sábado, 28 de novembro de 2015

TRABALHO NO DNA















Faz alguns anos uma pelotense veio trabalhar aqui, ela me falou do estranhamento que sentiu em Caxias. Segundo ela as pessoas só pensavam em trabalhar. Não entendeu nada do que aqui acontecia. Quem não é  de origem imigrante e colona ,realmente não pode entender os caxienses .Como diz José Angeli :”Os caxienses tem o  trabalho no DNA”.Nada mais correto,pois agora tudo se trata de DNA,doenças ,identidade, características entre outras coisas.Antes era  a vontade de Deus que tudo guiava , agora é à força do  a DNA, que determina o homem.
Pode ser ou não decorrência do DNA,mas  o caxiense traz no sangue e no nome uma herança genética complexa. Os leitores sabem que os sobrenomes dos pobres datam do fim da Idade Média. Os nobres e os muito ricos ganharam seus sobrenomes pelos feitos e pelos fatos. Alguns levavam o nome de suas terras outros das batalhas ganhas, ou dos deuses de quem se diziam herdeiros.  
Os germânicos quando foi necessário dar um segundo nome às pessoas do povo, preferiram designar o individuo pela sua filiação. Assim surgiram os Peterson,Robinson entre milhares de outros. Lembrando que o sufixo son significa filho ,assim o filho de John tornava-se Johnson.
De forma geral entre os latinos  usou-se como sobrenome o  lugar de origem(Schio ,Cadore) ou nome do santo da capela(Tomasini )  e  preferentemente  o da profissão.  Como na colônia não havia Medicci, nem Borgia,nem Gonzaga  os nomes que marcam a região são os do povo,ou seja o nome dos mais desafortunados dos italianos.
 O italiano é único povo cujos sobrenomes trazem a profissão como marca primeira. Até  o modo italiano   designar  os sobrenomes pelos antepassados ganhou outra grife , o filho de Antônio  podia chamar-se pelo diminutivo,Tonin ,ou pelo  aumentativo, Tonon por exemplo. Havia também os sem pais e os sem lugar de origem estes ganhavam o sobrenome do lugar onde foram achados Tiburi ou Casagrande , seja o nome de uma   ponte ou de um  orfanato.Para verificar tal verdade basta verificar a origem dos sobrenomes italianos da colônia Caxias ,cito alguns : os Dal Acqua  aguadeiros, os Slomp mineiros,os Schiavo escravos ,os Dal Molin  moleiros ,os Barcarollo  barqueiros ,os Zattera  construtores de barcos e assim por diante.Hoje os que trazem estes nomes podem sentir orgulho deles ,mas outrora significava que eram trabalhadores braçais , pessoas sem nobreza ou riqueza.  Nomes de pobres!
Os tempos mudam com toda certeza.. Antes quem trabalhava era considerado inferior, ao contrario do senhor que não trabalhava.Antes, o trabalho  era opróbrio,  agora com ao advento do capitalismo ganhou  valor ,tornou-se  forma de gerar riquezas.Não há dúvida alguma não é apenas o tempo que muda , mudam também os valores, o modo de entender o mundo e até o mundo muda .Só trabalho não muda! O trabalho não enobrece, cansa!


