sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013



 A FESTA É UMA EMPRESA




 Getulio Vargas o mais atilado dos governantes do Brasil foi chamado de aprendiz de feiticeiro por algum motivo, Quando percebeu a força explosiva do carnaval carioca  popular o institucionalizou. Ao criar um carnaval oficial conseguiu em pouco tempo terminar com as manifestações populares que poderiam prejudicar a paz da ditadura. Só muitos anos depois ressurgiram os blocos dos sujos.
Quando a primeira Festa da Uva foi realizada na Praça Dante começava o governo de Vargas que se prolongou por uma década e meia. A comissão organizadora pensou em fazer uma festa para comercializar os produtos da então chamada colônia. Era um grupo de moradores da cidade e que estavam distantes do trabalho agrícola. A época escolhida foi a da colheita da uva, época imprópria para os colonos que estão superocupados. Outro foi o modo de pensar foi das comissões da Festa do Vinho e da Festa do Vinho Novo que pensaram  nos agricultores , passaram a ser  realizadas no mês de julho quando o trabalho na colônia é menor.
A Festa da Uva era uma festa de cidadãos da cidade para melhorar o desempenho econômico regional, apelando para a beleza da mulher da região para aumentar a venda de produtos. O papel das rainhas e das vindimeiras era mais importante do que em geral se pensa.  Então o vinho e a uva eram importantes para Caxias, a exportação de vinho era das mais  maiores do município. Mas o tempo passou. Caxias perdeu as regiões produtoras de uva para Flores da Cunha e Farroupilha e, aos poucos, a indústria metalúrgica foi aumentando seu espaço na economia regional. Enquanto em Bento Gonçalves as indústrias tradicionais (móveis, alimentos e vinho) mantiveram sua liderança. Ainda assim, durante alguns, anos a Festa da Uva foi um sucesso. Realizada no Centro da cidade, estava mais perto da população e da sua realidade sócio econômica.
Para compensar a perda do poder econômico do setor vinícola foi criada junto à Festa uma Feira industrial.Claro indício  de que a uva não dava mais conta dos seus  objetivos,ou seja de fazer propaganda da economia regional. Por outro com o correr dos anos tem havido uma redução na produção da uva, e o fechamento inexorável de empresas vinícolas.
 Quando a Festa da Uva se tornou uma empresa as mudanças foram ainda mais profundas. A população não ama as empresas que em geral, que visam o apenas o lucro. A empresa responsável pela Festa também visa o lucro, como qualquer empresa capitalista. O lucro não entusiasma aqueles que dele não podem usufruir Mais do que isso é uma empresa eminentemente política, portanto com vínculos partidários. A política longe de unir, ao contrário tende a desunir a população. Em pesquisa realizada em 2010 constatou-se que a população não se sente ligada afetivamente à Festa da Uva.
Como empresa a Festa começou cobrar tudo: o ingresso, o estacionamento, os lugares nas arquibancadas do desfile e os shows A Festa começou a ser um evento turístico e como tal buscou os participantes em vários lugares do Brasil notadamente em São Paulo e na Baixada Fluminense que aproveitam  o evento para fazer um circuito pela Serra Gaúcha.
A verdade é que a Festa tende a se repetir.  Tornou-se um verdadeiro camelódromo sem novidades e inovações. Local de venda de produtos, de tal forma que o que atrai o público local aos pavilhões são os shows. Faz tempo que deixou de ser a segunda maior festa do Brasil.
Assim ao ser oficializada a empresa a Festa da Uva (como Getúlio fez com o carnaval) ela perdeu seu vínculo popular. Infelizmente não há muito a fazer além melhorar os shows.

Loraine Slomp Giron – Historiadora
Twitter: @loslomp

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