sábado, 25 de outubro de 2014

DO SEGUNDO TURNO





Na semana passada fiz uma breve síntese dos resultados das eleições para a Câmara Federal. Não analisei os dados do Senado, pois a renovação foi apenas de um terço dos senadores. Por outro lado as  eleições para  governadores ainda não terminaram.  Assim a Câmara era o dado mais significativo que havia então.
Os resultados foram evidentes, a direita venceu. Mas não basta verificar, é preciso entender o porquê que os brasileiros se voltaram à direita. Não há com o negar que na última década o perfil do consumidor brasileiro mudou. A classe C ascendeu a uma nova posição e aumentou seu poder de consumo. As classes menos favorecidas receberam os benefícios de uma série de programas sociais. A ascensão social não foi seguida por uma mudança de mentalidade. Assim o modo de ver e entender o mundo permaneceu o mesmo. A mentalidade do povo é o reflexo da mentalidade da elite. Sem tirar nem por.Falta ao povo  o filtro da educação e o  da formação  intelectual que permite discernir o real do fictício, o  fato do factoide e a  verdade da versão.
 Para entender o brasileiro basta perceber o que pensa o poder hegemônico. Palavra difícil para designar a grande imprensa e os formadores de opinião. Essas posições se encontram nas novelas, nas noticias e nos consagrados comentaristas. Aí se encontra o que pensa a população menos esclarecida.  Ela não percebe que as noticias são manipuladas, para ratificar algumas posições e desqualificar outras.  Essas posições são maniqueístas afirmam e reafirmam que o mundo se fundamenta em princípios opostos: ou seja, o bem e o mal. O adversário é o mal (demônio) e o correligionário é o bem (deus).
A luta entre o bem e o mal na política é maior das falácias (mentiras). Na verdade os que estão convictos disso vem o mundo pelo buraco da fechadura. Como diz Nietzsche “ as convicções são inimigas mais perigosas da  verdade do que as mentiras.” Enquanto espera a vinda do bem, o povo vota no candidatado  da mídia,que representa a classe dominante.Dai se explica os votos nos empresários ,nos  advogados, nos médicos e nos pastores.
Depois de uma torrente de contrainformações mais uma vez os brasileiros irão votar livremente obrigados em candidatos que não escolheram. O povo não escolhe os seus representantes, são os partidos que indicam seus caciques e seus pajés. Coisa antiga e hereditária. Vale a pena prestar atenção nas pesquisas elas tem ganhado algumas  eleições, visto que, muitos gostam de votar nos vencedores. Não se pode negar a convicção de um povo, muito menos sua manipulação.

No próximo domingo será realizado o malfadado segundo turno, que ao que tudo indica repetirá o primeiro. Assim os aficionados da política terão mais algumas emoções. Com certeza tem razão Fernando Pessoa ao dizer: ”Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”.

sábado, 18 de outubro de 2014

DIREITA VOLVER!




