domingo, 11 de maio de 2014

MÃES


 Não há nada mais difícil do que falar de mãe. Especialmente quando se teve uma e se é  uma delas. Falar de mãe é falar de  si mesma, que é o que há   de mais íntimo do mundo.Mais do que falar, difícil mesmo é  ser mãe. Formar outro ser é ação tão delicada quanto crescer. Faz-se o que é possível, mas não se atinge nunca a altura desejada. Os seres humanos nascem feitos pelo cruzamento de milhares de genes cuja origem é desconhecida. A genética é tão decisiva quanto a sua formação moral. Assim nada mais complicado que falar de relações entre mães e filhos. Seres  que são ligados apenas pelo afeto.
Minha mãe era belíssima tinha olhos verdes e longos cabelos lisos, castanho escuro. Era elegante, de estatura mediana. Foi uma das moças mais bonitas de Nova Vicenza, tendo sido na capa de revistas. Fora criada por uma irmã casada, já que sua mãe morreu cedo e o pai ficou com 12 filhos. Era uma carente eterna de amor Não é preciso dizer mais nada. Teve três filhas, nenhuma herdou sua beleza. Até nos diziam que as três juntas não podíamos competir com a beleza da mãe Era machista e conservadora, e o que era pior, acreditava piamente na superioridade dos homens. Tinha carisma e sabia dominar os que a cercavam, sempre prontos a servi-la. . Eu gostava dela, apesar disso tudo. Quando começou a perder a beleza e a juventude viveu dramas medonhos. Passíveis de análise.
Ela desejava um filho homem Então nasci eu, ruiva, magérrima e menina. Feia além de tudo, com cara de minha avó paterna, sogra que ela detestava. Revolucionária desde o berço e que nunca aceitou ordens. Para completar feminista avant la letre. Ela exigia que eu fosse igual a minha irmã mais velha que era a cara de minha avó materna. Bonita, obediente, caprichosa e ótima  em trabalhos manuais. Tudo o que eu não era. Eu gostava de ler e de pintar paredes. Coisas assim pouco femininas (pelo menos consideradas  então). Foi uma convivência difícil e dolorosa. Que acabou num internato em Porto Alegre. Pensando agora no passado eu a entendo melhor, mas eu queria casar logo para fugir dela. Quando se é jovem não se tem paciência com os pais.
Criei meus filhos sozinha tendo de trabalhar (dando até 64 horas semanais de dando aulas ) para alimenta-los.Ainda assim  tive problemas menores do que os dela na  criação deles . Ou assim pensei eu. Vai saber! Na realidade ser mãe é coisa muito complexa. Só se sabe ser mãe sendo. Ser mãe é algo genético tão profundo que é inútil tentar entender. Como diz o filosofo Luis Fernando Veríssimo ( que nunca foi mãe) “A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final.” Na verdade não se faz  o layout dos filhos , apenas seu projeto. A execução do projeto nem sempre é o que se pensou. Não é mesmo?  
Loraine Slomp Giron- mãe e historiadora


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