terça-feira, 31 de julho de 2012


O VINHO É A FESTA
Cooperativa VV.Forqueta 2012





Algumas vezes digo que nasci numa pipa, pois, minha vida de criança esteve muito ligada ao vinho. Vivi junto aos colonos que plantavam as videiras e os que trabalhavam na produção do vinho. Plantavam as vides, colhiam as uvas, carregavam-nas em bigunchos( hoje sei que a palavra não existe,só o objeto) e as levavam para a cantina. As uvas eram esmagadas e colocadas em pipas de madeira,para fermentar. Logo a uva se transformava em vinho. O vinho passava por processos complexos até ser engarrafado.
As mulheres eram encarregadas da lavagem das garrafas, e do engarrafamento do vinho e da sua rotulagem. Também no processo de produção a função feminina é uma extensão da função doméstica.  Elas não faziam nem o vinho, nem as pipas,nem as vendas,  atividades destinadas aos homens.
Na colônia, o chamado  biguncho  era o nome dado à dorna, uma espécie de pipa de madeira. As uvas colhidas em cestos eram transportadas nelas em carroças, do parreiral à cantina. Pesavam mais do que as uvas. Tudo difícil, para tudo haja força.
Forqueta está em Festa. Festa do Vinho Novo, que completa dez anos. È pouco tempo de festa, mas 137 anos de luta e de trabalho duro. Não há grupo mais valoroso que o dos agricultores. Mais do que eles só vinicultores gaúchos. Sua vida é ácida como o solo onde plantam. Sempre em crise,ou na sua  beira. Poucos anos de tranquilidade
 A Festa do Vinho Novo é uma festa comunitária. Nela todos trabalham de graça e se divertem trabalhando. Sempre o trabalho! O idealizador da Festa do Vinho Novo foi Padre Darci Bortoloto,que  foi  pároco de Santo Antônio de  Forqueta. A comunidade e suas lideranças fizeram o resto. 

Chaminé da Cooperativa 2012 
A Festa do Vinho Novo  como as saturnálias  reúne  os adoradores de Saturno e os do vinho, ou seja  o sagrado e o profano.  Como às sagras (festas do padroeiro das capelas) une os associados de uma capela para o trabalho de fazer a festa e de celebrar seu santo de devoção. Nelas religião e vinho estão sempre juntos.  A Festa é muito jovem completa dez anos. Mas quem faz a Festa é o vinho, que é muito velho.
 O desfile dos colonos na Festa é algo único e comovente, como as coisas simples que se tornam mais raras a cada dia que passa. No simulacro da procissão, a comunidade revela-se na auto-representação uma meta colônia.  A Festa do Vinho Novo é uma mega sagra como a paróquia é a mega comunidade( das suas capelas) tendo Baco por padroeiro. Aconselho aos leitores que visitem a Festa. As festas populares como ela estão acabando.
Loraine Slomp Giron        Twitter: loslomp Blog:historiadaquiu@spot.com

domingo, 29 de julho de 2012


CAXIAS (ULTRA) PASSADA (2)


Naqueles tempos havia anjos nas procissões! 