sábado, 21 de novembro de 2015

SAUDADES DO PADROADO




  • INQUISIÇÃO DA IGREJA CATOLICA NA IDADE MÉDIA




Nada contra as religiões, elas têm servido para manter os rebanhos de crentes dentro dos redis. Tem ajudado a coibir a violência, mantendo os homens dentro dos limites da lei pelo temor divino. Afinal, nada como ela para acalmar os ímpetos assassinos dos homens. Fazer proselitismo e cobrança de dízimos pode ser assunto controverso, mas não ofende o Estado de direito.Muitas foram e são as tentativas de imiscuir o sagrado no profano.A maior parte dos preconceitos ai se origina ,pois se baseiam no pressuposto que há só uma verdade e só há um modo de agir.Respeitar as diferenças é coisa para sábios, não para dogmáticos.
 Há no Congresso Nacional um projeto de emenda constitucional que pretende dar as Associações Religiosas poderes semelhantes aos do Estado. O projeto dispõe sobre “a capacidade postulatória das Associações Religiosas para propor ação de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos normativos, perante a Constituição Federal.” O que significa que qualquer instituição religiosa poderá se aprovada a emenda se imiscuir nos projetos do Estado. Ou seja, dar a sua direção para o Estado.
No Brasil, durante o Império (1822-1889) tal papel foi desempenhado pela igreja católica, diga-se de passagem, com mais problemas do que soluções para os dois lados, o do direito e do sagrado. Quando nas últimas eleições  foram eleitas as  grandes bancadas dos  ruralistas e evangélicos  deu para ver para que lado ia o Brasil.Não deu outra. O sonho do padroado parece estar em vias de se tornar realidade.
A doutrina que une a Igreja ao Estado chama-se padroado. Padroado é doutrina que une Estado e Religião,ou seja o direito a uma crença religiosa.Foi durante o Renascimento que o humanismo conseguiu separar as duas esferas , a Igreja do Estado, a leis dos homens das dos deuses, que durante séculos engessou a humanidade. O Estado como instituição laica não pode e não deve ser barrado por dogmas e preconceitos, a pretexto de sua sacralidade. Basta ver o que tem acontecido com os grupos regidos pelos dogmas, O Projeto  que está sendo discutido é digno do  Estado Islâmico,ou seja a formação de uma teocracia . Os últimos acontecimentos da França atestam sobre  os perigos do pensamento teocrático.
 No Brasil, as associações religiosas já são suficientemente poderosas, pois,  estão protegidas por várias sinecuras, algumas discutíveis. Como a isenção de impostos, prática que garante a algumas igrejas poder igual aos  dos  bancos,que  estão  sempre  acima das crises e dos  problemas econômicos que assolam as demais empresas. Querer  liberdade de  culto é uma coisa, mandar no Estado é outra ,bem diferente..
Já dizia o filósofo Friedrich Nietzsche “As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.” Quem deve reger o Estado é a moralidade não o dogma! Como dizia o mesmo filósofo “A moralidade é a melhor de todas as regras para orientar a humanidade”. Não são necessárias outras!


sábado, 14 de novembro de 2015

ARTESÃOS









Artesanato pode parecer um assunto chato e sem interesse,mas a humanidade viveu a maior parte do tempo ,dependendo dele. Assim eram tecidas as roupas, feitos os sapatos, enfim os equipamentos necessários a vida. Antigamente, havia centenas de artesãos, vivendo e trabalhando no centro da cidade, havia grande procura pelos produtos que eles produziam.Muitas das grandes empresas de Caxias nasceram  em razão de suas habilidades como artesãos. Com a Revolução Industrial do século XVIII, os artigos feitos pelas manufaturas foram paulatinamente substituídos por produtos industriais.
Quem se lembra da empresa Zambelli? Endereço obrigatório na Julio de Castilhos, quase na esquina com a rua V. Mario Pezzi. O velho Tarquínio Zambelli fazia belos santos artesanais, que depois foram substituídos pelos de gesso. Coisas do tempo. A antiga empresa de Tecelagem Gianella surgiu pela habilidade de seu proprietário, o imigrante  italiano e  tecelão  Matteo Gianella  .Durante mais de cinquenta anos a tecelagem produziu capas , cobertores ,feltro entre outros artigos .
Uma das mais conhecidas artesãs foi Gigia Bandera, funileira que trouxe seu artesanato do norte da Itália,dando origem a Metalúrgica Abramo Eberle que por mais de noventa anos foi o símbolo da riqueza  de Caxias.
Na Rua Visconde de Pelotas entre a Julio e a Pinheiro, vivia o ferreiro Pauletti, que alem de ferrar cavalos fazia belos rendilhados de ferro, usados nas velhas sacadas que adornavam as casa mais ricas da cidade. Arte milenar do Vêneto trazida pelos imigrantes. Como Pauletti a maioria dos artesãos não acumulou o capital necessário  para se tornar uma grande empresa, em geral a arte morria com o artesão. O dinheiro não nasceu do artesanato, mas do comércio.
Antigamente, na zona rural havia dezenas deles.  Em cada casa possivelmente havia um homem ou um mulher que sabia tecer, fiar, bordar, da palha fazer bolsas e  do vime  cestas.Trabalhava-se ainda em madeira , os artigos de tanoaria usados na cozinha, como baldes, gamelas e barris para armazenar  bebidas.Era uma arte muito difícil e exigia muito trabalho e técnica. Hoje os velhos barris foram substituídos por recipientes de aço inoxidável, enfim mais uma arte perdida. Durante muitos anos as crianças aprenderam com os adultos as artes manuais. Por mais de uma centena de anos elas continuaram existindo. Hoje quase desapareceram na região, mas o artesanato continua.
Existem algumas organizações que trabalham com artesanato solidário, mas pouco tem conseguido. Em 2010 teve inicio o projeto “Pontos de Cultura”, ligado ao Programa Mais Cultura do Ministério da Cultura,  que pretendia manter e estimular o artesanato. Os pontos de cultura não tiveram o êxito desejado. Parece mentira, mas até hoje o artesanato não tinha reconhecimento em lei, portanto era para legal. Só agora foi sancionada a Lei 13.180, que reconhece a existência de 10 milhões de artesãos, que movimentam mais de 50 milhões de reais. Brasil, quanto atraso,tanto a fazer!


