José Joaquim de Campos Leão (1829-1883),nasceu em Triunfo
e morreu em Porto Alegre. Adotou como o nome literário Qorpo Santo, de acordo com a ortografia por
ele proposta . Foi professor do magistério público, dramaturgo, poeta,
jornalista, tipógrafo, gramático e editor gaúcho.. È um dos mais originais e
mordazes escritores brasileiros. Seu
teatro do absurdo e sua poesia marginal
fazem dele um modernista avant la lettre , como essa :Tão lindas as aranhas/Tão belas, tão ternas/Pois caem do
teto/E não quebram as pernas.” Durante anos
foi esquecido e posto no ostracismo.Só após 1970 foi redescoberto e hoje serve como tema de
dissertações e teses.
Sua vida foi uma tragédia. Quando tinha 33 anos começou apresentar
pretensos problemas mentais o que levou sua esposa a requerer e conseguir sua interdição pessoal e a
judicial de seus bens Original mesmo foi o diagnóstico dado à sua ‘doença’: monomania com compulsão
pela escrita.Logo pediu o divórcio( ?)O engraçado é que então o divórcio ainda não era
legal Portanto deve ter pedido separação de corpos.
Qorpo foi internado no hospício e durante sua estada escreveu diversas obras.Semanas
depois, foi confirmada sua sanidade
mental.O laudo médico foi assinado por Dr. Torres Homem, que era o
maior especialista da época.tendo então recebido alta . Não pretendo aqui fazer um estudo sobre Qorpo Santo
apenas chamar a atenção para um fato ,
em Caxias no começo do século XX havia apreciadores do mestre do absurdo. O que
é raro não só em Caxias como em jornais brasileiros
de então! Foi jornal Cittá de Caxias ,de 18 de abril de 1922, que na
primeira página apareceu um longo artigo
com o título ‘Obras literárias
impagáveis’,escrito por Samorin G. de Andrade.O artigo merece ser lido pelos que apreciam literatura.
Escreve Samorin que
conheceu Qorpo Santo há 40 anos, tendo visitado sua tipografia ,que estava situada
num sobradinho, na esquina das ruas dos Andradas e General Câmara. Segundo ele então o autor
estava compondo (na tipografia )sua obra ‘Enciclopédia seis semanas de uma
enfermidade’, composta de cinco volumes.
Já tinha publicado dois volume primeiros, o terceitro e o quarto já tinham sido
compostos e o quinto estava no prelo. Foi
então que a morte chegou para o poeta. Escreve ainda que Qorpo Santo teria se” reencarnado” na
pessoa do mestre Teixeira Netto que publicou os demais volumes,dando assim paz
a alma do poeta.
Para quem acredita que Caxias foi povoada por
um bando de imigrantes ignorantes, chamados por Moyses Vellinho de Massa Ignara,
não custaria ler os antigos jornais locais que tratam de literatura e de artes.
Há matérias para teses e dissertações e belas surpresas.
O passado tem sido
estereotipado como algo atrasado, só a ignorância do presente pode atribuir isso
ao passado. Como disse o sábio Millor Fernandes:”o passado é o presente usado!’E
não é?
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