Nunca, como agora, a Câmara Federal esteve mais a direita. O artigo Mais a Direita da Folha de São Paulo (11 e12 do corrente) merece ser lido, analisa a histórica virada, segundo ele desde 1964 não se via uma Câmara assim.
Há dados que revelam que a Câmara de Deputados é a antítese do Brasil. Acompanhe alguns deles: cerca de 80% dos deputados são brancos, num pais onde a maioria da população é mestiça. Entre os deputados eleitos apenas 15,79% se declararam pardos e apenas 4,29 % negros. Num país de jovens apenas 4,5 dos deputados tem menos de 30 anos, maioria absoluta 73,5% tem de 30 a 59 anos. Num país de analfabetos mais de 80% dos deputados tem curso superior.
Quanto à profissão dos 513 deputados 219, cerca de 50% declarou-se como político. Dos outros 50%, 36 são empresários, 25 advogados, 23 médicos, 17 engenheiros entre outras profissões. È possível afirmar que a Câmara não representa a sociedade brasileira, senão haveria 82 milhões de políticos, 11 milhões de médicos (são 400 mil) e 12 milhões de advogados (906 mil). Uma completa distorção.A Câmara dos deputados representa a  minoria da população brasileira,ou seja a sua elite.  Mas não é a idade nem as profissões que definem os rumos da Câmara, nem os partidos, mas a sua ideologia. Neste sentido a Câmara é de extrema direita. Para tanto basta observar as frentes parlamentares. As maiores frentes suprapartidárias, marcadas pelas bandeiras que defendem são: a ruralista, a evangélica e a sindicalista.
A Frente Parlamentar da Agropecuária(FPA) principal fórum para discussão dos temas agrários elegeu 168 deputados, dos quais 139 foram reeleitos, A FPA, acredita que ela pode crescer com os 118 parlamentares eleitos pela primeira vez. Se a adesão for total a bancada ruralista pode chegar a 257 dos 513 deputados federais o que corresponde a cerca de 50% do Congresso Nacional Em geral os deputados pertencem às velhas oligarquias agrárias da qual Ronaldo Caiado (médico por sinal) é o maior representante. O mais votado deputado do RS foi Luiz Carlos Heinze da mesma Frente. Com eles não há menor perigo de reforma agrária! .
A frente evangélica reúne 47 membros das igrejas evangélicas, mas é composta por 70 membros. Defende a luta contra alguns temas como igualdade racial, aborto, eutanásia e casamentos homossexuais. Opõe-se também a criminalização da discriminação de homossexuais e dos castigos físicos dos pais contra os filhos. Enfim a direita da direita!
 O número de deputados ligados a causas sociais caiu. Para se ter uma ideia à frente sindical que tinha  de 83 caiu para 46 deputados. Assim as mudanças sociais previstas na legislação tem poucas chances de serem aprovadas. Portanto os conservadores podem dormir tranquilo, em berço esplendido.  O novo ritmo do Brasil é “Direita Volver”!Mudanças nunca mais!

Loraine Slomp Giron  Historiadora

sábado, 11 de outubro de 2014

DA DEMOCRACIA (2)







Passado o primeiro turno, resta o segundo com as majoritárias do Estado e do País. Como sempre há ganhadores e perdedores, vitória de um lado, derrota de outro, coisas do voto.
 No dia seguinte ao das eleições, fui pagar uma conta na lotérica da esquina. Puxei conversa com um senhor que queria saber onde eu comprara a Folha de Caxias. Ele queria saber o nome dos deputados eleitos da cidade. Segundo o que pensava Daneluz tinha sido eleito. Não podia compreender, como não  conseguira se eleger com tantos votos que fez,enquanto outros se elegeram com poucos votos.
Uma senhora da fila disse que torcia por Pepe Vargas (como se ele fosse um jogador). Perguntei por que ela se tinha votado naqueles candidatos de quem gostava. Ela me respondeu “Não votei, por que não quis”, respondi que o voto era obrigatório ela retrucou: “Que nada! Isso é bobagem!”
 Outra coitada sem que ninguém pedisse, disse em alto e bom som, que vendeu seu voto. Precisava de dinheiro, e de qualquer jeito, todos os políticos são iguais!Nada como uma conversa numa fila.
Estes são pequenos exemplos do que pensa o povo, que não conhece sequer o sistema eleitoral, quanto mais os candidatos ou a democracia. Dai se pode entender porque 2.500.000 (32,29%) gaúchos não votaram, entre abstenções, votos nulos ou votos brancos. Simplesmente porque ignoram seus direitos e deveres.
Não é só o povo que ignora os descaminhos da política. Os representantes locais dos partidos políticos parecem sofrer do mesmo mal. Colocar 35 candidatos para a deputação deu no que deu. Caxias tornou-se a campeã da suplência. Só há um representante da cidade e vários suplentes. Nada menos que três suplentes de deputados federais e sete suplentes de deputados estaduais. È possível que isso não seja um problema!Afinal o que fazem os deputados?Apenas representam os interesses de suas regiões e votam as leis do país.
 Com 332.042 eleitores, Caxias poderia ter pelo menos cinco representantes. Só a ignorância pode justificar o mau uso do voto, como a eleição de políticos contrários às diferenças de opinião, credo ou de orientação sexual, entre os quais estão os mais votados do Estado. Eleger ensandecidos ou não votar não se sabe o que é pior.
Há coisas mais sérias. Como lembra Martin Luther King “o que mais me preocupa não é o nem o grito dos violentos, dos desonestos, dos corruptos, dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons.” (Viva Bibo) Parece que os bons ainda não têm voz ou vez.
Cabe lembrar que democracia não é só eleição, como disse JJ Rousseau “uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha de se vender a alguém”. Infelizmente, é o que acontece. Ainda hoje ,há os que vendem e os que compram. Afinal, democracia é uma mercadoria?


