quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


IMAGENS DO BRASIL



Dois dos símbolos do Brasil. Internet

Sou de um tempo em que se cultivavam valores. . Em cada sala de aula havia um crucifixo e um cartaz que dizia “Ama com fé e orgulho a terra em que nascestes, não há no mundo pais igual a este.” Os versos  de Bilac escritos sobre um mapa do Brasil  representavam a ideologia de uma época.Outro cartaz mostrava o símbolos do Brasil; a bandeira e o escudo.
 A geração pós Estado Novo foi marcada pelo nacionalismo Aprendiam-se de cor os hinos da pátria (o nacional e o da independência )como a tabuada e o alfabeto. A ideia força era então a Nação. Ninguém falava na Revolução Farroupilha com orgulho , nem se cultivavam regionalismos separatistas.A grande festa  da cremação das bandeiras em dez de novembro de 1937  realizada no Rio de Janeiro ,marcou o inicio de um estado unitário contra o qual não se opunham símbolos regionais .As bandeiras dos estados simbolizavam um pais federativo onde os estados eram mais fortes que a União.
Após 1946 as coisas mudaram. Os estados retomaram sua força e os movimentos regionalistas ganharam outra dimensão.  No Rio Grande do Sul, em 1947, Barbosa Lessa e Paixão Cortes ainda estudantes lutaram pela criação do Centro de Tradições Gaúchas 35. Poucos anos depois foi criado o MTG (Movimento Tradicionalista Gaucho) Renascendo então o velho separatismo e o ufanismo regional, que de certa forma reduziu o culto Brasil. Pátria e patriotismo se tornaram coisas menores.E  em tempos de globalização até a língua nacional passou a ser menosprezada.
A imagem do Brasil no exterior também mudou com o tempo.  Supervalorizado pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra, como parte política de boa vizinhança, passou a ser tratado no período da Ditadura militar ( 1964-1988)  como mais uma das mais corruptas repúblicas das bananas ,servas do vizinho do Norte. Foi à época da luta pela dupla cidadania, quando os brasileiros imploravam  trabalho na Europa. Era o tempo das vacas magras.
Foi-se o tempo do Brasil conhecido apenas pelo futebol e pelo Carnaval, que  agora se tomou um país que cresce e tem empregos As coisas mudaram, a política externa brasileira funcionou e a economia nacional se superou. Hoje o Brasil vende a imagem de um país que deu certo. As novelas da rede Globo e o governo de Lula ajudaram a impulsionar essa nova imagem.
A divisão internacional do trabalho se inverteu, agora são os europeus que buscam trabalho no Brasil. Os turistas brasileiros invadem e dominam as capitais europeias, batendo os japoneses. È incrível seu número e sua presença. Agora, enquanto os europeus protestam, os brasileiros passeiam. Quem ama o Brasil não pode deixar de sentir orgulho pela radical mudança de sua imagem.
Loraine Slomp Giron 
Twitter :loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/

 PÁTRIA
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha…
Quem com seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o sue esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
Olavo Bilac

quinta-feira, 29 de novembro de 2012


VANDA OU A PAIXÃO
Antinoo,  Museu de Eleusis .2012


Um dia cheguei na casa de minha mãe e ela me alertou” Não faz barulho” fiquei espantada ,pois em geral sou silenciosa. Perguntei” Por que ? Ela respondeu mais do que depressa: “a Vanda está dormindo”. Eu nem lembrava quem era Vanda, pois a casa de minha mãe era frequentada pelos mais estranhos seres, que ela recolhia  e nos mais diversos locais e  situações. Às vezes era um pedinte, às vezes um vendedor ambulante ou a dona da banca da esquina. Coisas de Dejanira!
Acontece que a acolhida daquele dia era membro da melhor sociedade local. Então em voz muito baixa me: contou que estava na casa da Iria B.(enfermeira aposentada) quando chegou a Vanda toda machucada. Ela havia sido posta para fora de casa, e completou  “Como não tinha onde ficar eu a trouxe para casa ”. Quem a havia expulsado  fora  o motorista, que passara a prestar alguns outros serviços.
Vanda tinha 81 anos. Havia sido uma mulher mimada pela sorte, filha de pais ricos se casara com um homem muito mais velho, que o seu próprio pai. Ele também era muito rico. O marido a tratara como uma filha muito amada e fizera todas suas vontades. Com o passar do tempo ele envelhecera, durante anos esteve entrevado e a pobre Vanda não tinha quem a mimasse. Para cuidar do marido montou uma equipe de enfermeiros que se revezavam nos cuidados. Vanda apenas observava,segundo palavras de minha mãe que frequentava o seu apartamento na santa missão de “visitar doentes”.
Um dia o marido morreu e a equipe foi desmontada, ficaram apenas os criados triviais: faxineira, lavadeira, cozinheira e motorista. O motorista era de Vacaria e tinha vindo para cá em busca de emprego, casado a família lá permanecera. Era um gaucho forte e sacudido bem diferente do falecido marido que era alemão e gordo. Tinha a metade da idade dela. Como começou o caso minha mãe não soube contar. O que ela sabia era que Vanda começara a dar ao serviçal as roupas do falecido, depois um de seus vários carros e por fim dinheiro para a família dele, muito necessitada. Por fim, deu a ele o lugar do falecido.
Ela era exigente, e sempre tivera tudo o que queria. Creio que o motorista nem sempre estava disposto a obedecer à patroa, e um dia a expulsou de casa depois de uma bela surra. “Cansei da v... velha.”, afirmou o meigo companheiro. Detalhes fornecidos por minha mãe.
Alertei minha mãe, ela estava se metendo onde não devia. Pedi que avisasse a filha única de Vanda que morava em Porto Alegre. No mesmo dia ela veio e internou a mãe numa casa de repouso A dificuldade maior foi despedir o motorista que alegava união estável com sua patroa, com carteira assinada!. Perdeu a causa!  Coisas de Caxias do século passado!


