CAXIAS
(ULTRA) PASSADA (2)
Naqueles tempos havia anjos nas procissões! |
Naqueles tempos, a cidade tinha três por três
quadras de tamanho. Tudo se passava naqueles nove quarteirões. Dentro dos
limites, daquela Caxias resumida, viviam moradores com estranhos nomes Bortolo,
Lilinha, Minervina, Merina, Miloca, Marrocas, Mussolini, Olimpio, Saturno, Zita
e Zeca entre outros. Nomes e apelidos que caíram em desuso. Cada um deles
guarda histórias! Qualquer dia, conto as contáveis!
O
que movia a cidade de então? A política, a Igreja, o futebol e sexo. Não sei se
nessa ordem, mas os quatro estavam interligados e presentes. Não é o que move a
Caxias de hoje? De sexo não se falava, já que não era assunto para crianças. Começo
pelo sexo, tema periférico à Caxias familiar.
No
pequeno centro tudo se sabia. A liberdade sexual então inexistia, o sexo era
tabu. Os bordéis apenas tolerados eram o
centro da vida social masculina. Neles viviam moças vindas dos Campos de Cima
da Serra ou de fora do Estado. Algumas delas tinham sido expulsas de casa por mau passo. A mais conhecida dessas sem
sombra de dúvida era Beloni, de trágica
história. Outras, de origem italiana, filhas
de colonos haviam se empregado na cidade
e se perdido. A mais conhecida delas era
Angelona, dona da mais concorrida pensão não
familiar. As pensões não familiares como as familiares pagavam os mesmos
impostos. Havia então poucas profissionais do sexo autônomas. Até nas pensões, as
profissionais e as donas das casas tinham protetores.
Como sei disso? Por informações e pesquisas.
Naqueles tempos, nos domingos da tarde, as famílias sentavam-se nas calçadas,
em cadeiras trazidas de casa. Enquanto as crianças brincavam os adultos punham
as fofocas em dia. Nesses dias era grande o movimento de homens que da Praça
Rui Barbosa (já havia sido renomeada) desciam a Dr. Montaury. Iam aos magotes.
Perguntei a meu pai se tinha jogo de futebol dos papos. Disse que não. Perguntei a minha mãe se tinha festa. Disse
que não! Então perguntei para os dois: ‘se não há festa nem jogo o que há?’
Como não respondessem ameacei ir ver o que havia. Então com muita cautela me
disseram que era uma festa para homens.
Tempos
depois,quando estava no primeiro ano, fui vender rifa das Missões para
converter os negrinhos da África. Assim
era dito pelas freiras, assim eu repetia. Junto com uma colega,passamos por
várias casas descendo a rua Dr. Montaury (passando os limites conhecidos).
Poucos compravam algum número da rifa. Em geral, corriam conosco. Parei na
porta de uma pensão. Apertei a campainha, um homem atendeu. Disse que fossemos
embora que aquele não era lugar para crianças. Sem saber, havíamos batido na
porta da famosa pensão da Angelona. Naquele dia descobri o lugar, mas não a
festa! Caxias tinha muitos mistérios para uma criança. Bem mais do que minha
Forqueta natal!
Hahaha. Muito interessante sua história que deve ser igual à de muitas cidades brasileiras com “cabaré” “secreto”. A Casa Verde. No meu romance Noite em Paris falo disto também. Lá em Capela do Alto Alegre chama-se Pilunga.
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