Antônio
era um solteirão que amava as crianças. Tinha um carinho todo especial pelas as
meninas púberes, imigrante italiano, ele ocupou alguns cargos políticos na
velha Nova Vicenza. Um dia conheceu uma viúva que tinha duas filhas pequenas. Ele
logo percebeu o potencial daquele casamento e como o professor Humbert Humbert ,de Lolita
(Nabokov,1997) atirou-se de cabeça na nova união. Quem me contou essa história foi
uma senhora centenária, sem qualquer tipo de juízo de valor. Como algo muito
natural e comum, apenas mais um fato.
Enquanto
as enteadas amadureciam, aparentemente, foi bom marido. Nada faltava à família,
o novo casal não teve filhos. Passados poucos anos quando a menina mais velha
completou 12 anos, o padrasto a violou. Ao que tudo indica não houve traumas
maiores e a ignóbil relação continuou por três anos. Nem a mãe nem a irmã
perceberam o que acontecia, ou preferiram não perceber, disso eu não sei. Pouco
tempo depois ela se casou. Um dia chegou à vez da filha mais nova, ter a idade
certa, e, mais uma vez, tudo se passou como da primeira vez, de forma
supostamente tranquila. Um dia a menina começou a engordar, a mãe descobriu que
ela estava grávida. Não dava mais para disfarçar, algo de grave havia acontecido.
Antônio não teve dúvidas, imediatamente se pôs em campo e conseguiu um bom marido
para sua ‘filha’. Ajudou em tudo, e os dois
casarem.
Tudo parecia ir bem, até que seu filho começou
a crescer. Como aconteceu com o Ezequiel de Dom
Casmurro (1899, Assis) o menino era a cara de Antônio, ‘cara de um focinho
do outro’, não havia como esconder. Como
diz o bom Machado : ’ Nem só os olhos, mas as restantes feições, a cara, o
corpo, a pessoa inteira, iam-se apurando com o tempo. Era como um debuxo
primitivo que o artista vai enchendo e colorindo aos poucos. Enfim copiando o autor:
era o próprio, o exato, o verdadeiro Antônio. A diferença era apenas idade, um mais
novo outro mais velho, no restante, idênticos em tudo, até nos mínimos detalhes.
Este
era aquele.
Não
havia quem não percebesse a semelhança: sua esposa, seu genro e a Vila inteira.
Ninguém tinha dúvidas de quem era o pai. Engana-se quem pensa em tragédia! Não houve
violência nem mortes acidentais, apenas a vida passando dia a dia. Viveram felizes
até o fim de seus dias. Um dia Antônio morreu de velhice e virou escola. Seu filho se tornou motorista e dono de uma colônia,
pois, ao morrer o pai legou-lhe um bom pedaço de terra. Segundo Machado: ‘Eis aí mais um mistério para ajuntar aos
tantos deste mundo. Qualquer que seja a
solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos’. No
mais, no dia em que os homens (e as
mulheres) forem decifrados, não haverá mais necessidade de romancistas!
Loraine Slomp Giron - Historiadora
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