sábado, 23 de janeiro de 2016

INCÊNDIOS


         







   Quem vive muito tempo numa mesma cidade, tem a estranha sensação de viver em outra cidade, já que a antiga que deixou de existir. Gerações de pessoas que vivem num mesmo lugar são como estranhos ocupando o lugar uns dos  outros ,os novos ocupando o lugar dos antigos,daqueles que  já se foram.  Cada casa teve outros moradores e outra cara. Cara pois as casas como as pessoas tem um fisionomia e um tempo.
             Na casa da esquina vivia um casal recém-casado, logo a família cresceu, chegou a   oito membros. Os filhos quando eram pequenos cresceram. Sabe Deus aonde andam. Hoje no lugar de antigo lar há uma empresa que nada tem a haver com a família, nem com sua história. Mas as vidas vividas na casa perduram, como uma sombra de uma nuvem, no chão de um dia claro.
            Na frente em outra casa, na esquina da Bento com a Montaury ,  vivia uma família complexa.Pai ,filhas ,casadas e netos . Uma grande e bela família. A casa construída por um juiz, que transferido para outro lugar, vendeu a casa feita com carinho, no melhor estilo art nouveau. A casa, hoje está abandonada e cercada já que  foi tombada, no entanto parece está esperando   para ser realmente tombada. Como tantas outras.
            Na outra esquina, na Montaury com a Pinheiro, há uma enorme garagem, antes no mesmo lugar havia um cinema. A história do cinema persiste debaixo dos escombros do último incêndio, que terminou com parte da história da cidade. O cine Teatro Apollo foi destruído por outro  incêndio, reconstruído se tornou o Cinema Opera, que por sua vez foi incendiado para poder ser desmanchado. A sombra do cinema perdura sobre a lastimável arquitetura da garagem. Parece que está presente  na horrenda garagem, depois de tanto tempo, o prédio sóbrio e clássico do velho Ópera. Ela está,  bem ali!
             No outro lado da rua havia uma casa velha de madeira. Lá existia o armazém Mandelli, a família do proprietário morava nos fundos e em cima fazia a vida uma prostituta manca. Bem no centro da cidade. Às vezes havia fila, clientes esperando para serem atendidos por ela. Ela era teúda e manteúda por farmacêutico caolho e casado, cuja farmácia na Julio bem na defronte a Praça. Num dia sete de setembro de 1945 caiu um avião teco-teco, sobre a figueira que havia nos fundos da residência da família. Mas ninguém morreu. Durante algum tempo na casa funcionou o jornal Pioneiro, por fim foi incendiada. Na frente da velha casa havia a malharia Caxiense, uma das muitas que havia. Mais tarde virou o Hotel Ópera, incendiado na década de sessenta. Um hóspede ficou preso no segundo andar, mas foi resgatado em tempo pelos bombeiros.

            Três em cinco casas do velho Centro foram incendiadas. Há muitas outras. Caxias sempre foi uma cidade de pacíficos incendiários, desejosos de lucro. Parece que os incomoda o antigo e o belo. Basta olhar os seus medonhos edifícios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário