quinta-feira, 13 de junho de 2013

TALENTO PARA AS PALAVRAS


 As universidades não foram criadas para formar profissionais, mas para proporcionar um espaço para a reflexão e conhecimento, mais no sentido teórico do que prático. Poucos iam para as universidades para ser tipógrafo, telegrafista, médico.  Essas profissões eram apreendidas com outros profissionais do ofício. Houve um tempo em que, por exemplo, os dentistas apreendiam seu ofício com os dentistas, e as parteiras com as parteiras Uma coisa era a formação e bem outra da profissão. No mundo atual os profissionais são formados nas universidades, enquanto o saber fica em lugar incerto e não sabido. 
No Brasil, o príncipe regente Dom João criou as escolas técnicas de medicina e de direito, mas não universidades. Apenas no século XX (1912) foram formadas as primeiras universidades brasileiras. Os portugueses não queriam sábios, mas artífices. O conhecimento é coisa perigosa, desde os tempos de Eva. Para ser mais precisa,  o mais perigoso de todos.  Durante séculos os brasileiros viveram à revelia do conhecimento, em compensação era o pais dos bacharéis, práticos em leis  .
De certa forma em algumas áreas do saber voltou-se ao passado, assim qualquer um pode ser historiador, geógrafo, antropólogo ou jornalista. Sem passar pelo aprendizado com outros profissionais. Alguns já nascem sabendo, com o profundo orgulho, que só a ignorância confere.  O mesmo não acontece com os médicos e com os advogados, regidos por leis e associações mais fortes do os cursos superiores, na atribuição de seus direitos.
Morreu Jimmy Rodrigues, que até nome de jornalista recebeu no berço. Mestre das palavras e doutor em comunicação, que nunca frequentou   curso de jornalismo. O primeiro elogio que ouvi sobre Jimmy, foi de Dona Adelaide Rosa, diretora ou vice da escola Duque de Caxias.  Ela falou que ele tinha futuro com a língua. Então eu era pequena, mas, passados setenta anos, ainda me lembro da expressão que usou ”Jimmy tem talento para as palavras.” Creio que o elogio vale para sua vida como comunicador. Só muito mais tarde comecei a ler suas saborosas crônicas. Trabalhando na Secretária do Cristovão de Mendonza (recolhida da sala de aula pela Revolução Gloriosa), em 1970, buscando uma ficha para um atestado, encontrei a de Jimmy Rodrigues. Logo me lembrei do elogio de Dona Adelaide e comprovei que tirara notas máximas em português. Jimmy vivendo em Caxias, onde durante anos os jornalistas trabalharam de graça (ou quase) teve de apelar para vários empregos, para sobreviver. Não podendo  se dedicar  apenas a seu talento maior o das palavras.   O amor pela língua e o talento não se aprende, esses ,nasceram  com ele.  
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