 O CAMINHO DAS BORBOLETAS


Biblioteca de Adriano .Atenas .2012


Não há nada como a  tecnologia. Na era mecânica,  na cozinha não poderia haver bem maior do uma máquina de moer carne e de ralar queijo. Na era da eletricidade foi a vez de um liquidificador e do processador, que melhoraram a qualidade de vida das cozinheiras. A chegada do fogão a gás poupou o trabalho de cortar lenha.Sem falar nos congelados e no micro-ondas, coisas tão práticas.  Nada melhor do que a técnica aplicada ao bem estar dos seres humanos.
Os aparelhos eletrônicos reduziram o tempo tanto do trabalho físico como do  mental. Enormes  são as  vantagens do computador e   da Internet. Servem tanto para  uma consulta rápida sobre o ano da publicação de um livro como à  leitura de um clássico disponibilizado para   uso público (salve projeto Gutenberg! ).
O Google como memória suplementar e a Wikipédia como sucedâneo virtual da velha enciclopédia Jackson do passado.( sem a mesma qualidade)são instrumentos essências ao conhecimento, nos novos tempos virtuais. È possível ainda fazer ainda tabelas e gráficos com rapidez e precisão! Sem esquecer a comunicação imediata pelo Skype.
A exposição  da vida privada no espaço público das redes sociais criou um mundo virtual, muito semelhante ao real. Nem melhor, nem pior, apenas outro mundo. Quando mais o tempo passa mais a realidade vai se escondendo no mundo virtual. Hoje è possível jogar videogame com parceiros distantes e conhecer (biblicamente) parceiros sexuais.  E ainda conhecer de forma imediata o que está ocorrendo no mundo, pesquisar  tendências,  e  até mandar presentes pelo espaço  virtual , que é novo paraíso  do consumo.
Quando mais o tempo passa mais a realidade se oculta no mundo virtual.  Mas há coisas que realmente que não podem ser atendidas no mundo virtual. Muitas coisas que não podem ser feitas por meio da tecnologia. Não é possível ser  teletransportado de um lugar para outro, nem sentir o cheiro das flores e o ar fresco das matas. Com ele  não se pode matar a saudade dos queridos. Nem acompanhar o crescimento das árvores.
O real é muito maior do que o virtual. O virtual nada mais é do que o ectoplasma do mundo real. Como Quintana se pode dizer’ “O segredo não é seguir as borboletas, mas fazer com que elas nos sigam”. Para isso é necessário que cada um cuide de seu  jardim .ainda não foi inventado um jardim virtual.


sexta-feira, 9 de novembro de 2012


A SOMBRA DOS JACARANDÁS EM FLOR



Os jacarandas de Antoninho Perazzolo  em 012

Novembro é segundo a velha tradição cristã o mês  de todos os santos e todos os mortos, o dia dos Finados .Bela palavra  e  o mais belo dos meses para alegrar os olhos.Porém é letal para os alérgicos ao pólen ( como eu). Quando chega novembro os jacarandás das ruas de Caxias florescem.  De inesquecível beleza é o lilás de suas flores compondo perfeitos arranjos contra o azul do céu. Para completar as flores mortas desenham no chão um tapete lilás, copiando com perfeição a sombra das árvores. Então me vem  a memória algumas lembranças .
 Lembro-me, em primeiro lugar de quem as plantou.  Em tempos anteriores à extremada especialização, os professores da UCS tinham as mais variadas formações. Um geólogo poderia ensinar fundamentos de geologia, um economista poderia lecionar Geografia econômica e assim por diante. Durante algum tempo ele que era agrônomo,  foi meu colega na UCS, lecionava no curso de Geografia. Lembro (foi nos idos de 1970) quando ele falou em plantar os jacarandás em Caxias. Foi pouco antes de uma reunião realizada no segundo andar, na parte central do atual Bloco A. Eu fiquei feliz, pois amava as plantas que deixavam belíssima Porto Alegre,na primavera.
 Na reunião seguinte (no mês seguinte) ele comentou que desordeiros haviam arrancado cerca de duas mil mudas de jacarandás. Foi de cortar o coração, tendo sido gasto inutilmente o dinheiro público nas mudas das plantas.
Pouco tempo depois deixou o cargo na Prefeitura e o magistério. Ele amava a família, a terra e as plantas como poucos. Deixou a política e o magistério e foi fazer o que gostava cuidar da terra e de sua produção.  Morreu em 2006, mas sua lembrança ficou em cada um dos jacarandás plantados na cidade. Pois, apesar das mudas arrancadas muitas árvores sobreviveram mais de trinta anos  e com sua beleza enfeitam algumas ruas da cidade, entre as quais a  20 de Setembro.
Os jacarandás (como as demais árvores de Caxias )estão em petição de miséria. Seus galhos foram amputados para a proteção dos fios elétricos e das câmaras de vídeo. Hoje as árvores estão cobertas de cochonilhas, algumas foram arrancadas, uma delas  ficava na Bento com a Marques ( eu sei ) foi  cortada  para proteger  uma garagem  de automóveis. As flores incomodavam o dono.  Mas quem protege os jacarandás?
Assim todos os anos, quando florescem os jacarandás eu me lembro de Antoninho Perazzolo  e de seu esforço para embelezar  Caxias . De fato ele deixou a cidade mais bela, e ao que sei também o mundo melhor. 


