quarta-feira, 15 de maio de 2013


NEM TODAS QUEREM...


Há na cidade um cartaz imenso ( outdoor ) com os dizeres “todas as meninas querem ser rainha da Festa da Uva.”Ora, por incrível que pareça eu já fui menina,mas, nem nos meus sonhos mais loucos pensei em ser rainha da Festa da Uva.
Na verdade, eu queria ser rainha sim, mas da Inglaterra. Era o tempo em que as princesas Elizabeth e Margareth Rose ocupavam as páginas das revistas e dos jornais. Eram lindas e loiras com seus cabelos encaracolados, tinham uma casinha (um pequeno castelo) na qual podiam entrar e brincar. Essa foi a imagem da minha vida. Hoje, tem o mesmo destaque que elas Kate e Willian e seu futuro bebê. A propaganda é a alma do negócio e a monarquia inglesa sempre foi especializada em autopromoção, seja em casamentos, nascimentos, comemorações, mortes e em fatos ou em fatóides.
Perguntei a meu pai se poderia ter uma casinha igual a das princesas, ele me respondeu que não, pois, ele não era rei da Inglaterra! Perguntando aqui e lá fiquei sabendo que uma das  princesas  seria rainha da Inglaterra. Então, decidi o que eu queria mesmo era ser rainha da Inglaterra. Durante dias inteiros insisti no meu projeto. A partir de então quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse respondia: “Quero ser rainha da Inglaterra.” As pessoas riam e eu não entendia o porquê . Até meus pais que eram de pouco riso, riam de minha ideia estapafúrdia.
Eu tinha apenas quatro anos, mas minhas ambições eram grandes. Foi meu tio Willy que era  quem mais me ensinava, que me disse que eu não poderia ser rainha da Inglaterra, explicando como era feita a sucessão  do trono ( não nesses termos ,é claro ) e eu entendi a besteira!
 Dai tomei nova decisão queria ser padre. Pois eu queria falar no púlpito (naquele tempo era usado) para que todos me ouvissem. Na minha casa meu auditório era mínimo. Quando mudei meu projeto, os risos não foram menores. Por incrível que pareça eu não estava fazendo graça, queria mesmo ser padre. Dessa vez foi minha mãe que me informou que só os homens poderiam ser padres. Não deu outra, peguei emprestadas as roupas de meu primo ( na verdade meu irmão) e comecei a treinar para ser homem. Naqueles tempos de inocência eu pensava que era suficiente mudar de roupas para mudar de sexo. Dessa vez foi minha irmã mais velha (que me ensinou a ler), que me alertou para a diferença entre os sexos ,não de forma clara ,mas metafórica.Falou-me que faltava para as meninas  uma pecinha que os homens tinham e as meninas não. Mais tarde descobri o que me faltava( ou não).Quando chegou na minha casa a Enciclopédia Jackson, meu maior amansa burro.
Mas, de qualquer forma, quando fiquei mocinha, nem assim me passou pela cabeça ser rainha da Festa da Uva. Como tantas outras mocinhas de ontem e de hoje não fiquei atraída pelo título. Por esse motivo a afirmação do cartaz me irritou ao usar todas. Se há uma coisa que aprendi na vida, não se deve fazer afirmações taxativas como: sempre, nunca ou todos .São formas de cair facilmente em erro. Relativizando-as, as afirmações  se tornam menos passíveis de erro. Para não fazer propaganda enganosa aconselho aos promotores da Festa da Uva que mudem o cartaz, pois, nem todas as meninas querem ser rainha! Disso tenho certeza!
Loraine Slomp Giron    Twitter: loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/


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