quarta-feira, 12 de junho de 2013

 GREVE DOS PATRÕES

 

Há um livro magnífico Pesos e Medidas de Ítalo João Balen (clássico da literatura caxiense) que narra em versos (em dialeto e português) a revolta dos comerciantes locais contra as determinações legais de aferir os pesos e medidas de seus estabelecimentos. No inicio do século XX eram usadas balanças que tinham dois braços ,num dos deles  eram colocados pesos e no outro o produto a ser pesado Havia ainda medidas, ou seja,  metros para medir tecidos  e recipientes para medir líquidos. Segundo Balen,a maioria deles  era fraudada,o quilo poderia pesar 700 gramas , o metro oitenta centímetros e  uma  tara de quatro litros poderia conter três.Mas de qualquer forma era típico de então(só de então ?) tentar enganar os fregueses   e  o fisco.
 Quando eu digo que Caxias é engraçada, tenho razão, o Iotti que o diga. Não sei se já aconteceram greves de empresários em outros lugares, mas em Caxias sim. Só poderia ocorrer em Caxias, fato raro nos anais dos movimentos paredistas  nacionais.
Getúlio Vargas como ninguém atendeu as necessidades dos trabalhadores, com leis e medidas que contemplassem suas lutas, como o salário mínimo, aposentadorias e pensões,o  que onerou demais os patrões.Mas ,ainda assim, buscava contemplar as exigências dos patrões, o que não era fácil. Para manter o equilíbrio na difícil tarefa  teve que conter gastos  e implementar  a  cobrança fiscal. Fiscais do imposto de consumo e do imposto de renda passaram a atuar  com mais rigor junto às empresas industriais e comerciais do Brasil.
            A chegada dos fiscais ao município de Caxias acarretou pânico entre os patrões locais, nem sempre cônscios de suas obrigações. O desespero se instalou, pois nada é mais sério do que ser lesado no bolso.  Um empresário se suicidou e os outros não sabiam como proceder para afastar o perigo. Optaram por uma assembleia geral da Associação dos Comercantes, convocada para o dia três de agosto de 1936. Nela, ficou decidido que o comércio e a indústria fechariam seus estabelecimentos, até que as autoridades dessem solução ao problema da cobrança do fisco. Além da greve a Assembleia decidiu enviar telegramas para as autoridades federais e estaduais e aos órgãos de classe.
A greve continuou até o dia 5 de agosto. Na noite desse dia realizou-se nova assembleia na qual compareceram cerca de mil associados, bem como o Delegado Fiscal e o chefe do Imposto de Renda. Nela ficou decidido manter a greve até o dia seguinte, às doze horas. Na manhã seguinte foi realizada uma reunião na Prefeitura Municipal, que resultou em nada, pois, não atendeu as soluções pretendidas.     
O governo optou apenas pela  substituição dos fiscais. Por outro lado, o Delegado afirmou que eles tinham agido de forma correta e  que seus atos estavam baseados nos dispositivos legais Sua a missão era executar as leis fiscais, autuando os infratores, para julgamento das infrações verificadas. Decidido isso, não havia o que fazer, os estabelecimentos foram reabertos.
A greve revelou o poder de organização do grupo, demonstrando por outro lado que os empresários estavam afastados das decisões econômicas nacionais. Apesar de terem dado quantias consideráveis à revolução de 1930! Se os contraventores de hoje fizessem greve, nada funcionaria no país. Bons tempos aqueles, onde os contraventores faziam greve!



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