quinta-feira, 1 de novembro de 2012


SAUDADES DO FUTEBOL



Flamengo de Caxias do Sul campeão citadino de 1951.Fonte:Adami ,J.S História de Caxias do Sul

Vivemos num tempo de redução do futebol e de futebol reduzido.Hoje o futebol do Rio Grande do Sul ficou reduzido ao futebol porto-alegrense .Os gaúchos foram levados a acreditar que o futebol do estado se resume ao  da  sua capital.Sou do tempo em que havia ( e como era bom) o campeonato citadino de futebol. Cada cidade realizava seu campeonato e o campeão da cidade disputava com os campões de outras cidades, na qual se incluía a capital.
Sou do tempo em que havia campeonato varzeano, e se não me falha a memória havia pelo dez campos de futebol só na cidade .Eles eram simples sem alambrado e arquibancadas. As famílias iam ao campo como a um piquenique, levando merenda e foguetes. Não havia agressões maiores que uns bons palavrões. Esses, sim eram muitos!
Os tempos eram outros. Em Porto Alegre havia renhidos campeonatos entre o Grêmio, o Internacional, o Cruzeiro, o São José e o Renner. Em Caxias, por sua vez havia o Juventude, o Flamengo, o Gianella e o Fluminense. Tempos do Nacional de São Leopoldo e do Grêmio Caiense de São Sebastião. Tempos onde o campo se chamava cancha, o resultado escore e o goleiro  goalkeeper,sem falar nos half, nos backs  e nos off side. Football que por sua vez era narrado  por speakers.
Tempos de futebol amador, no qual os jogadores jogavam por amor à camisa e os torcedores amavam seus times. Os jogadores ganhavam alguma coisa em caso de vitória. . Os jogadores tinham outras profissões. Alguns eram borracheiros, padeiros, funcionários públicos e até filhos de donos de empresa. Como novos gladiadores eram os heróis da torcida, não se vendiam, nem eram comprados. Seria impensável vender um jogador para o time rival. Lembro-me o escândalo que foi a venda da Tesourinha. Bons tempos,onde os torcedores se escandalizavam  !
Com o tempo o futebol se tornou mais uma mercadoria, hoje tudo se vende jogadores, símbolos e honra, em nome de um pretenso profissionalismo. Hoje torcedores se chamam sócios.   Na verdade o melhor time é que mais é o que mais vende  e o que mais compra (do juiz ao time  adversário).
Hoje temos times isolados em divisões de acesso restrito.  Com novos soberanos ditando as regras do jogo: o  Clube dos Treze .(Ave Koff!)   Como nos tempos de antanho assistimos a luta entre nobreza e plebe. Creio que os leitores estão lembrados de como terminou essa  a luta ,que na França levou a burguesia ao poder. Hoje, o mesmo ocorre no futebol. Mas, quem leva vantagem (lei de Gerson por sinal) e o lucro não são os donos dos times, nem os jogadores, muito menos os sócios (torcedores). Quem realmente ganha são os intermediários. Saudades do FlaJu.
Loraine Slomp Giron 
Twitter :loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/

quinta-feira, 25 de outubro de 2012



SOBRE RATOS & POMBOS





Não sei se existe uma sociedade protetora de ratos, creio que não. Animal que não precisa ser protegido é o rato . Homens e ratos convivem mais de 100 séculos... Segundo as estatísticas, (nem sempre confiáveis) na Terra existem três ratos para cada homem. O que significa que há cerca de 24 bilhões de roedores. Graças a eles os gatos foram deificados no Egito.
Os ratos convivem com o homem desde a Revolução Agrícola e não houve veneno que desse cabo deles. Resistiram a todos. Sua origem é incerta, acreditam que vieram da Ásia. No Brasil onde tudo e todos foram importados, os portugueses os trouxeram em seus navios. Não parece haver ratos nativos! O problema é que não existem predadores que deem conta de tanta iguaria.
Lembro-me dos tempos do Cinema Apolo (anterior ao Cinema Ópera) onde havia um criatório de ratos. Bastava apagar as luzes no inicio da sessão e eles começavam a correr pelos corredores. Terminados os cinemas, focos de ratos, mudaram de lugar. Hoje, no centro há pelo menos dois focos.   Um deles é a Praça o outro é a Rua Marques do Herval entre as ruas Pinheiro e Júlio.Ali,   existe a anos  uma toca imensa, sob um velho ligustro. Os esgotos são os condomínios das ratazanas. Enfim os ratos infestam a cidade e a colônia.
Em Caxias, as pragas sempre se deram bem. Na minha longa vida não me lembro de qualquer tipo de campanha para sua erradicação.  Os únicos perseguidos foram os mosquitos da dengue (por campanha nacional).
 Bem mais recente que a dos ratos, surgiu na Cidade uma nova praga: a dos pombos. Lembro-me que outrora no centro da Cidade havia vários criadores de pombos. Os pombos depois de limpos eram comidos. Esses pombais desativados deram origem às pombas caxienses. Havia também várias sociedades de tiro ao pombo, que os criavam.
Como os ratos, os pombos também são associados ao homem. Hoje os pombos também decoram a Praça com seus excrementos e suas pestes. Incertos são seu número e sua origem. O certo é que eles estão aumentando na Cidade. Não há predadores para deter o seu crescimento.  Outras aves foram atraídas ao centro: urubus e gaviões. Os urubus comem os pombos que morrem atropelados. Já os gaviões os atacam em pleno voo.
Da minha janela, de manhã cedo acompanho a caça dos gaviões aos pombos.  Hoje papai Gavião (há uma família) fazia seu passeio sobre o telhado do edifício Gemini, assustando seu rebanho de pombas. As autoridades nada fazem sobre o assunto! Pois, acredito que saúde pública não dá votos. Os moradores de Caxias que se previnam, a peste vive entre nós
 Loraine Slomp Giron 
Twitter :loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/






quinta-feira, 18 de outubro de 2012


O LIVRO PERDIDO

A Feira do Livro 2012 sobre o chavariz da Praça.
 

Faz tempo que a grande literatura parece ter deixado de existir. Há a pequena literatura, de grande vendagem, misto  de misticismo e autoajuda. Paulo Coelho é seu  principal profeta.. Há ainda os bestselllers (cada vez mais raros) do qual Dan Brown é o mestre. E, por fim os ghost writers dos quais os Gasparetos são os papas. Reparem como a Feira é inglesa!

E há muitos autores que procuram um lugar ao sol, que brotam como cogumelos no outono (lembram-se de Gladstone Marsico?). Esses proliferam na literatura infantil. Bem, foi um desses livros que minha irmã e eu fomos procurar na Feira. A  busca começou nas bancas das livrarias. Nelas nos avisaram que a literatura infantil havia sido expurgada das bancas, ficando restrita ao outro lado (assim nos foi dito).  Fomos ao outro lado da Feira. Passamos de banca em banca, procurando o livro, que fora lançado no domingo anterior. Nenhuma das atendentes sabia dar notícia dele. Uma das caixeiras chegou apontar para o vazio, dizendo “Aí é o lançamento”. (Como se o livro fosse um OVNI). Só que estávamos procurando o livro e não o local de onde fora lançado.

Por fim cansada minha irmã foi se informar junto à organização da Feira. Disseram então (assim aprendemos mais uma coisa) que o nome do autor não tem a menor importância. Só o nome da editora importa, pois só por ele seria possível encontrar o livro. Então, minha irmã mostrou que no programa da Feira não constava a editora. Então se deu o livro por perdido, não havendo o que fazer.  Missing na Feira.

Lembrei-me de Michel Foucault sobre o que escreve sobre a autoria e de como essa é questão recente no Mundo Ocidental. Tão recente que não chegou á Caxias.

 Então (bem informada,) fui procurar um livro da EDUCS (já que eu conhecia o nome da editora) achei o livro, mas por preço abusivo. Pedi ao atendente porque o livro era tão caro.(R$50,00) Ele me informou que haviam sido feitos apenas 100 exemplares, segundo ele a edição reduzida seria parte da política da UCS. Fiquei admirada, será uma nova lei do mercado livreiro?

Como se pode constatar a Feira é local para ver o que ocorre em relação aos livros. Enfim, o que se publica e o que se vende. Mais do que isso ajuda a e entender como está a produção e consumo do livro, artigo em eterna recessão.. Não há como negar a Feira do Livro é antes de tudo um aprendizado!  

 Por fim, algumas perguntas: Não seria necessário repensar a questão da autoria? Não seria o caso de informatizar a Feira? Ou é muito cedo?

Loraine Slomp Giron

Twitter: loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/

 

 

 

 

quinta-feira, 11 de outubro de 2012


PRATO FEITO
 
O poder municipal só muda de prédio.Essa  é  prefeitura (intendencia então )de 1906.
 

A roda da fortuna quando gira, tudo transforma. Pior, quando a roda não roda. Ela custa a girar, quando fica emperrada pelos conchavos. Sem mudanças, a política municipal caxiense virou prato feito. Conhecidos são os componentes e os ingredientes. Com um tanto de requentado e com um de tanto de novo. Apenas deve variar o tempero do cozinheiro.  A primeira vista parece que foi o que aconteceu, mas houve mudanças.

