Velho Monarca
Há
dois livros aos quais grande parte dos sociólogos brasileiros deve muito de sua
formação: As metamorfoses do escravo
de Octavio Ianni e Capitalismo e
escravidão no Brasil Meridional de Fernando Henrique Cardoso. Um trata da escravidão
como negação da negritude e o outro das condições dos escravos nas charqueadas sulinas.
São obras fundamentais, assistentes de Florestan Fernandes, revisitaram o
instituto da escravidão brasileira, negando o mito da democracia gaucha
,afirmando sua barbárie.
FHC
tem inúmeras obras. No livro O modelo
político brasileiro dá uma explicação clara e racional sobre os propósitos
do Golpe de 64. Outra obra sua Dependência e
Desenvolvimento na América Latina escrita com Enzo Faletto trata do subdesenvolvimento alinhando-se
com o estruturalismo econômico da CEPAL A sociologia brasileira e o
Brasil devem ao ex Presidente a salvação da economia nacional, da inflação galopante
da década de oitenta, por meio do Plano Real, no governo e Itamar Franco. Nome
sugestivo que remete ao caráter majestático do seu realizador.
O
assunto da atualidade é a publicação do seu diário, onde detalha os dois
primeiros anos da seu governo (1995-1996). O novo livro é de uma chatice inesgotável. Não há nele nem um único pensamento transcendental. O
diário faz algumas revelações, em especial sobre o poder do PMDB no seu
governo (como nos de outros presidentes) e de Michel Temer, atual vice-presidente.
Trata do cotidiano de um monarca republicano sofrendo pressões de toda a ordem
e que pretende dar a palavra final sobre miúdos fatos políticos. São palavras dele “Começo a sentir o travo amargo do
poder, no seu aspecto mais podre de toma lá dá cá: se eu não der algum ministério
(...) ou então”, “O mal está no grupo que me cerca”. Dá para sentir o clima de
inveja que compõe o governo e seu espírito superior ao falar sobre os ignorantes correligionários políticos.É
lastimável que o politiqueiro tenha substituído o grande sociólogo,pelo jeito já de muito falecido. Para
completar algumas pitadas do humor do ex-presidente. Para verificar como ele
considera os professores: “Se a pessoa não consegue produzir, coitada, vai ser
professor. Então é aquela angústia para saber se o pesquisador vai ter um nome
na praça ou se vai dar aula a vida inteira e repetir o que os outros fazem. ” E
mais esta "
Nossas
diferenças com o PT são muito mais em relação à disputa de poder do que sobre
ideologia. ” Maravilha!
Muitas pessoas até já esqueceram que ele foi
presidente, e que foi ameaçado de impeachment por causa das suas dúbias privatizações.
FHC ao falar em seu Diário sobre a imprensa
paulista que então o atacava é
enfático “é a nostalgia do impeachment, como se
houvesse uma imprensa capaz de derrubar pessoas”. Agora parece que ele passou a
acreditar que ela pode sim! Não tem
insistido para a Presidente renunciar, por meio da imprensa?
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