quinta-feira, 4 de abril de 2013



UM HERÓI CAXIENSE



A Segunda Guerra deixou marcas na cidade. Por motivos políticos algumas famílias se separaram. Em alguns casos, as brigas duraram até o fim de suas vidas. Mães se desesperaram com a convocação de seus filhos. Foi um período turbulento que aos poucos vai sendo esquecido.
Em Caxias, os pracinhas que lutaram na Guerra (1939-1945),foram lembrados pela Prefeitura Municipal ,que   os homenageou construindo um Museu e  um Centro Cívico, em 1976.Em 1997 ,foi erigido  um pequeno monumento  em honra aos 121 pracinhas da região que combateram na Itália, entre 1944 e 1945. Muitos deles já morreram, mas há os que estão vivos. Um deles é Alberto Arioli.
 Alberto Arioli  é o autor de  Cabedelo: a Odisseia de uma vida,lançado em 2012  pela Quatrilho Editorial . É uma publicação esmerada com fotos da época totalmente inéditas (um CD  acompanha o livro). Na verdade é um livro raro, pois, são poucas as memórias sobre a Segunda Guerra poucos pracinhas deixaram suas lembranças por escrito. Ao contrário daqueles que lutaram contra a ditadura de 1964, que foram prolíferos memorialistas.
 Há memórias de pracinhas preservadas através de gravação em arquivos históricos,no Arquivo de Caxias há muitas delas.  Tais testemunhos são em geral dispersivos e superficiais. Não há como negar que é difícil se concentrar diante de estranhos  e de um gravador. Bem mais centradas são as memórias preservadas em livros.
No livro, Arioli  conta sua vida e seus feitos  na luta ,traz dados que são difíceis de encontrar  em outras  publicações, como a relação dos 33 navios brasileiros afundados durante o conflito , bem como as notícias sobre as batalhas nas quais o Brasil participou.
Caxias entra na história como bem percebe o autor “Estou sendo o personagem, mas a cidade também.” È uma cidade  que poucos tem lembrança.   
A viagem à Itália, realizada no navio General Meighs, durou 15 dias. No qual , era  servida apenas uma refeição por dia, A comida era tão  pouca, que todos chegaram muito magros ao fim da viagem.  O livro traz  outros  fatos que são desconhecidos. Fatos que não são conhecidos pelos professores de história, que, por sinal, esquecem o papel do Brasil na Guerra e de seus defensores. Li a obra de um só fôlego. Pelo muito que traz de novo sobre o último conflito mundial, com certeza,  Cabedelo merece ser lido.
Loraine Slomp Giron
 Historiadora Twitter: @loslomp Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/