terça-feira, 7 de agosto de 2012


MORRER DE AMOR (2)


tTmulos de fFrroupilha

Quando éramos pequenas,  minha mãe nos levava a passear no cemitério. Havia então o costume de assistir missa nas nove primeiras sestas feiras do mês. Minha mãe muito criativa cumpria essa devoção no cemitério. Eu ficava vendo os túmulos, escolhendo os meus favoritos (criança consegue brincar com tudo). Eu gostava do túmulo do menino que morrera criança com odor de santidade (assim era dito). Era bem bonitinho com seu retrato sempre cheio de flores frescas. Não sei se alguém ainda o cultua, mas naqueles tempos era venerado, pois que santo. Eu também gostava do rico túmulo da moça que morrera de regime. Dizia-se que havia morrido de tanto tomar remédio para emagrecer. Moça tão linda não precisava ser magra. Morrer de fome me parecia um desperdício.
Mas meu maior favorito  era o túmulo da moça com jeito antigo de melindrosa. Seu vestido parecia ser de musselina fina (o vestido de casamento de minha mãe era assim). Uma coroa de flores de cimento cercava sua fotografia. Ela não morrera de regime, mas de amor. Fiquei matutando, sobre qual seria a doença que pegara para morrer de amor. Afinal eu tinha seis anos!
A cada sesta feira eu perguntava e voltava a perguntar à minha mãe como ela tinha morrido. Creio que de tanto perguntar (e como eu perguntava) ela respondeu que tinha tomado pílulas demais. ”Não para emagrecer, mas para dormir”, esclareceu ela. Voltei a perguntar “por que ela queria dormir”?Irritada minha mãe contou a história num jato. A jovem morta era noiva de um parente de minha mãe. Segundo disse, ela agiu mal, por isso seu noivo (o parente distante) desmanchou o compromisso. Logo eu quis saber o que era desmanchar compromisso, fiquei sabendo que era não casar. Abandonada a ex-noiva não resistiu à tristeza e dormiu para sempre. . Daí eu quis saber o que era agir mal, mas não houve cristo que fizesse minha mãe responder. Fiquei sabendo também que nossa família (pelo parentesco com o primo) era mal vista pela família da noiva abandonada. Fiquei pensando, que talvez minha mãe tivesse dado as pílulas que ela tinha tomado para dormir. Mas, não!
Então, segundo se dizia às moças que ficavam noivas e que rompiam compromisso ficavam faladas e não casavam mais. Ficar solteira na Caxias de antigamente era a mesma coisa que ficar empalhada. Eu nunca tinha visto moças empalhadas, apenas pássaros e bichinhos pequenos. Naquele mundo de sons (afinal, era a era do rádio) as imagens eram poucas. Eu nunca tinha ouvido falar de múmias egípcias. Por ser ignorante, achei burra de mais a ideia de moças empalhadas.   
Um dia eu conheci a irmã da noiva morta. Era feia demais. Perguntei à minha irmã, se a outra a que tomara comprimidos para dormir, não tivera o compromisso rompido por feiura. Não mereci resposta.  Era assim que eram as coisas ditas, naqueles tempos de antigamente.  Cheias de mistérios!
Loraine Slomp Giron Twitter: loslomp Blog :historiadaquiblogspot.com















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