sábado, 9 de novembro de 2013

A OBSENA FOME





Começo com Saramago, portanto, bem acompanhada, diz ele: “Não é a pornografia que é obscena, é a fome que é obscena.” Eis um bom mote para um tema tão excruciante quanto o da fome.
Na Inglaterra, no século XVIII, cada povoado e cada cidade eram responsáveis pelos seus famintos.Os ricos alimentavam os pobres através da Igreja , era chamada Lei dos Pobres. Uma espécie de Fome Zero antetempo. Contra essa lei levantou-se a Economia Política, mais precisamente David Ricardo (1722-1823) e Malthus (1766-1834), segundo eles a culpa da miséria era dos próprios pobres. Ricardo chegou a brilhante conclusão que os pobres são pobres, por serem hiperativos sexualmente. Assim, a  causa da pobreza deveria ser buscada na cama dos pobres.  Os capitalistas não seriam responsáveis nem pela fome nem pala miséria. Maravilha! Com isso ficava resolvida questão. O problema da miséria seria castrar os pobres. Para isso, seria bom um novo Hitler!Outro dos responsabilizados, injustamente é Cristo. Acusado de afirmar que os pobres sempre existirão! Na verdade, essa afirmação é do Deuteronômio (15,11). A Bíblia (e não Jesus) concorda com Ricardo. Assim os cristãos poderiam lavar as mãos como Pilatos, deixando sem remorso o próximo morrer de fome. Já que ninguém poderia  vencer a fome ,o que fazer? Nada!
Outra foi à posição de Josué de Castro (1908-1973), que em 1946 escreveu a Geografia da Fome, um dos livros mais importantes do século XX, traduzido em muitas línguas (não mais reeditado no Brasil). O autor  teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar de 1964. Exilado em Paris lecionou na Sorbonne. Foi um homem adiante de seu tempo. Afirmou ele que a fome é resultado da má distribuição da riqueza, não dos pobres. Uma de suas frases lapidares é: ’ Metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com medo da que não come’.
Nos últimos anos Brasil algo tem sido feito em favor dos pobres, e alguns brasileiros não gostaram disso.  Mas a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) reconheceu o esforço  realizado, tendo premiado no dia 16 de setembro o Brasil, e outros 37 países, por terem reduzido a fome pela metade antes da meta proposta pelas Nações Unidas.. Revela a Organização que no Brasil entre 1992 e 2013, o número de pessoas que passam fome baixou de 22,8 milhões para 13,6 milhões de pessoas.  Para a FAO a redução da fome no Brasil superou a marca de 54%.  Cerca 15% da população brasileira era faminta, a taxa hoje é de para 6,9%. Em números absolutos é uma das maiores reduções do mundo, sendo duas vezes maior do que a média mundial. No mundo, em 1992, havia um bilhão de famintos, hoje, 2013, há 815 milhões. Mas ainda há muitos famintos .Para resolver a questão diz Castro: ‘O que falta é vontade política para mobilizar recursos a favor dos que têm fome’. Aqueles que são contra a tímida justiça social brasileira nunca devem ter passado fome!
Loraine Slomp Giron  Historiadora



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