domingo, 12 de agosto de 2012



MUSSOLINI  
Belezas do Rio Grande Itaimbézinho 2012 

Poucas pessoas são mais interessantes do que Mussolini. Não me refiro ao Duce italiano, mas a Mathias D’Andrea que tinha esse apelido. Ele me auxiliou demais quando da elaboração da minha tese de doutorado, mas esse é outro assunto.
Mussolini vivia no antigo hotel Pessin , num quarto do terceiro andar do lado   Leste .Ele  amava a música clássica ,muito antes de conhecê-lo eu ouvia o som alto   de Verdi,Rossini e outros compositores da ópera italiana ,clássicos  barrocos e românticos. .Tinha um telescópio apontado para as estrelas. Ele viveu no Hotel até morrer. Havia nascido na Itália. Seu avô era médico, quando menino ia com ele de charrete visitar doentes. Dele herdou a paixão pelo social e como ele se tornou socialista.
Veio para o Brasil com seus pais e irmãos aos doze anos, fugindo das guerras. Tornou-se técnico em eletricidade e piloto amador,Sua maior façanha foi despencar de um teco-teco  que pousou   nos galhos de uma figueira,  nos  fundos do Armazém Mandelli, na esquina das ruas  Pinheiro Machado  e Dr. Montaury. Eu assisti a queda da janela da minha casa,  junto com minha mãe e minha irmã nenê.Vi Mussolini deixar o avião descendo da figueira. Criança não esquece, reserva as memórias.
Creio que era o dia três de setembro de 1944, havia parada estudantil. Na Rua Pinheiro Machado passava a Escola Normal Duque de Caxias. Na Júlio desfilavam outras escolas. Poderia ter ocorrido uma tragédia, mas nada aconteceu e foi apenas episódio que movimentou a pequena Caxias por muito tempo.
Passados anos quando concluía a minha tese me lembrei do Mussolini. Telefonei para ele e ele se prontificou a falar comigo. Tantos anos vivendo no Hotel se tornara parte dele, não conseguindo dormir virou seu guarda. Falamos algumas noites e ele me contou mais dos fascistas e do fascismo que os jornais e os documentos da época.
Falou-me dos grandes fascistas locais, das suas festas burguesas e de seu proselitismo feitos no Clube Juvenil  e nos  cinemas locais. Falou-me dos combates de rua que teve que enfrentar contra os camisas negras. Das lutas levou o apelido do qual jamais conseguiu se livrar. Nada disso aparece nos jornais de então.
Tudo tem uma explicação. A burguesia local se beneficiava com as relações com os fascistas italianos, assim eles eram bem aceitos. Após a derrota do fascismo, muitos deles fugiram de Caxias,outros aqui permaneceram e constituíram famílias. Não é de estranhar que periodicamente ocorram alguns fatos (como na vinda de Cesare Batistti a Caxias) que revelam a origem de algumas famílias, que não acreditam nas leis democráticas. Não resta dúvida que o  fascismo mora em seu coração.
Loraine Slomp Giron Twitter: loslomp Blog :historiadaquiblogspot.com

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