A
CRIANÇA E O PECADO
Minha
mãe me vem à memória. Havia dias em que ia a velórios, de conhecidos ou não.
Puxava o terço, a ladainha ou o que fosse de costume, então. Havia dias que ela
fazia visitas aos parentes, ou não. Mas havia um dia especial que ela anunciava
“hoje vou visitar a mulher do Padre”. Católica ela era, mas não burra, entendia muito bem o que via. Era uma de suas visitas
favoritas.
Não
se tratava da esposa de um antigo sacerdote, nada disso, era a mulher que viveu
maritalmente por décadas, com famoso pároco
da antiga Caxias. Não sei como minha mãe a conheceu, mas sei gostava dela e era
sua amiga. Segundo ela dizia era cheia de boas qualidades. Caprichosa, ela cuidava muito bem do santo
ministro. Minha mãe contou como os dois
se conheceram. Foi numa festa de padroeiro de uma capela do interior. Ela
dirigia a cozinha, cozinhava tão bem que o padre quis conhecê-la. E, biblicamente
a conheceu. Os dois viveram juntos num
apartamento no centro da cidade, até a morte dele. Enfim, uma história banal já imortalizada
por Eça de Queiroz, Emile Zola e outros menos votados. Afinal os padres são
apenas homens (com empáfia!).
Essa
seria apenas mais uma história triste e
comum não fosse o Pároco ser o mais reacionário dos reacionários e o mais
conservador dos homens.. Poderia ter feito parte dos CCC (Comando de Caça aos
Comunistas). Eu o conhecia bem Muitas vezes me confessei com ele, e morria de
medo, pois era extremamente curioso exigindo detalhes de coisas, cujos eu desconhecia.
Afinal, eu escolhia os pecados no catecismo!Então, se fazia a Eucaristia cedo,
quando não se tinha a noção de pecado. Foi numa dessas confissões, que ele que
deixou perplexa, e me fez desacreditar dos adultos (que antes eu julgava sábios).
Eu
tinha seis anos, tirei algumas moedas da gaveta da escrivaninha de meu pai para
comprar números de uma rifa,que as freiras organizaram para salvar “os
negrinhos da África”(palavras das irmãs
de São José). Então eu comprei os números da rifa e devo ter salvado
alguns pagãos. Em compensação levei uns tapas (naqueles tempos não havia o
Estatuto das Crianças) e uma tremenda xingada de meu pai.
Sabendo
do meu pecado, fui me confessar, O
Pároco (aquele mesmo) afirmou que eu não cometera pecado, pois o dinheiro do
meu pai seria meu também. Fiquei perplexa. Assim aprendi que esse negócio de pecado,
dependia da opinião dos adultos. Pecado era muito relativo. Na verdade, o certo
e o errado dependem do tempo, do lugar, da religião e dos tabus de cada grupo
social. Um leitãozinho assado, tabu para os judeus é a
máxima delicia para os católicos (seguidores da lei judaica). Perplexidade não
resolvida até hoje. Vá querer julgar os pecados dos homens
Loraine Slomp Giron Twitter: loslomp Blog
:historiadaquiblogspot.com
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