 A primeira mudança é de gênero, a nova vereança excluiu as mulheres. Há apenas uma representante feminina. Claro retrocesso na tão proclamada igualdade entre os sexos. Enquanto o número de prefeitas eleitas cresceu em 31% no Brasil em relação a 2008. Caxias entrou na  contracorrente da história!

A segunda mudança é partidária, o PMDB e o PT tiveram suas representações reduzidas em 40%%, o que não é pouco. O PT como o perdedor do pleito e o PMBD como vencedor. Estranha vitória essa, na qual o Partido que não ocupa o principal cargo do executivo, e tem uma pífia representação municipal. Já o PC do B triplicou sua representação. Dirão os entendidos que os vereadores das mais diversas cores ideológicas, que fazem parte da coligação darão suporte ao novo Prefeito. É verdade ao grande vitorioso: o PDT, que aumentou em 60% o número de seus  representantes. Graças ao milagre  Washington

A terceira mudança é de orientação política. O PDT tem uma longa história.  Partido surgido com Getulio Vargas com o nome de PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), renasceu  com Leonel Brizola (depois do roubo da antiga sigla) A antiga sigla não era enganosa  e  Brizola foi arauto de mudanças. Após a anistia foi injustiçado e perseguido pelas elites paulistas, nunca teve chance de realizar no Brasil o que realizou no Rio Grande: a revolução na educação. Qualquer semelhança do PDT com o PMBD é mera coligação.

O PMDB nascido da ditadura de 64, criado e liderado por paulistas (Covas e Ulysses), teve e tem um caráter de frente. Nas frentes sempre cabe mais uma aliança. Foi esse caráter multifacetado que deu ao Partido os instrumentos à luta democrática. Conquistada a democracia (ou seu arremedo?) prevaleceu apenas a  frente .. Da antiga luta, restou a luta pelo poder.  De certa forma, o PMBD foi responsável (não só ele) pela orientação dada à política nacional, pós 1988.

A luta pelo poder (faz parte)  não é  Política,posto que  apenas meio para atingir o poder. O poder também não é um fim, apenas um instrumento para atingir outros objetivos. Política não é jogo de cintura no qual vence o mais experto. (Também as raposas caem nas armadilhas). Política é algo mais sério, responsável não só pelo Estado de direito, mas pelo direito da sociedade civil  conquistar uma vida melhor O poder não é o uso da máquina pública, é o caminho para a justiça social. Espero que o novo Prefeito se lembre disso!

Loraine Slomp Giron Twitter: loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/
Veja Coluna  Folha de Caxias quartas feiras.

 

 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012


O  MUNDO ENCOLHEU
 
 O outono e a primavera são as estações das perdas. Dizia-se antigamente que quando nascem e quando as folhas caem é hora da colheita. Não de frutas ou de cereais, mas de vidas humanas. A hora da colheita dos homens tarda, porém não falha. Talvez seja a única colheita garantida. Já que as outras estão sujeitas aos azares do tempo e da  sorte.
 Nesse inicio de primavera a safra começou bem!  Duas mortes significativas ocorreram uma a  seguir da outra. Não me refiro a da apresentadora de programas de TV, que morta foi tão badalada como viva. Falo de outras mortes, que não mereceram tal espaço no vídeo. Mais precisamente as de  Eric Hobsbawm e a de  Autran Dourado .
Historiador inglês Eric Hobsbawm,morreu  aos 95 anos. Foi o grande historiador do século XX . Melhor do que todos entendeu a Era dos extremos que marcou a história mundial  no sangrento século passado.. Historiador às antigas sem os maneirismos da Nova História soube interpretar os acontecimentos com argúcia e sensibilidade.  Sua longa vida foi de completa coerência Em momento algum se desdisse ou se corrompeu. .Morreu reconhecido, deixando uma obra não que dificilmente perecerá. Nunca foi condecorado pela Rainha que tantos títulos deu às nulidades. Em geral, os  premiados  são epígonos das nulidades comprometidas com o poder.
Há outro dito, segundo o qual a desgraça nunca vem só. Quando acontece uma calamidade outra a segue ,necessariamente. Eis que morre Autran Dourado. Em minha opinião um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. Eu conheci Minas  Gerais pelas suas descrições e a  entendi  por meio de seus olhos.  Sinos da Agonia foi um dos melhores romances que li. Lembro até hoje com emoção a tragédia mineira,tão contundente quanto as  gregas, nas quais se  inspirou.Seus livros me deram momentos inesquecíveis de encantamento  e beleza. Algumas das cenas da Opera dos Mortos ficaram  gravadas em minha lembrança como se eu as tivesse presenciado. As rosas de Rosalina, as voçorocas de Duas Pontes, os relógios para sempre parados num tempo  que  se foi.Suas obras não o levaram a Academia Brasileira de Letras. .  Outro injustiçado!
Até se entende, que em uma associação de escritores que comporta Paulo Coelho, Marco Maciel, Ivo Pitanguy entre outros,tão estranhos às belas letras e tão ligados  a riqueza, não haja  lugar para um  literato de outro calado ( perdão pelo trocadilho) . No mundo há muitas coisas que eu  não entendo  e essa é uma delas.
 È possível que eu esteja enganada, afinal para minhas avaliações me valho de minha percepção, fruição e de meus sentimentos. Há outro modo de interpretar o belo?
Quando a morte colhe algumas pessoas, ainda que tenham vivido muito e bem, tenho a nítida impressão que a Terra fica menor de repente. Ao contrário do universo que se expande o mundo se encolhe. Enfim, mais uma vez estou me sentindo órfã.

