quarta-feira, 22 de maio de 2013


CRIME EM GALÓPOLIS


Mais comum do que assassinato de ricos é o de pobres. Em geral, quando é morto um pobre, as causas são sempre as mesmas: brigas, bebida ou tráfico de drogas. Merece apenas uma nota na página policial, nada mais. Já os crimes que envolvem ricos e famosos dão IBOPE. Não há nada que dê tanta manchete como sexo, fama e dinheiro Basta citar os casos de PC Farias e de Bruno entre outros. Caxias não foge a essa regra, mesmo em tempos de antanho.
Nos idos de 1933, o assassinato de Orestes Manfro ocupou a primeira página do Caxias Jornal por mais de mês. Ele dirigia o Lanifício São Pedro desde 1925, ao mesmo tempo ocupava o cargo de subdelegado de polícia.  Orestes Manfro era rico, de família proeminente, maçom e membro do Partido Republicano Liberal. Ocupou cargos na administração municipal. Enfim, tinha fama local.
O lugarejo onde ficava o Lanifício era conhecido como Il Profondo,por ser um vale em garganta.Mudou de nome com a morte de Galló,quando  recebeu o nome Galopólis em sua homenagem. Hoje é dos raros exemplos brasileiros de preservação (ainda que precária) de uma vila industrial. Quando seu antigo proprietário Èrcole Galló morreu,em 1928, a  família Chaves Barcellos comprou a parte da empresa que pertencia à sua família. Manfro continuou na administração. Falava-se, a boca pequena, que Manfro empregava só brancos e italianos e não negros ou mulatos, Gostaria de destacar que estou usando termos de então, que hoje são considerados ofensivos.
João de Deus Oliveira tinha 26 anos, viera de Bom Jesus para Galópolis em busca de emprego. Era muito pobre, conseguiu algum trabalho como diarista, mas não o emprego fixo que desejava. Tendo procurado inutilmente emprego, chegando a  falar com o diretor do Lanifício. Afirmava que não havia sido contratado por ser mulato e brasileiro. Às oito horas, de uma manhã fria e nevoenta, no dia sete de junho de 1933, João de Deus esperou escondido atrás de um eucalipto a passagem de  Manfro ,no seu caminho habitual para o trabalho. Quando o empresário passou por ele, o apunhalou. Ainda vivo foi socorrido por operários, levado à sua casa, logo morreu. João de Deus segundo O Caxias pegou suas coisas e pela estrada real e foi embora. Foi capturado em primeiro de julho em Rodeio de Areia (Ararangua),  preso e condenado.Ele  não recebeu nenhum respeito (nem dúvida) do jornal, foi apontado como assassino perigoso, descarado e de sangue frio. Nada mais fácil, do que acusa-lo e condena-lo.
 Desde então, muitas coisas mudaram na sociedade com novas leis punindo o racismo. Hoje, o desfecho poderia ser outro. Possivelmente, se João de Deus  tivesse a quem recorrer não teria se tornado assassino. O Jornal por outro lado seria passível de condenação por racismo. Talvez até a vítima sofresse punição por sua ação racista.  Nada como o tempo para mudar os costumes e o direito! Nada como um crime para  revelar o preconceito e a ideologia da sociedade em determinado  período . 
Loraine Slomp Giron   Historiadora .
Twitter :loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/.



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