Se
há defeito que detesto é o dedurismo. Por sinal não há um bom sinônimo para
dedo duro, podem procurar no dicionário para ver. Delator seria o melhor sinônimo,
mas é uma palavra pomposa, senta para os grandes traidores como Silvério dos
Reis, que delatou a Inconfidência mineira. Delação não é sinônimo de dedurismo,
que é coisa menor parecida com um verme. Alcaguete seria outro termo a ser
usado, mas tem sentido mais restrito. Seu sentido está m geral ligado aos
bandidos que delatam seus companheiros à polícia. Hoje se diz caguete. Mas é
muito feio, não é?
Voltando ao dedo duro, conheci dezenas deles. Fui
premiada com a convivência de muitos deles, duvido muito que alguém não tenha
sido. Em tempos de ditadura o dedurismo era até uma profissão. Eram chamados
agentes disso ou daquilo, mas, na verdade estavam infiltrados para controlar
professores e alunos. Alguns até lecionavam para dar mais credibilidade a seu ‘nobre
‘oficio. E como deduravam!
Um
dos infiltrados se dizia geógrafo especializado sensoriamento remoto, na verdade
não tinha nem o ensino médio, mas, dava aula e levava os imbecis para visitar
seu laboratório, fazia churrascos e visitas aos generais acompanhados pelos
luminares da instituição. Dai recolhia os dados para o repasse. Tinha outra
professora (?) que nem sequer era paga, dedurava por puro prazer. Fazia seu
trabalho sujo em sala de aula apontando para os alunos os comunistas do Curso. Depois
para completar seu trabalho acusava outros colegas de terem dito o que ela
dissera.
Mas
não eram só professores, os alunos faziam também o trabalho sujo de dedurar. Um
deles gravava as minhas aulas e as repassava no quartel. Outro me disse, em
aula, que eu não sabia nada, que tudo o que eu falava era mentira. Quando perguntei
como ele sabia disso, respondeu-me que seu patrão o prevenira sobre minha total
ignorância. Outro coitadinho me disse (em plena sala de aula) que o tenente lhe
havia dito para não acreditar em minhas palavras.
Mas,
como em tudo, a delação também tem duas faces. Para os romanos delatar o mal era
prova de civismo. Ou seja, quem delatava o mal feito era um cidadão exemplar, digno
de todo respeito.
Como
diz Gaspary: "delação premiada” é a conduta de
uma pessoa que, tendo participado de um malfeito, decide colaborar com as
autoridades em busca de alguma leniência. Quem colabora com o poder público não
é um delator, nem a busca da leniência é prêmio. “Será que a delação é uma
qualidade”? Dizem que as
pessoas nos odeiam outros os próprios defeitos, vai lá saber se não sou uma
delatora do passado?