sábado, 28 de maio de 2016

MIDIA & PODER




            

      Na política (Política é outra coisa) não há nada de muito profundo. O poder é seu foco. Quando não detém o poder os partidos políticos tratam de tomá-lo, seja do jeito que for. As leis e regulamentos nem sempre resolvem, a violência ao contrario tem sido a mais eficiente das práticas políticas. A mesma violência que rege o mundo natural, que teria sido vencido pelo mundo da lei. Simples engano. 
            A política é uma das principais fontes do poder. O dinheiro é mais importante do que ela, e, portanto a manipula. Os políticos em geral são teúdos e manteúdos pelo capital. Este garante  tanto as vitórias eleitorais  como  os golpes contra a democracia. Com o poder os políticos conseguem lucros, que sem ele seria impossível.  Sempre há a venda de votos, os superfaturamentos, os desvio de verbas e outros procedimentos ilícitos, usados continuamente.
            O poder algumas vezes reside no partido político que detém a maioria dos parlamentares. Outras vezes no domínio do capital que manipula as posições, por fim na mídia. Na grande imprensa (seja escrita, falada ou digitalizada) as verdades são mudadas em factoides. O Quarto Poder continua a dar as ordens ao Brasil         
            O Rio Grande é exemplo do poder político da mídia. O poder da mídia cresceu a partir da década de sessenta unificando o poder jornalístico, o do rádio e o da televisão. Ela tem sido o maior partido político do estado. Um rápido levantamento dos nomes de políticos importantes como senadores, governadores e deputados revela que foram (ou são) parte da grande imprensa, por ela se tornaram conhecidos, e, assim se elegeram. Os partidos nos quais se inscrevem não é importante, todos pertencem ao mesmo partido que é o do grupo do qual fazem parte. São conservadores e ponto!      
            A televisão detém tal poder que praticamente reduziu o Estado a duas forças: os tricolores e os colorados, repetindo a velha formula gaucha de republicanos e maragatos.  Ela determina a hora das transmissões do futebol e quem será agraciado com suas verbas.  Quem disse um dia, que o Rio Grande era o estado mais evoluído do Brasil? Foi-se tal tempo!
            Para Sócrates “O poder se torna mais forte quando ninguém pensa”. Assim tudo o que é feito, é aceito se a mídia aprovar. Sempre é possível mudar de posições políticas e assim acompanhar as do poder hegemônico. Tudo muito simples,como mudar de roupa.
            Outrora Maquiavel já afirmou: ”Em política, os aliados de hoje são os inimigos de amanhã.” Nesta forma de pensar o caminho da política (e do poder) é a traição. Isto transforma a questão política em questão ética, de imoralidade. Pelo menos uma coisa parece certa, os que vencem a custa da traição jamais conquistarão a vergonha! Nem o respeito da história!






sábado, 21 de maio de 2016

ADMIRÁVEL GADO NOVO


         





