Não há nada mais difícil do que falar de mãe. Especialmente
quando se teve uma e se é uma delas. Falar
de mãe é falar de si mesma, que é o que
há de mais íntimo do mundo.Mais do que falar,
difícil mesmo é ser mãe. Formar outro
ser é ação tão delicada quanto crescer. Faz-se o que é possível, mas não se
atinge nunca a altura desejada. Os seres humanos nascem feitos pelo cruzamento
de milhares de genes cuja origem é desconhecida. A genética é tão decisiva
quanto a sua formação moral. Assim nada mais complicado que falar de relações
entre mães e filhos. Seres que são
ligados apenas pelo afeto.
Minha
mãe era belíssima tinha olhos verdes e longos cabelos lisos, castanho escuro.
Era elegante, de estatura mediana. Foi uma das moças mais bonitas de Nova
Vicenza, tendo sido na capa de revistas. Fora criada por uma irmã casada, já
que sua mãe morreu cedo e o pai ficou com 12 filhos. Era uma carente eterna de
amor Não é preciso dizer mais nada. Teve três filhas, nenhuma herdou sua beleza.
Até nos diziam que as três juntas não podíamos competir com a beleza da mãe Era
machista e conservadora, e o que era pior, acreditava piamente na superioridade
dos homens. Tinha carisma e sabia dominar os que a cercavam, sempre prontos a
servi-la. . Eu gostava dela, apesar disso tudo. Quando começou a perder a
beleza e a juventude viveu dramas medonhos. Passíveis de análise.
Ela
desejava um filho homem Então nasci eu, ruiva, magérrima e menina. Feia além de
tudo, com cara de minha avó paterna, sogra que ela detestava. Revolucionária
desde o berço e que nunca aceitou ordens. Para completar feminista avant la letre. Ela exigia que eu fosse
igual a minha irmã mais velha que era a cara de minha avó materna. Bonita,
obediente, caprichosa e ótima em
trabalhos manuais. Tudo o que eu não era. Eu gostava de ler e de pintar
paredes. Coisas assim pouco femininas (pelo menos consideradas então). Foi uma convivência difícil e
dolorosa. Que acabou num internato em Porto Alegre. Pensando agora no passado
eu a entendo melhor, mas eu queria casar logo para fugir dela. Quando se é
jovem não se tem paciência com os pais.
Criei
meus filhos sozinha tendo de trabalhar (dando até 64 horas semanais de dando aulas
) para alimenta-los.Ainda assim tive
problemas menores do que os dela na criação deles . Ou assim pensei eu. Vai saber!
Na realidade ser mãe é coisa muito complexa. Só se sabe ser mãe sendo.
Ser mãe é algo genético tão profundo que é inútil tentar entender. Como diz o
filosofo Luis Fernando Veríssimo ( que nunca foi mãe) “A verdade é que a gente
não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final.” Na verdade
não se faz o layout dos filhos , apenas seu
projeto. A execução do projeto nem sempre é o que se pensou. Não é mesmo?
Loraine Slomp Giron- mãe e historiadora
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