Sempre fui contida no afeto aos animais. Os cachorros
também, tem um só dono e a ele são fiéis
até a morte. Meu tio Aléssio tinha um cachorro policial chamado Tupi. Como o
Hachi do filme Sempre a seu lado, (baseado
em fato real) Tupi o seguia seu aonde quer que ele fosse. Quando meu tio
morreu, Tupi fugiu de casa. Não foi mais encontrado. Uma semana depois, foi
achado morto sobre o túmulo de seu dono. O fato emocionou meia Farroupilha.
Foram
poucos, meus animais de estimação. Tive muitos outros, mas que adotaram meus
filhos como donos. Meu primo Renoi e eu mais que primos, éramos amigos e irmãos, passamos parte
de nossa infância juntos na Forqueta.De manhã cedo éramos encarregados
por minha mãe de ver quais galinhas tinham posto ovos, para recolhe-los . Foi
assim encontrei Pombinha, no galinheiro. Era bem novinha e branca.Tão
pequenina que parecia mesmo uma pombinha. Até dava umas
voadinhas, de um poleiro para outro, aqueles voos rasteiros das galinhas. Enquanto
meu primo fazia a coleta dos ovos, eu brincava com minha galinha. As galinhas como
pássaros em geral não se afeiçoam. Pombinha
nunca gostou de mim. Sei de aves que amam seus donos. Na Forqueta, dona (Marga)
Rita, tinha um papagaio que gritava o nome dela, cada vez que ela se afastava. Vivia
com a perna presa numa cordinha.Como
gritava!
Aos poucos,
Pombinha cresceu, seu destino selado seria a panela. Eu ficava pensando no jeito de salvar a pobre
condenada. Um dia resolvi, soltei Pombinha no quintal do vizinho, por sinal meu
tio. Pensei ela podia ganhar o mato e se salvar. Na manhã seguinte bem cedo fui
ver por onde ela andava. Boba como só ela voltara ao galinheiro, no qual
tentava entrar. Fiz-me de louca e deixei-a fora do cercado. Não deu outra, na manhã seguinte encontrei
alguns de seus restos manchados de sangue. A raposa, famosa comedora dos ovos do galinheiro havia mudado sua dieta.
Fiquei triste e meio (não muito) responsável por sua
morte! Então fiz seu enterro com grande pompa. Coloquei seus restos numa caixa
de sapatos, envolta em papel de seda, disse algumas rezas em latim (que sabia
de cor, mas não entendia). E a enterramos. Para evitar que alguém capinasse seu
santo sepulcro, em torno dele enfiei alguns galhos de macieira recém-podada. Muito
tempo depois às macieiras cresceram e deram flores e frutos. Um belo túmulo
para uma galinha. Dai veio meu gosto pelas plantas, que não morrem tão
facilmente como os animais.
Se
eu fosse Esopo, poderia inventar um
lapidar adágio, que serviria de exemplo aos gregos e aos troianos. Seus
provérbios sobre galináceos são pífios, ele não apreciava as galinhas. Preferia
os galos. Imito um que ele destinou aos
ratos: “ Mais vale galinha magra no mato
do que gorda na boca da raposa .
Moral da história , salvei a galinha de uma morte certa e a condenei a morte
incerta.
Loraine Slomp Giron - historiadora
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