CRIME
EM GALÓPOLIS
Mais
comum do que assassinato de ricos é o de pobres. Em geral, quando é morto um
pobre, as causas são sempre as mesmas: brigas, bebida ou tráfico de drogas.
Merece apenas uma nota na página policial, nada mais. Já os crimes que envolvem
ricos e famosos dão IBOPE. Não há nada que dê tanta manchete como sexo, fama e
dinheiro Basta citar os casos de PC Farias e de Bruno entre outros. Caxias não
foge a essa regra, mesmo em tempos de antanho.
Nos
idos de 1933, o assassinato de Orestes Manfro ocupou a primeira página do Caxias Jornal por mais de mês. Ele dirigia
o Lanifício São Pedro desde 1925, ao mesmo tempo ocupava o cargo de subdelegado
de polícia. Orestes Manfro era rico, de família
proeminente, maçom e membro do Partido Republicano Liberal. Ocupou cargos na
administração municipal. Enfim, tinha fama local.
O
lugarejo onde ficava o Lanifício era conhecido como Il Profondo,por ser um vale em garganta.Mudou de nome com a morte
de Galló,quando recebeu o nome Galopólis
em sua homenagem. Hoje é dos raros exemplos brasileiros de preservação (ainda
que precária) de uma vila industrial. Quando seu antigo proprietário Èrcole Galló
morreu,em 1928, a família Chaves Barcellos comprou a parte da
empresa que pertencia à sua família. Manfro continuou na administração.
Falava-se, a boca pequena, que Manfro empregava só brancos e italianos e não negros
ou mulatos, Gostaria de destacar que estou usando termos de então, que hoje são
considerados ofensivos.
João de Deus Oliveira tinha 26 anos, viera de Bom Jesus para
Galópolis em busca de emprego. Era muito pobre, conseguiu algum trabalho como diarista,
mas não o emprego fixo que desejava. Tendo procurado inutilmente emprego,
chegando a falar com o diretor do
Lanifício. Afirmava que não havia sido contratado por ser mulato e brasileiro. Às
oito horas, de uma manhã fria e nevoenta, no dia sete de junho de 1933, João de
Deus esperou escondido atrás de um eucalipto a passagem de Manfro ,no seu caminho habitual para o
trabalho. Quando o empresário passou por ele, o apunhalou. Ainda vivo foi socorrido
por operários, levado à sua casa, logo morreu. João de Deus segundo O Caxias pegou suas coisas e pela estrada
real e foi embora. Foi capturado em primeiro de julho em Rodeio de Areia (Ararangua),
preso e condenado.Ele não recebeu nenhum respeito (nem dúvida) do jornal,
foi apontado como assassino perigoso, descarado e de sangue frio. Nada mais
fácil, do que acusa-lo e condena-lo.
Desde então, muitas coisas
mudaram na sociedade com novas leis punindo o racismo. Hoje, o desfecho poderia
ser outro. Possivelmente, se João de Deus tivesse a quem recorrer não teria se tornado
assassino. O Jornal por outro lado seria passível de condenação por racismo. Talvez
até a vítima sofresse punição por sua ação racista. Nada como o tempo para mudar os costumes e o direito!
Nada como um crime para revelar o
preconceito e a ideologia da sociedade em determinado período .
Loraine Slomp
Giron Historiadora .
Nenhum comentário:
Postar um comentário