Quem vive muito tempo numa mesma cidade, tem a estranha sensação de viver em outra cidade, já que a antiga que deixou de existir. Gerações de pessoas que vivem num mesmo lugar são como estranhos ocupando o lugar uns dos outros ,os novos ocupando o lugar dos antigos,daqueles que já se foram. Cada casa teve outros moradores e outra cara. Cara pois as casas como as pessoas tem um fisionomia e um tempo.
Na casa da esquina
vivia um casal recém-casado, logo a família cresceu, chegou a oito
membros. Os filhos quando eram pequenos cresceram. Sabe Deus aonde andam. Hoje
no lugar de antigo lar há uma empresa que nada tem a haver com a família, nem
com sua história. Mas as vidas vividas na casa perduram, como uma sombra de uma
nuvem, no chão de um dia claro.
Na frente em outra casa, na esquina da Bento com a
Montaury , vivia uma família
complexa.Pai ,filhas ,casadas e netos . Uma grande e bela família. A casa
construída por um juiz, que transferido para outro lugar, vendeu a casa feita
com carinho, no melhor estilo art nouveau.
A casa, hoje está abandonada e cercada já que foi tombada, no entanto parece está
esperando para ser realmente tombada.
Como tantas outras.
Na outra esquina, na Montaury com a Pinheiro, há uma
enorme garagem, antes no mesmo lugar havia um cinema. A história do cinema
persiste debaixo dos escombros do último incêndio, que terminou com parte da
história da cidade. O cine Teatro Apollo foi destruído por outro incêndio, reconstruído se tornou o Cinema
Opera, que por sua vez foi incendiado para poder ser desmanchado. A sombra do
cinema perdura sobre a lastimável arquitetura da garagem. Parece que está
presente na horrenda garagem, depois de
tanto tempo, o prédio sóbrio e clássico do velho Ópera. Ela está, bem ali!
No outro lado da
rua havia uma casa velha de madeira. Lá existia o armazém Mandelli, a família
do proprietário morava nos fundos e em cima fazia a vida uma prostituta manca.
Bem no centro da cidade. Às vezes havia fila, clientes esperando para serem atendidos
por ela. Ela era teúda e manteúda por farmacêutico caolho e casado, cuja farmácia
na Julio bem na defronte a Praça. Num dia sete de setembro de 1945 caiu um
avião teco-teco, sobre a figueira que havia nos fundos da residência da família.
Mas ninguém morreu. Durante algum tempo na casa funcionou o jornal Pioneiro, por
fim foi incendiada. Na frente da velha casa havia a malharia Caxiense, uma das
muitas que havia. Mais tarde virou o Hotel Ópera, incendiado na década de
sessenta. Um hóspede ficou preso no segundo andar, mas foi resgatado em tempo
pelos bombeiros.
Três em cinco casas do velho Centro foram incendiadas. Há
muitas outras. Caxias sempre foi uma cidade de pacíficos incendiários,
desejosos de lucro. Parece que os incomoda o antigo e o belo. Basta olhar os
seus medonhos edifícios.
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