Loraine Slomp Giron 
  Twitter: loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/


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sexta-feira, 28 de setembro de 2012


A SINA DE ANITA.

Mulher costurando .Renoir 

Pasmem os leitores, as histórias que tenho escrito aconteceram. Mesmo com muita imaginação eu não saberia inventar coisas assim (ou sim?). Claro que a história contada não é a real, apenas um flash em palavras daquilo ficou na lembrança. Da mesma forma que a palavra bem-te-vi (felizmente) não canta.
Ela se chamava Anita, era a mãe de minha melhor amiga do primeiro ano primário. Recém-chegada da Forqueta, vivendo entre os colonos, eu não podia ser mais grossa. Conhecia um conjunto notável de besteme que aplicava nas mais impróprias horas. Quando entrei no São José conheci Patrícia. Era a mais fresca das criaturas. Cheia de não me toques, suas roupas eram da última moda, cheias de rendas e babados, tudo que eu detestava.  Creio que a amizade resulta numa espécie de mimetismo. Assim, graças a ela usei coisas que não tinha vestido antes, muito menos depois. Quando me lembro de meu vestido de organza azul com frufrus feito sob sua inspiração sinto arrepios. Para completar usávamos chapéus idênticos, pretos de veludo, com uma fita de gorgorão rosa, que poderia espantar um cego. Tudo por que sua mãe era modista afamada e eu fiquei muito impressionada. Enfim, o caso não são as roupas, mas Anita, ela mesma.
            A família de Patrícia era pobre. A casa de três pavimentos de madeira era velha, quase caindo aos pedaços.  Vivia com os avós já velhos (ele fora ferreiro de renome) e com a mãe. O pai, não tinha. Anita nunca saia de casa, nem para ir à missa, vivia enclausurada, costurando sem parar. Curiosa, eu quis saber que fim levara o pai. Patrícia me respondeu que tinha morrido. Em outro ataque de curiosidade quis saber por que a mãe não saia de casa, disse-me que desde que morrera o pai ela tinha feito promessa. Promessa para mim era outra coisa. Era ir colocar flores no cemitério, rezar para o Menino Santo obrigar meu pai me dar uma bicicleta. Coisas práticas. Em geral, eu fazia negócios com o Alto. Fiquei matutando se a promessa seria para o pai dela morrer? Vai saber! Criança vê o mundo plano como uma panqueca!
Um dia eu ouvi minha mãe conversando com uma amiga, sobre a mãe de Patrícia. Bem quieta, atrás da porta, fiquei prestando atenção. Em síntese, fiquei sabendo que Regina que nunca fora casada. Mas, o pai da sua filha, sim. A sua mãe tinha dado um mau passo. Coberta de vergonha (assim mesmo), depois ganhar a filha, nunca mais saíra de casa. Fiquei espantada! Não contei nem para minha mãe, nem para Patrícia o que eu descobrira.  Tempos depois brigamos e nunca mais falei com ela!
Mas a pobre Anita tão gentil viveu trancada e estigmatizada até morrer. Muitos anos depois, morta em seu caixão deixou a casa. Logo, a casa foi demolida. Tal auto enclausuramento só poderia acontecer na Caxias de antigamente. Tão cruel!
Loraine Slomp Giron    Twitter: loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/

sexta-feira, 21 de setembro de 2012


ROSINHA

 Recorte de quadro de  C. Monet.Não é ,mas poderia ser Rosinha.


