domingo, 29 de julho de 2012


CAXIAS (ULTRA) PASSADA (2)


Naqueles tempos havia anjos nas procissões! 


 Naqueles tempos, a cidade tinha três por três quadras de tamanho. Tudo se passava naqueles nove quarteirões. Dentro dos limites, daquela Caxias resumida, viviam moradores com estranhos nomes Bortolo, Lilinha, Minervina, Merina, Miloca, Marrocas, Mussolini, Olimpio, Saturno, Zita e Zeca entre outros. Nomes e apelidos que caíram em desuso. Cada um deles guarda histórias! Qualquer dia, conto as contáveis!
O que movia a cidade de então? A política, a Igreja, o futebol e sexo. Não sei se nessa ordem, mas os quatro estavam interligados e presentes. Não é o que move a Caxias de hoje? De sexo não se falava, já que não era assunto para crianças. Começo pelo sexo, tema periférico à Caxias familiar. 
No pequeno centro tudo se sabia. A liberdade sexual então inexistia, o sexo era tabu. Os bordéis apenas tolerados  eram o centro da vida social masculina. Neles viviam moças vindas dos Campos de Cima da Serra ou de fora do Estado. Algumas delas tinham sido expulsas de casa por mau passo. A mais conhecida dessas sem sombra de dúvida era Beloni, de trágica história.  Outras, de origem italiana, filhas de colonos  haviam se empregado na cidade e se perdido. A mais conhecida delas era Angelona, dona da mais concorrida pensão não familiar. As pensões não familiares como as familiares pagavam os mesmos impostos. Havia então poucas profissionais do sexo autônomas. Até nas pensões, as profissionais e as donas das casas tinham protetores.
 Como sei disso? Por informações e pesquisas. Naqueles tempos, nos domingos da tarde, as famílias sentavam-se nas calçadas, em cadeiras trazidas de casa. Enquanto as crianças brincavam os adultos punham as fofocas em dia. Nesses dias era grande o movimento de homens que da Praça Rui Barbosa (já havia sido renomeada) desciam a Dr. Montaury. Iam aos magotes. Perguntei a meu pai se tinha jogo de futebol dos papos. Disse que não. Perguntei a minha mãe se tinha festa. Disse que não! Então perguntei para os dois: ‘se não há festa nem jogo o que há?’ Como não respondessem ameacei ir ver o que havia. Então com muita cautela me disseram que era uma festa para homens.
Tempos depois,quando estava no primeiro ano, fui vender rifa das Missões para converter os negrinhos da África. Assim era dito pelas freiras, assim eu repetia. Junto com uma colega,passamos por várias casas descendo a rua Dr. Montaury (passando os limites conhecidos). Poucos compravam algum número da rifa. Em geral, corriam conosco. Parei na porta de uma pensão. Apertei a campainha, um homem atendeu. Disse que fossemos embora que aquele não era lugar para crianças. Sem saber, havíamos batido na porta da famosa pensão da Angelona. Naquele dia descobri o lugar, mas não a festa! Caxias tinha muitos mistérios para uma criança. Bem mais do que minha Forqueta natal!

Um comentário:

  1. Hahaha. Muito interessante sua história que deve ser igual à de muitas cidades brasileiras com “cabaré” “secreto”. A Casa Verde. No meu romance Noite em Paris falo disto também. Lá em Capela do Alto Alegre chama-se Pilunga.

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