Começo
com Saramago, portanto, bem acompanhada, diz ele:
“Não é a pornografia que é obscena, é a fome que é obscena.” Eis um bom mote
para um tema tão excruciante quanto o da fome.
Na
Inglaterra, no século XVIII, cada povoado e cada cidade eram responsáveis pelos
seus famintos.Os ricos alimentavam os pobres através da Igreja , era chamada
Lei dos Pobres. Uma espécie de Fome Zero antetempo. Contra essa lei levantou-se a Economia Política,
mais precisamente David Ricardo (1722-1823) e Malthus (1766-1834), segundo
eles a culpa da miséria era dos próprios pobres. Ricardo chegou a brilhante
conclusão que os pobres são pobres, por serem hiperativos sexualmente. Assim, a
causa da pobreza deveria ser buscada na
cama dos pobres. Os capitalistas não
seriam responsáveis nem pela fome nem pala miséria. Maravilha! Com isso ficava
resolvida questão. O problema da
miséria seria castrar os pobres. Para isso, seria bom um novo Hitler!Outro dos responsabilizados,
injustamente é Cristo. Acusado de afirmar que os pobres sempre existirão! Na
verdade, essa afirmação é do Deuteronômio (15,11). A Bíblia (e não Jesus)
concorda com Ricardo. Assim os cristãos poderiam lavar as mãos como Pilatos, deixando
sem remorso o próximo morrer de fome. Já que ninguém poderia vencer a fome ,o que fazer? Nada!
Outra
foi à posição de Josué de
Castro (1908-1973), que em 1946 escreveu a Geografia da Fome, um dos
livros mais importantes do século XX, traduzido em muitas línguas (não mais
reeditado no Brasil). O autor teve seus direitos políticos cassados pelo
regime militar de 1964. Exilado em Paris lecionou na Sorbonne. Foi um homem
adiante de seu tempo. Afirmou ele que a fome é resultado da má distribuição da riqueza,
não dos pobres. Uma de suas frases lapidares é: ’ Metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme,
com medo da que não come’.
Nos
últimos anos Brasil algo tem sido feito em favor dos pobres, e alguns
brasileiros não gostaram disso. Mas a FAO
(Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) reconheceu o
esforço realizado, tendo premiado no dia
16 de setembro o Brasil, e outros 37 países, por terem reduzido a fome pela
metade antes da meta proposta pelas Nações Unidas.. Revela a Organização que no Brasil entre
1992 e 2013, o número de pessoas que passam fome baixou de 22,8 milhões para
13,6 milhões de pessoas. Para a FAO a redução
da fome no Brasil superou a marca de 54%. Cerca 15% da população brasileira era faminta,
a taxa hoje é de para 6,9%. Em números absolutos é uma das maiores reduções do mundo,
sendo duas vezes maior do que a média mundial. No mundo, em 1992, havia um
bilhão de famintos, hoje, 2013, há 815 milhões. Mas ainda há muitos famintos .Para resolver a questão diz Castro: ‘O que falta é vontade
política para mobilizar recursos a favor dos que têm fome’. Aqueles que são
contra a tímida justiça social brasileira nunca devem ter passado fome!
Loraine Slomp Giron
Historiadora
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