Naqueles tempos de ingenuidade havia estranhos costumes. Nos domingos depois da missa, na Praça havia o footing. Era um passeio das meninas, na calçada fronteira ao Cinema Central, entre as ruas Dr. Montaury e Marquês do Herval. Os rapazes ficavam parados nos bancos ou encostados nas árvores. Raramente um se aproximava. Ainda assim alguns se consideravam namorados, só de olhar. Era um rito muitíssimo esquisito. Mas havia outros.
 Era no meu tempo de colégio São José. Então, havia dois tipos de meninas, as que eram e as que não eram mocinhas, assim eram chamadas as púberes de então. Diziam que Rosinha foi a primeira a virar mocinha. Com certeza eu fui a última. Terminei o ginásio e nada. Tal fato era motivo de deboche.  
Ela era a mais requisitada de todas as garotas, vivia em bailes e boates (naquele tempo existiam só as de Clubes). Seu pai era gerente de um banco e a família viera de fora, de Passo Fundo, tinham outros hábitos. Como era namoradeira era muitíssimo mal falada.As minhas colegas e eu entre elas, sentíamos um pouco de inveja dela, sempre  bem arrumada , tão desinibida, tão livre, mas  tão galinha ( assim se dizia).
Naquele tempo os meninos (pois eram muito novos) tinham outro costume, de literalmente correr atrás das meninas. Dois ou três guris tinham a mania de correr atrás de mim, da escola até em casa.   Eu saia do colégio e vinha aquele trio ou duo. Entrava no portão de casa correndo e me escondia, com raiva e medo. Um dia pedi para meu primo que era um guri por que eles faziam aquilo. Ele não explicou, mas me aconselhou a pegar um pau de vassoura e bater neles. Achei um conselho muito bom.  Foi o que eu fiz, nem uma, nem duas, mas todas as vezes que apareciam aqueles débeis mentais na minha frente. Enfim, depois de muito bater pararam de me perseguir.
Um dia Rosinha me chamou de lado e disse que eu estava sendo falada. Segundo a voz popular, eu era louca de atar. Disse-me que meninas não agem assim, são boazinhas com os meninos. Mas o que eu tinha feito fora feito e muito bem feito
Nem bem terminara o ginásio Rosinha casou. Dizia a voz a do povo que estava grávida. Não sei se era verdadeiro o boato. Pouco depois foi embora de Caxias e nunca mais soube dela. Séculos depois, em Porto Alegre meu filho foi colega de uma de suas  filhas na PUC. Ela continuava casada (no terceiro marido) e sempre boazinha. Ela contou à filha que se lembrava de mim, pois louca. Eu custei a me lembrar dela, pois boazinha. Como o mundo é pequeno.
Loraine Slomp Giron

quinta-feira, 13 de setembro de 2012


DILÚVIO DE LÁGRIMAS


Nova Vicenza em 1926,Cinema Central ficava ao lado da Casa Fetter,

Os italianos não são melhores do que os outros povos em matéria de artes. Afinal o que eles têm? Um ou outro Dante, na poesia; um ou outro Ítalo Calvino, na literatura; um  Da Vinci na  pintura e  um Miguel Ângelo na escultura. Possuem ainda  alguns pensadores como Giordano Bruno ,Galileu Galilei, Maquiavel e Gramsci  na filosofia  e  na política. Enfim, nada que não possa ser igualado por outros povos.
Em tempos de eleições, fujo do tema política , dedicando-me  às lembranças  não muito sentimentais  do passado .Vamos ao passado.  Uma pessoa importantíssima para mim foi meu tio Willy Fetter, na verdade meu avô adotivo. Ele era dono de um cinema em Farroupilha. Ficava num prédio de madeira, na Rua Júlio de Castilhos. Quando eu ia passar as férias na casa da minha tia todas as noites minha prima e eu, íamos ao cinema com ele. Assim pude ver velhos filmes clássicos, os lançamentos dos desenhos de Walt Disney e os péssimos seriados que faziam dos alemães e dos japoneses os bandidos do mundo. Voltávamos para casa tarde comentando as peripécias do filme que tínhamos visto.  Meu tio era um ser especial: tocava violão (chorinhos), fumava palheiro, era luterano, lia policiais e tinha uma boa biblioteca. Com ele perdi os antolhos. Muito cedo, entendi a diferença entre católicos e protestantes, assisti a belos cultos e passei a ler a Bíblia (protestante no caso).
Seu avô alemão tinha lutado nas guerras sulinas do século XIX, e recebeu  terras do governo, como outros soldados prussianos engajados no recém criado exército nacional. Ele guardava com carinho as suas armas, seus livros e o telescópio. Em tempos de caça às bruxas o que restou de seu avô foi confiscado. A destruição das  suas lembranças pela polícia, me fez perceber como os homens  e a política podem ser injustos. Meu tio era o mais brasileiro de todos e mais artista que muitos, nunca falou em política, só em livros e em filmes. Os anos passaram meu tio morreu, mas não a minha saudade.
Mas voltando aos italianos. Em 1988, assisti ao filme Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore. Nunca chorei tanto, nunca mesmo, creio que de  saudades do cinema  e do meu tio. Tornatore não é nenhum Fellini, apenas o mais sensível dos cineastas italianos. Como poucos lida  com vestígios do   passado.Há pouco vi pela televisão outro de seus  filmes Baaria ( de 2009) .Onde  retrata as lutas dos comunistas italianos contra  o fascismo e a máfia  na Sicilia. O filme é autobiográfico, Bagheria  é sua cidade natal., onde foi filmado O Poderoso Chefão. O filme recupera o outro lado da história da cidade. Nem só de máfia, nem de fascismo vive a Itália Há ainda as lutas sindicais, a reforma agrária e o ideal da igualdade que vigoraram na Itália no pós guerra.A crítica não gostou, danem -se os críticos. Comovente é o adjetivo que lhe cabe. Recomendo!  Realmente, os italianos podem não ser os melhores, são apenas  imbatíveis
Loraine Slomp Giron    Twitter: loslomp  Blog: http://historiadaqui.blogspot.com.br/


