TALENTO
PARA AS PALAVRAS
As universidades não foram criadas para formar
profissionais, mas para proporcionar um espaço para a reflexão e conhecimento, mais
no sentido teórico do que prático. Poucos iam para as universidades para ser
tipógrafo, telegrafista, médico. Essas
profissões eram apreendidas com outros profissionais do ofício. Houve um tempo
em que, por exemplo, os dentistas apreendiam seu ofício com os dentistas, e as
parteiras com as parteiras Uma coisa era a formação e bem outra da profissão. No
mundo atual os profissionais são formados nas universidades, enquanto o saber
fica em lugar incerto e não sabido.
No
Brasil, o príncipe regente Dom João criou as escolas técnicas de medicina e de direito,
mas não universidades. Apenas no século XX (1912) foram formadas as primeiras
universidades brasileiras. Os portugueses não queriam sábios, mas artífices. O
conhecimento é coisa perigosa, desde os tempos de Eva. Para ser mais
precisa, o mais perigoso de todos. Durante séculos os brasileiros viveram à
revelia do conhecimento, em compensação era o pais dos bacharéis, práticos em
leis .
De
certa forma em algumas áreas do saber voltou-se ao passado, assim qualquer um
pode ser historiador, geógrafo, antropólogo ou jornalista. Sem passar pelo aprendizado
com outros profissionais. Alguns já nascem sabendo, com o profundo orgulho, que
só a ignorância confere. O mesmo não
acontece com os médicos e com os advogados, regidos por leis e associações mais
fortes do os cursos superiores, na atribuição de seus direitos.
Morreu
Jimmy Rodrigues, que até nome de jornalista recebeu no berço. Mestre das
palavras e doutor em comunicação, que nunca frequentou curso
de jornalismo. O primeiro elogio que ouvi sobre Jimmy, foi de Dona Adelaide Rosa,
diretora ou vice da escola Duque de Caxias.
Ela falou que ele tinha futuro com a língua. Então eu era pequena, mas, passados
setenta anos, ainda me lembro da expressão que usou ”Jimmy tem talento para as
palavras.” Creio que o elogio vale para sua vida como comunicador. Só muito
mais tarde comecei a ler suas saborosas crônicas. Trabalhando na Secretária do
Cristovão de Mendonza (recolhida da sala de aula pela Revolução Gloriosa), em
1970, buscando uma ficha para um atestado, encontrei a de Jimmy Rodrigues. Logo
me lembrei do elogio de Dona Adelaide e comprovei que tirara notas máximas em
português. Jimmy vivendo em Caxias, onde durante anos os jornalistas
trabalharam de graça (ou quase) teve de apelar para vários empregos, para
sobreviver. Não podendo se dedicar apenas a seu talento maior o das palavras. O amor
pela língua e o talento não se aprende, esses ,nasceram com ele.
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