Loraine Slomp Giron Historiadora 

sábado, 4 de outubro de 2014

DA DEMOCRACIA



A democracia é a melhor forma de governo que existe, da mesma forma que a republica é o melhor sistema até hoje conhecido. Apesar de suas qualidades tanto uma com o a outra são permeadas por erros e defeitos, como todas as criações humanas. Feitas por homens e para os homens são sujeitas a graves equívocos. Afinal, quem não erra nesse mundo?

A democracia pretende a divisão de poderes para evitar a concentração seles nas mãos de um só indivíduo, como nas ditaduras e nas monarquias absolutas.   Dos regimes de governo o presidencialismo é o possibilita o excesso de poderes nas mãos de uma só pessoa, que pode interferir de maneira direta e indireta nos outros poderes, seja no judiciário através de nomeações e no legislativo através de alianças espúrias. O eleito bom ou mau permanece por quatro anos (ou mais) no poder, só o impeachemant (impugnação do mandato) pode cassar um chefe de um estado. Já o parlamentarismo permite a dissolução do governo e uma nova eleição.

O presidencialismo é uma criação norte americano (Constituição de 1787) e o parlamentarismo são uma criação europeia (Islândia em 900). Na América apenas o Canadá adota o parlamentarismo e na Europa apenas a França o presidencialismo.

A eleição possibilita a participação do povo na condução política. O sistema eleitoral brasileiro decalcado no dos Estados Unidos é atravessado por graves equívocos. Os políticos de uma forma geral se preocupam mais com sua permanência no poder do que com o bem geral da nação.  Há ainda outros institutos altamente discutíveis do atual sistema eleitoral são o segundo turno e a reeleição. O segundo turno foi uma inovação esdrúxula da constituição de 1988, que é realizada em cidades com mais de 200 mil eleitores. Já a reeleição em mandatos subsequentes foi criada em 1997(emenda constitucional nº 5) para permitir a reeleição de FHC.  Ao que tudo indica as duas inovações permitem a permanência do poder e o fisiologismo.

A democracia é imperfeita por ser criação humana e mais do que imperfeita menos por ser manipulada por políticos e mais pela existência de profundas diferenças sociais. A democracia seria perfeita se não houvesse as diferenças de classes sociais. Já dizia Aristóteles “A democracia surgiu quando, devido ao fato que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos os homens fossem iguais entre si.” Sem igualdade a democracia é eternamente capenga servindo os que detêm o poder dominante. Não é necessário ser muito esperto para ver que o poder se concentra nas mãos dos mais ricos, ou daqueles que por eles são manipulados. Esse não é o caso apenas do Brasil. Para ajudar a democracia é preciso votar  naqueles   que defendem a justiça  social.

Nem se eu quisesse inventaria  melhor frase do que a de  José Saramago: ”o grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente.” Para ajudar a democracia deve-se votar bem!