sábado, 7 de novembro de 2015

DISCURSO DO REI


           


  • ... Falando...: O mito do ateísmo de Fernando Henrique Cardoso
    Velho Monarca 


Há dois livros aos quais grande parte dos sociólogos brasileiros deve muito de sua formação: As metamorfoses do escravo de Octavio Ianni e Capitalismo e escravidão no Brasil Meridional de Fernando Henrique Cardoso. Um trata da escravidão como negação da negritude e o outro das condições dos escravos nas charqueadas sulinas. São obras fundamentais, assistentes de Florestan Fernandes, revisitaram o instituto da escravidão brasileira, negando o mito da democracia gaucha ,afirmando sua barbárie.
FHC tem inúmeras obras. No livro O modelo político brasileiro dá uma explicação clara e racional sobre os propósitos do Golpe de 64. Outra obra sua Dependência e Desenvolvimento na América Latina escrita com Enzo Faletto trata do subdesenvolvimento alinhando-se com o estruturalismo econômico da CEPAL A sociologia brasileira e o Brasil devem ao ex Presidente a salvação da economia nacional, da inflação galopante da década de oitenta, por meio do Plano Real, no governo e Itamar Franco. Nome sugestivo que remete ao caráter majestático do seu realizador.
O assunto da atualidade é a publicação do seu diário, onde detalha os dois primeiros anos da seu governo (1995-1996). O novo livro é de uma chatice inesgotável. Não há nele nem um único pensamento transcendental. O diário faz algumas revelações, em especial sobre o poder do PMDB no seu governo (como nos de outros presidentes) e de Michel Temer, atual vice-presidente. Trata do cotidiano de um monarca republicano sofrendo pressões de toda a ordem e que pretende dar a palavra final sobre miúdos fatos políticos. São palavras dele “Começo a sentir o travo amargo do poder, no seu aspecto mais podre de toma lá dá cá: se eu não der algum ministério (...) ou então”, “O mal está no grupo que me cerca”. Dá para sentir o clima de inveja que compõe o governo  e seu  espírito superior  ao falar sobre os ignorantes correligionários políticos.É  lastimável que o politiqueiro tenha substituído  o grande sociólogo,pelo jeito já de muito falecido. Para completar algumas pitadas do humor do ex-presidente. Para verificar como ele considera os professores: Se a pessoa não consegue produzir, coitada, vai ser professor. Então é aquela angústia para saber se o pesquisador vai ter um nome na praça ou se vai dar aula a vida inteira e repetir o que os outros fazem. ” E mais esta "   Nossas diferenças com o PT são muito mais em relação à disputa de poder do que sobre ideologia.  Maravilha!  Muitas pessoas até já esqueceram que ele foi presidente, e que foi ameaçado de impeachment por causa das suas dúbias  privatizações.
 FHC ao falar em seu Diário sobre a imprensa paulista que então  o atacava é enfático   “é a nostalgia do impeachment, como se houvesse uma imprensa capaz de derrubar pessoas”. Agora parece que ele passou a acreditar que ela pode sim!  Não tem insistido para a Presidente renunciar, por meio da  imprensa?