CAXIAS
(ULTRA)PASSADA
Casa de negócios Vicente Rovea 1912. |
Mais
uma semana de Caxias, mais tempo passado. Quanto tempo? Exatamente 137 anos de
colonização, 122 anos de emancipação de Cai
e 102 anos de a elevação à
cidade. Tempo bastante para uma cidade crescer e aprofundar suas
características. Tempo bastante para esquecer o passado.
O
passado encurta na medida em que as lembranças se perdem. Cada ser humano tem
suas lembranças datadas, que morrem com ele. Não há como transferir a memória
como se transplanta órgãos. No futuro poderão ser enxertadas as lembranças em
capsulas no cérebro. Por enquanto só é lembrado o que está registrado. Sem
registro não há passado.
Outrora
havia entre os nativos o responsável pela guarda das memórias da tribo e
pela sua transmissão. Com a
escrita a memória de ser essencial para o conhecimento humano. A palavra
escrita substituiu a oral. Mais tarde a Internet mudou a palavra escrita pela
digital. Poucos perceberam a mudança radical que ocorria com o advento do
Google.
Ainda
assim milhares de informações estão
apenas na memória das pessoas .Há
muitas histórias sobre a velha Caxias que não foram contadas. Creio que nem
histórias são pequenas crônicas do cotidiano de moradores e de uma cidade que
já se foram.
.Na
Caxias de então todos se conheciam. Importante ainda, todos conheciam a vida de
todos. Quem dormia com quem, quem
comprou o que e onde, quem saiu com quem
e foi aonde. Coisas que hoje não tem a mínima importância. Naqueles tempos não havia como se esconder.
Os passos de cada um eram controlados. O principal programa de então era a vida
alheia.
O
rádio então era o entretenimento maior. Quem tinha um rádio (elétrico e com
válvulas) estava por dentro do mundo. Por meio dele poderia ouvir o Repórter Esso, com as notícias nacionais
e as internacionais da Segunda Guerra. Podia acompanhar as novelas radiofônicas da Radio Nacional do rio de Janeiro .Para
ouvi-las a cidade parava. À noite escutavam-se tangos nas estações argentinas.
Já na La R.A (assim mesmo) acompanhava-se
a temporada operística do teatro Colón de Buenos Aires.
A mídia de então (?) tanto radiofônica
como a escrita era movida pelas agencias americanas de noticia. Só se lia se
ouvia e se via o mundo de um lado: o dos Estados Unidos. Eles eram os mocinhos
os outros eram os bandidos. Pobres dos Quinta
Colunas favoráveis ao Eixo. Os pobres eram comunistas atacados no púlpito
da Catedral como comedores de crianças. Ainda assim ninguém falava em
pedofilia. Naqueles tempos não se havia perdido a inocência!
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