A situação política atual faz lembrar uma música de João Ramalho, de 1980, dos velhos tempos da ditadura (agora são os novos tempos), cujo refrão é “Povo marcado, ê ê Povo feliz, ela fala da submissão do brasileiro”.  Infelizmente é exatamente assim que vive o povo! Sem reclamações nem revoltas. Tiram-lhe a Presidente e o que se vê são as alegrias da traição. Isto não é de hoje, vem de muito longe, dos tempos dos caciques e dos tempos da escravidão.. O povo não se revolta nem mesmo quando seus direitos de voto (os únicos que tem) lhes são roubados.
            A música continua: ”Os automóveis ouvem a notícia, os homens a publicam no jornal (...). Demoram-se na beira da estrada  e passam a contar o que sobrou.” E o que sobrou? Aquilo que a noticia deu não exatamente a verdade.. O povo não escuta ,nem vê apenas repete o que as noticias dizem.  Uma pena!
            Mas há um segmento da população que não pensa e nem age assim, são os estudantes. Em geral desprezados nas analises sociológicas e até pela história. Foram eles os mártires da democracia durante a Gloriosa, foram eles pegaram em armas e foi para as ruas gritar pela democracia. Nós os mais velhos podemos contar com o passado, mas é deles o futuro.
            Milhares de lideranças jovens nasceram cresceram e foram mortas durante a Ditadura, muitas das que sobraram venderam-se ao poder, com todos seus acessórios: corrupção, comodismo, consumismo entre outros. Hoje alguns deles ocupam governos e apoiam os golpes mais degradantes, mas em compensação treinam a juventude na revolta.
            A beleza do antigo PT, em seus tempos áureos foi a de dar voz aos estudantes e a juventude. Era a jovem militância que levava às ruas sua coragem a suas bandeiras vermelhas e estreladas. Faz tempo ( 16 anos exatamente) que ao mudar de lado ele  esqueceu de seus jovens , que fugiram para outros sóis mais resplandecentes.
            Poucos se dão conta, que os governos de direita (como o PSBD em São Paulo) tem feito ótimo trabalho na orientação dos jovens e ao futuro político do Brasil. Ao bater nos estudantes eles insuflam a revolta, demarcam com ódio suas ações e destroem seu próprio futuro. Bater na juventude é tarefa da direita A direita brasileira treina os jovens para novas posições políticas  de esquerda, que podem  não ser tão suaves quanto as da estrela , tão  favorável aos diálogos impossíveis entre o capital e o trabalho.
A música de Zé Ramalho trás a marca do futuro quando diz

Vocês que fazem parte dessa massa
Que pensa nos projetos do futuro

É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber.·.

domingo, 15 de maio de 2016

13 DE MAIO


           


Princesa Isabel: assinou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888


Há 128 anos foi abolida a escravidão no Brasil, foi um dos últimos países do mundo a fazer isto, como também foi dos últimos a sancionar a lei do divórcio. Não se pode acusar os brasileiros de excesso de democracia nem de excesso de liberdades democráticas. Nos últimos anos a data tem sido ignorada, pois os festejos se voltam para 20 de novembro data alusiva a Zumbi de Palmares. Não é possível o esquecer o papel decisivo da Princesa Isabel na promulgação da Lei Áurea, nem  sua luta pela abolição da escravidão. Ela não é um mito apenas uma princesa que acreditava na igualdade racial.

            Durante anos o Brasil acreditou em mitos. Da igualdade racial e da democracia racial gaucha entre outras tantas mentiras criadas para justificar a escravidão e a injustiça. Muito de deve a obra de Gilberto Freire  Casa Grande e Senzala que de certa maneira minimizou o problema racial ,forjando o mito da democracia racial brasileira.  Não há distinção no sentido do escravismo colonial seja em pais for.  A escravidão é sempre execrável e imperdoável. 

            Nos Estados Unidos onde a escravidão e a descriminação foram brutais

(como as do Brasil por sinal.) tem sido publicadas obras de não ficção sobre o tema. .Obras de valor, como o depoimento de Solomon Northup publicado com o nome de Doze anos de escravidão e mais recentemente o livro de Ta-Nehisi Coates, sob a forma de uma carta a seu filho sobre racismo.  O livro chamado Entre o Mundo e Eu é imperdível.  Nele Coates relata o significado de viver num corpo negro, num mundo de americanos brancos.   O jornalista frequentou a Meca, nome dado a Howard University. Universidade privada de Washington onde estudam negros. Nesta Universidade Coates conheceu   Prince Jones líder  estudantil , que foi morto por um policial( por sinal também negro) . .A sua morte despertou a consciência de Ta- Nehesi, que compreendeu da forma mais dura o que é ser negro nos Estados Unidos, onde o racismo está longe de ser vencido. O livro é um grito de alerta sobre o racismo Recomendado por  Toni Morrison,  única autora negra a receber o premio Nobel de Literatura ,que diz que  ele é de  leitura obrigatória ,  e que  ocupa  o espaço deixado por  James Baldwin, um dos maiores escritores dos Estados Unidos,líder exponencial  da luta dos negros pelos seus  direitos  civis .

