quinta-feira, 22 de agosto de 2013

QORPO SANTO


José Joaquim de Campos Leão (1829-1883),nasceu em Triunfo e morreu em Porto Alegre. Adotou como o nome literário  Qorpo Santo, de acordo com a ortografia por ele proposta . Foi professor do magistério público, dramaturgo, poeta, jornalista, tipógrafo, gramático e editor gaúcho.. È um dos mais originais e mordazes  escritores brasileiros. Seu teatro do absurdo e  sua poesia marginal fazem dele um modernista avant  la lettre , como essa :Tão lindas as aranhas/Tão belas, tão ternas/Pois caem do teto/E não quebram as pernas.” Durante anos foi esquecido e posto no ostracismo.Só após 1970 foi  redescoberto e hoje serve como tema de dissertações e teses.
Sua vida foi uma tragédia. Quando tinha 33 anos começou apresentar pretensos problemas mentais o que levou sua esposa a requerer e conseguir  sua interdição pessoal  e a  judicial de seus bens Original mesmo foi o diagnóstico dado à sua ‘doença’: monomania com compulsão pela escrita.Logo   pediu o divórcio( ?)O  engraçado é que então o divórcio ainda não era legal Portanto deve ter pedido separação de corpos.
Qorpo foi internado no hospício e durante sua  estada escreveu diversas obras.Semanas depois, foi  confirmada sua sanidade mental.O  laudo médico  foi assinado por Dr. Torres Homem, que era o maior especialista da época.tendo então recebido alta . Não pretendo aqui fazer um estudo sobre Qorpo Santo apenas chamar a atenção para um  fato , em Caxias no começo do século XX havia apreciadores do mestre do absurdo. O que é  raro  não só em Caxias como em jornais brasileiros de então! Foi  jornal  Cittá de Caxias ,de 18 de abril de 1922, que na primeira página apareceu  um longo artigo com o título  ‘Obras literárias impagáveis’,escrito por Samorin G. de Andrade.O artigo  merece ser lido pelos que apreciam  literatura.
Escreve Samorin que conheceu Qorpo Santo há 40 anos, tendo visitado sua tipografia ,que estava situada num sobradinho, na esquina das ruas dos Andradas  e General Câmara. Segundo ele então o autor estava compondo (na tipografia )sua obra ‘Enciclopédia seis semanas de uma enfermidade’, composta de  cinco volumes. Já tinha publicado dois volume primeiros, o terceitro e o quarto já tinham sido compostos  e o quinto estava no prelo. Foi então que a morte chegou para o poeta. Escreve ainda  que Qorpo Santo teria se” reencarnado” na pessoa do mestre Teixeira Netto que publicou os demais volumes,dando assim paz a alma do poeta.
 Para quem acredita que Caxias foi povoada por um bando de imigrantes ignorantes, chamados por Moyses Vellinho de Massa Ignara, não custaria ler os antigos jornais locais que tratam de literatura e de artes. Há matérias para teses e dissertações e  belas surpresas.
O passado tem sido estereotipado como algo atrasado, só a ignorância do presente pode atribuir isso ao passado. Como disse o sábio Millor Fernandes:”o passado é o presente usado!’E não é?



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