quarta-feira, 3 de julho de 2013

POMBINHA



            Sempre fui contida no afeto aos animais. Os cachorros também, tem um só dono  e a ele são fiéis até a morte. Meu tio Aléssio tinha um cachorro policial chamado Tupi. Como o Hachi do filme Sempre a seu lado, (baseado em fato real) Tupi  o seguia seu  aonde quer que ele fosse. Quando meu tio morreu, Tupi fugiu de casa. Não foi mais encontrado. Uma semana depois, foi achado morto sobre o túmulo de seu dono. O fato emocionou meia Farroupilha.
Foram poucos, meus animais de estimação. Tive muitos outros, mas que adotaram meus filhos como donos. Meu primo Renoi e eu mais  que primos, éramos amigos e irmãos, passamos parte de nossa infância juntos na Forqueta.De manhã cedo  éramos  encarregados por minha mãe de ver quais galinhas tinham posto ovos, para recolhe-los . Foi assim encontrei Pombinha, no galinheiro. Era bem novinha e branca.Tão pequenina  que  parecia mesmo uma pombinha. Até dava umas voadinhas, de um poleiro para outro, aqueles voos rasteiros das galinhas. Enquanto meu primo fazia a coleta dos ovos, eu brincava com minha galinha. As galinhas como pássaros  em geral não se afeiçoam. Pombinha nunca gostou de mim. Sei de aves que amam seus donos. Na Forqueta, dona (Marga) Rita, tinha um papagaio que gritava o nome dela, cada vez que ela se afastava. Vivia  com a perna presa numa cordinha.Como gritava!
             Aos poucos, Pombinha cresceu, seu destino selado seria a panela.  Eu ficava pensando no jeito de salvar a pobre condenada. Um dia resolvi, soltei Pombinha no quintal do vizinho, por sinal meu tio. Pensei ela podia ganhar o mato e se salvar. Na manhã seguinte bem cedo fui ver por onde ela andava. Boba como só ela voltara ao galinheiro, no qual tentava entrar. Fiz-me de louca e deixei-a fora do cercado.  Não deu outra, na manhã seguinte encontrei alguns de seus restos manchados de sangue. A raposa, famosa comedora dos  ovos do galinheiro  havia mudado sua dieta.
            Fiquei triste e meio (não muito) responsável por sua morte! Então fiz seu enterro com grande pompa. Coloquei seus restos numa caixa de sapatos, envolta em papel de seda, disse algumas rezas em latim (que sabia de cor, mas não entendia). E a enterramos. Para evitar que alguém capinasse seu santo sepulcro, em torno dele enfiei alguns galhos de macieira recém-podada. Muito tempo depois às macieiras cresceram e deram flores e frutos. Um belo túmulo para uma galinha. Dai veio meu gosto pelas plantas, que não morrem tão facilmente como os animais.
Se eu fosse Esopo, poderia inventar  um lapidar adágio, que serviria de exemplo aos gregos e aos troianos. Seus provérbios sobre galináceos são pífios, ele não apreciava as galinhas. Preferia os galos. Imito  um que ele destinou aos ratos: “ Mais vale galinha magra no mato  do que  gorda na boca da raposa . Moral da história , salvei a galinha de uma morte certa e a condenei a morte incerta.
Loraine Slomp Giron - historiadora


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