            O Entre o Mundo e Eu rejeita os ensinamentos pacifistas de Martin Luther King. Coates, filho de Pantera Negra e leitor de Malcolm X, afirma referendo-se aos negros pacifistas: “Os mansos eram surrados no oeste de Baltimore, pisoteados no Walbrook Junction, espancados me Parks Heights e estuprados nos chuveiros da prisão municipal. Meu entendimento do universo era físico, e seu arco moral se inclinava para o caos e terminava num caixão.” Ou seja, Coates clama pelo direito ser contrario ao sonho de uma América branca e racista, não de forma pacífica, mas por meio de uma nova consciência e da luta diária pela sobrevivência. Está muito distante o dia da igualdade entre brancos e negros nos Estados Unidos. E no Brasil é diferente? Onde se escondem os Coates brasileiros?


 

segunda-feira, 9 de maio de 2016

METAMORFOSE


            







Naquela manhã gelada de abril de 2016, Loraine K foi avisada que já não mais existia. Saiu de casa com o objetivo   de avisar a empresa de televisão acabo que não precisaria fazer a visita agendada porque o problema havia sido resolvido pelo neto. Simples caso de um cabo desligado. 
            Caminhando pela rua envolvida pelo cortante vento polar, Loraine K pensou que seria tarefa fácil. A empresa era próxima do local onde fora fazer massagem. Em dois minutos, depois de dar o recado, poderia voltar para casa e para o aconchego do ar-condicionado. Mal sabia que seu mundo logo seria virado pelo avesso.
            Na agência da TV por assinatura ela apanhou a ficha e aguardou 20 minutos na fila. Finalmente conseguiu chegar à atendente, que a recebeu com a simpatia e a compleição de um gorila. ”Qual é seu problema?”, perguntou. Loraine K respondeu: “Nenhum. Só quero cancelar a visita do técnico à minha casa”. ”Passe-me os documentos!”, gritou. Loraine K disse calmamente: “Eu não trouxe os documentos, pois só vim avisar do cancelamento da visita”. Informou seu endereço, CPF e de contrato, Segundo a atendente, tais dados eram insuficientes. Ela deveria ter em mãos os documentos. Para concluir, falou com autoridade: “A senhora ainda não sabe? Quem não tem documentos não existe.” Sem os documentos que comprovassem a sua existência, Loraine K ficou sabendo que havia sido substituída por papéis. Ela própria deixara de existir.
            Tentou ainda inutilmente explicar para a troglodita que nada devia e nem queria comprar nada; só avisar que não precisavam passar em sua casa, pois nada havia para consertar. Depois muito insistir, Loraine K conseguiu que a atendente acessasse o sistema com o número de CPF. Levaram outros vinte minutos para resolver o grave impasse.  Perguntou “Está tudo certo?” A atendente respondeu: ”Longe disso! Estou só conferindo seus dados.” Meia hora depois, Loraine K sai de lá extenuada, menos pela hora perdida que pela lógica do sistema para a qual o “cogito” de Descartes: “Penso logo existo” inexiste. O pensamento se metamorfoseou em: “Registro logo existe.”.
            Já não basta existir. Agora é preciso documentar a existência.Agora ser  é ser papel. Loraine K viveu mais uma parábola kafkiana. Como diz um sábio anônimo da Internet: “Burocracia: A Arte de converter o fácil para o difícil através do inútil”. Ou, nas palavras de Eugene McCarthy:A única coisa que nos salva da burocracia é a sua ineficiência.
            A burocracia tem colocado o papel no lugar do ser humano. Elemento essencial da burocracia é o burocrata. Substituído por espécimes femininos de pitecantropo,  tem sido contratado para atendimento publico nas empresas de celulares, como sucedâneo do burocrata tradicional.
    Loraine K agora papel está salva pelo  seu senso de humor.