 Naqueles tempos, a cidade tinha três por três quadras de tamanho. Tudo se passava naqueles nove quarteirões. Dentro dos limites, daquela Caxias resumida, viviam moradores com estranhos nomes Bortolo, Lilinha, Minervina, Merina, Miloca, Marrocas, Mussolini, Olimpio, Saturno, Zita e Zeca entre outros. Nomes e apelidos que caíram em desuso. Cada um deles guarda histórias! Qualquer dia, conto as contáveis!
O que movia a cidade de então? A política, a Igreja, o futebol e sexo. Não sei se nessa ordem, mas os quatro estavam interligados e presentes. Não é o que move a Caxias de hoje? De sexo não se falava, já que não era assunto para crianças. Começo pelo sexo, tema periférico à Caxias familiar. 
No pequeno centro tudo se sabia. A liberdade sexual então inexistia, o sexo era tabu. Os bordéis apenas tolerados  eram o centro da vida social masculina. Neles viviam moças vindas dos Campos de Cima da Serra ou de fora do Estado. Algumas delas tinham sido expulsas de casa por mau passo. A mais conhecida dessas sem sombra de dúvida era Beloni, de trágica história.  Outras, de origem italiana, filhas de colonos  haviam se empregado na cidade e se perdido. A mais conhecida delas era Angelona, dona da mais concorrida pensão não familiar. As pensões não familiares como as familiares pagavam os mesmos impostos. Havia então poucas profissionais do sexo autônomas. Até nas pensões, as profissionais e as donas das casas tinham protetores.
 Como sei disso? Por informações e pesquisas. Naqueles tempos, nos domingos da tarde, as famílias sentavam-se nas calçadas, em cadeiras trazidas de casa. Enquanto as crianças brincavam os adultos punham as fofocas em dia. Nesses dias era grande o movimento de homens que da Praça Rui Barbosa (já havia sido renomeada) desciam a Dr. Montaury. Iam aos magotes. Perguntei a meu pai se tinha jogo de futebol dos papos. Disse que não. Perguntei a minha mãe se tinha festa. Disse que não! Então perguntei para os dois: ‘se não há festa nem jogo o que há?’ Como não respondessem ameacei ir ver o que havia. Então com muita cautela me disseram que era uma festa para homens.
Tempos depois,quando estava no primeiro ano, fui vender rifa das Missões para converter os negrinhos da África. Assim era dito pelas freiras, assim eu repetia. Junto com uma colega,passamos por várias casas descendo a rua Dr. Montaury (passando os limites conhecidos). Poucos compravam algum número da rifa. Em geral, corriam conosco. Parei na porta de uma pensão. Apertei a campainha, um homem atendeu. Disse que fossemos embora que aquele não era lugar para crianças. Sem saber, havíamos batido na porta da famosa pensão da Angelona. Naquele dia descobri o lugar, mas não a festa! Caxias tinha muitos mistérios para uma criança. Bem mais do que minha Forqueta natal!

sábado, 28 de julho de 2012


CAXIAS (ULTRA)PASSADA



Casa de negócios Vicente Rovea 1912.

Mais uma semana de Caxias, mais tempo passado. Quanto tempo? Exatamente 137 anos de colonização, 122 anos de emancipação de Cai  e 102 anos de a elevação  à cidade. Tempo bastante para uma cidade crescer e aprofundar suas características. Tempo bastante para esquecer o passado.
O passado encurta na medida em que as lembranças se perdem. Cada ser humano tem suas lembranças datadas, que morrem com ele. Não há como transferir a memória como se transplanta órgãos. No futuro poderão ser enxertadas as lembranças em capsulas no cérebro. Por enquanto só é lembrado o que está registrado. Sem registro não há passado.
Outrora havia entre os nativos o responsável pela guarda das memórias da tribo  e  pela  sua transmissão. Com a escrita a memória de ser essencial para o conhecimento humano. A palavra escrita substituiu a oral. Mais tarde a Internet mudou a palavra escrita pela digital. Poucos perceberam a mudança radical que ocorria com o advento do Google.
Ainda assim milhares de informações estão  apenas  na memória das pessoas .Há muitas histórias sobre a velha Caxias que não foram contadas. Creio que nem histórias são pequenas crônicas do cotidiano de moradores e de uma cidade que já se foram. 
.Na Caxias de então todos se conheciam. Importante ainda, todos conheciam a vida de todos. Quem dormia com quem, quem comprou o que e onde, quem saiu com quem  e foi aonde. Coisas que hoje não tem a mínima importância.  Naqueles tempos não havia como se esconder. Os passos de cada um eram controlados. O principal programa de então era a vida alheia. 
O rádio então era o entretenimento maior. Quem tinha um rádio (elétrico e com válvulas) estava por dentro do mundo. Por meio dele poderia ouvir o Repórter Esso, com as notícias nacionais e as internacionais da Segunda Guerra. Podia acompanhar  as novelas radiofônicas da  Radio Nacional do rio de Janeiro .Para ouvi-las a cidade parava. À noite escutavam-se tangos nas estações argentinas. Já na La R.A (assim mesmo) acompanhava-se a temporada operística do teatro Colón de Buenos Aires.
         A mídia de então (?) tanto radiofônica como a escrita era movida pelas agencias americanas de noticia. Só se lia se ouvia e se via o mundo de um lado: o dos Estados Unidos. Eles eram os mocinhos os outros eram os bandidos. Pobres dos Quinta Colunas favoráveis ao Eixo. Os pobres eram comunistas atacados no púlpito da Catedral como comedores de crianças. Ainda assim ninguém falava em pedofilia. Naqueles tempos não se havia perdido a inocência!
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CAXIAS TEM JEITO?(2)


A beleza da natureza é grátis .Forqueta 2012


Na semana passada escrevi sobre as árvores, que não tem nem movimento nem voz. As árvores não falam e não caminham, pois tem seus pés plantados fundo na terra. Sobre o assunto deixei em aberto algumas questões. Fiquei pensando no assunto e outras foram surgindo. Problemas não faltam!
Depois de fazer um balanço sobre o caos que reina em relação a árvores de Caxias, lembrei-me de outros tempos e lugares onde as árvores eram consideradas símbolo de poder. Os judeus usavam a folha da oliveira para representar a paz. Lembrei-me da Palestina tão degradada por lutas internas e externas e que, no entanto preserva as oliveiras milenares, onde  Jesus teria passado sua última noite antes da crucificação. Na Praça Dante há uma oliveira que foi picotada de forma cruel. Como símbolo da paz foi plantada pelo prefeito Luciano Corsetti para marcar o fim da Segunda Guerra! ( 1939-1945).Quem se lembra dela?
 Antigamente os gregos usavam as folhas do louro para coroar os atletas vencedores das Olimpíadas. Os romanos plantavam carvalhos ao longo das estradas para  abrigar com sua sombra os guardas e alimentar com suas bolotas os animais.
Aqui a Prefeitura tem se aperfeiçoado em maltratar  as árvores.
Faltou dizer ainda que a Prefeitura tem seguidores.  Alguns indivíduos se divertem quebrando mudas e galhos de árvores, sem falar dos ônibus que quebram enormes galhos das árvores.Uma tristeza.
Faltou dizer que outros   cortam palmeiras imperiais, alegando que suas folhas sujam seus prédios. Agora uma delas (eu conferi) está morta. Nem sempre os contraventores são indivíduos de pouco proveito. Alguns são cidadãos ilustres, e, portanto imunes à lei.
Um leitor me ligou para informar sobre a precária situação dos plátanos do Parque dos Macaquinhos (Getúlio Vargas para os legalistas). José Angeli me informou e eu confirmei que as árvores que foram asfaltadas. Ou seja, os plátanos tiveram suas raízes cobertas pelo asfalto. As raízes emparedadas são sentença de morte para as árvores quase centenárias. Disse-me ele ainda que algumas pessoas consideram sujeira  as  folhas .Na verdade não estão sós!  Algumas até exigem a poda das árvores das calçadas  para  que não sujem seus pátios. Outras as podam sem licença.  Esquecem que as folhas são adubo natural, que a natureza oferece como bônus, além do oxigênio, da sombra e da beleza.  As folhas oferecem  proteção contra o frio impedindo que as raízes morram com a geada.
 Mas não há dúvida Caxias tem jeito, o que não têm é alguns de seus cidadãos.





CAXIAS TEM JEITO?


Caxias de hoje como se fosse de ontem.2012


São tantos os problemas de Caxias (do Sul se quiserem) que parece que não há mais solução para eles. Bobagem! Não haveria solução possível se ela afundasse como Alexandria ou explodisse como a Atlântida. Chernobyl e Hiroshima apesar das explosões nucelares estão resistindo. Como Caxias não sofreu cataclismo natural  ou tecnológico é possível resolver alguns de seus problemas.
A Câmara de Vereadores faz me lembrar de meus alunos: a falta de ideias. Creio que isso se deve ao fato dos gentis edis (por sinal, alguns  dos quais foram meus ex-alunos) não terem imaginação ,ou quem sabe , não se interessam pela cidade em que vivem. Ou quem sabe ainda não tem tempo para olhar para suas praças, ruas e passeios. Mas alguma coisa acaba de ser atacada, a publicidade.
A publicidade abusiva nas fachadas de prédios e das casas é um dos graves problemas estéticos da cidade. A Câmara de Vereadores criou juízo e buscou uma solução. Aprovou uma solução paliativa visando disciplinar a publicidade na cidade.  Com tantas emendas e tantos cuidados com os interesses dos lojistas, a solução proposta é  apenas paliativa.
Para os vereadores e administradores da cidade carentes de imaginação e vivência urbana repasso alguns problemas que deveriam ser resolvidos. Creio que  as soluções podem ser encontradas por eles.
Em primeiro lugar as árvores. Elas não são mais importantes que os homens, mas ao contrário deles não tem vez nem voz. O respeito pelos seres vivos começa pelo reconhecimento de seu ciclo vital, crescimento, reprodução, doença e morte. Existem as árvores doentes, com parasitas diversos, fungos e outras doenças cujo nome desconheço. Há árvores mortas pelas ruas da cidade. Além das árvores doentes há  as amputadas. As árvores esses que não foram mostradas na excelente publicação sobre as árvores no perímetro central da cidade. Lindo trabalho da  Secretaria do Meio Ambiente Olhem as árvores amputadas.  As árvores que foram mal cortadas pelo bem estar dos fios, das câmeras de vigilância entre outras razões.  .
Não há solução para os fios?  Existe sim, basta visitar Ouro Preto onde o problema foi muito bem  resolvido Onde está a Secretaria do Meio Ambiente ? Seres que pensam nas imagens e esquecem o real. A causa do descuido? As mentes acadêmicas que preferem o discurso à ação.
Na próxima semana continuarei a sugerir mudanças.  Problemas  não faltam

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ANDANÇAS DO TEMPO


Fortaleza -Cambará do Sul 2012


O que mais me espanta no mundo é a rapidez das mudanças de costumes e de hábitos. Segundo alguns sociólogos, as mudanças sociais especialmente as da mentalidade seriam as últimas e as mais difíceis de realizar. Ao que tudo indica, os tempos em que fizeram suas análises era outro, tais mudanças se aceleraram com o advento do mundo virtual.
Quem pensaria há vinte passados que as cálidas das sessões de cinema fossem substituídas por sessões individuais de amor, com um parceiro distante. Tudo via Internet.
Quem poderia imaginar que a velhice tão respeitada e festejada nas gerações anteriores seria motivo da demissão, opróbrio e menosprezo? Isso  não significa que os velhos tenham deixado de ocupar papéis importantes no mundo, ai estão o Papa Bento XVI, Fidel Castro, a rainha Elizabeth II e os eternos senadores José Sarney e Pedro Simon. Para citar apenas alguns. Nem Fernando Henrique era um jovem quando pretendeu salvar o Brasil. Uma coisa tenho certeza, se os citados macróbios estivessem no mundo do trabalho seriam todos demitidos. È apenas no mundo do trabalho que os velhos incomodam? Ocupam o lugar dos jovens e detém altos salários o que é imperdoável!
Mas de qualquer modo o Estatuto do Idoso é sinal claro, de  que algo não vai bem.Aquilo que é aceito pela comunidade, como  exigência moral  não precisa leis ,nem  de legislação para ser cumprido . Os índios brasileiros não precisaram de leis para proteger a Natureza Nem os colonos precisam de leis para cultivar sua terra, plantar e colher.  
As leis se tornam necessárias quando o código moral foi esquecido. O que é aceito pela maioria não requer regulamentação. Muitas leis são elas mesmas discutíveis, pois beneficiam apenas os legisladores. Algumas vezes seus objetivos são escusos, são eles que determinam as leis, visando interesses específicos de empresas ou de grupos. Novas leis se detém sobre o mundo virtual,mas ele é ainda  mais escorregadio que o mundo real. Há ainda  leis que favorecem a contravenção,como a Lei Seca dos Estados Unidos.(1920-1933) . A criminalização da bebida criou os seus contraventores da Lei: a Máfia, os fabricantes de bebida ilegais.,os contrabandistas etc. A criminalização das drogas cria o traficante e o viciado, e toda uma cadeia de contraventores. Sem a lei seriam apenas fabricantes, comerciantes e consumidores.
As leis por outro lado podem matar a cultura popular. Xamãs, os curandeiros foram vencidos pelos laboratórios farmacêuticos e pelos médicos. Onde foi para o conhecimento das parteiras? Para que curar a doença com mezinhas populares se a saúde como um todo foi institucionalizada.  A institucionalização da cultura é a morte dos saberes populares, da mesma forma que a mecanização da produção acabou com grande parte de seus fazeres. Para que tecer se o tecido vem pronto? As leis que são benéficas se tornam possível à vida social, mas são deletérias, quando afetam o cerne da civilização: a sua  cultura.
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