segunda-feira, 10 de setembro de 2012


PRAÇA  DO DESASSOSSEGO



             Coisa que eu gosto mais do que a história é a natureza. A natureza indomada das matas, a natureza escravizada das plantações comerciais e a natureza engaiolada dos vasos e dos jardins.Tal gosto deve estar diretamente associado a origem camponesa dos imigrantes europeus que povoaram a região Mais do que tudo amo a Natureza enquanto conceito ,em contraposição à civilização.
            “Há um provérbio que diz: ‘Eu deixei a colônia, mas ela não me deixou”. Realmente ninguém abandona suas raízes, ainda que queira. As raízes são carregadas nos genes como cor dos olhos, dos cabelos e as inclinações. Delas não se foge, se aguenta! Essa parece ser a grande luta desse século XXI os velhos tabus são negados, e os valores mumificados como coisas ultrapassadas.
            Mas voltando a natureza. Há uma profunda diferença entre praças e jardins. As palavras , no entanto, são usadas como sinônimos.Nada como um bom dicionário etimológico para estabelecer as diferenças e um dicionário comum para  as esquecer.
Praça  vem do latim platea  que significa rua larga, praça pública ou local aberto na  confluência de ruas.Igual  origem  tem a palavra plateia  ,lugar  de onde se assiste um espetáculo .A  origem comum não é  acaso.Não parece haver  acasos na língua ( ou há?). Jardim, por sua vez, vem do latim hortus gardinus , que significa “espaço ordinariamente fechado, onde se cultivam árvores, flores, plantas de ornato”. Há uma leve diferença entre  a Praça de Touros espanhola e o Jardim das Plantas de Paris.
Em Forqueta, minha avó cultivava, uma horta e um jardim que se interpenetravam. Em torno de um canteiro de palmas de Santa Rita vicejavam morangos. Para ela não havia horta ou jardim, apenas o primal hortus gardinus , cercado .De muitas outras avós.
Em Caxias não há jardins,  como o da Luz, mas há parques como os dos Macaquinhos  e  praça como a Dante Alighieri. A Praça já foi jardim ( visto que  cercada)  e parque porque  coberta  de casuarinas sem cercas.  Hoje o Parque lugar é lugar de drogados e de camisinhas,  e a  Praça  o lócus  de  pombos,ciganas, marginais e desocupados e muita sujeira. ... Relendo a cruel prosa  de Fernando Pessoa encontrei  a melhor definição possível de  jardim.Escreve ele : “Um jardim é o resumo de uma civilização, uma modificação anônima da natureza.” Perfeito ! Copiando Pessoa poderia afirmar que a Praça é o resumo de Caxias.

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sábado, 1 de setembro de 2012


ALARICO MACHADO



Antiga feira na Praça .1912. Fonte Adami 

Corria a década de cinquenta, em Caxias, a feira livre voltou a funcionar. A  feira era uma festa, com ruídos, algazarra e um indefectível alto falante, tocando músicas regionais. Toda cidade acorria à  feira que ocorria  nas manhãs de  sábado . Local era excelente ficava na frente do  Colégio do Carmo na  Rua Os 18 do Forte.
As feiras tinham existido na primeira década do século XX,na Praça Dante, que então, não tinha jardins, nem monumentos, nada. Apenas alguns quiosques de comerciantes a decoravam. Caxias sempre foi marcada pela predominância do privado sobre o público. Assim o comércio alugava a Praça. A feira da Praça reunia toda Caxias: mulheres vendendo tabuleiros de doce, negociantes de mulas, de cerveja , de aluguel de cadeiras para assistir sentado à missa na igreja , que ainda não tinha bancos. Com o Intendente Peninha, em 1912, a feira foi extinta. Só voltou a funcionar com o governo de Luciano Corsetti que foi um de seus melhores administradores.
Voltando à feira. Na esquina das ruas Dr. Montaury e 18 do Forte havia uma belíssima casa. Era de alvenaria com ampla sacada na frente, com dois  pavimentos  e o porão (por causa do desnível da rua) Era pintada de rosa e tinha  colunas da área, e na   frente  sul pedras coloridas .A casa era das mais belas casa de Caxias. Dona Luiza sua  dona   era uma das Damas de Caridade (fundadoras  o Hospital Pompéia). Seu marido havia sido figura ilustre da cidade. Não sei quantos filhos teve, naquele tempo com ela viviam um filho e uma filha. Era comum ver o filho sentado na varanda da casa lendo jornal.  Não sei qual era sua profissão.
Também não sei quando começou a ter ataques de fúria contra a feira. Corria pela cidade que havia um louco naquela bela casa, que saia na janela aos gritos contra o barulho da feira, que o impedia de dormir Assim Alarico passou a sofrer com a feira  todo santo sábado . Há pessoas que acreditam que seu bem estar é mais importante que o da comunidade. Ele por certo era um deles.
Era um sábado de primavera, o alto falante animava os feirantes com uma rancheira. De repente ecoam gritos na rua. Logo se pensou em morte, mas, não. Era  Alarico que saia de casa, aos berros,  num pijama branco com  listras azuis , trazendo na mão um reluzente  machado de cabo  vermelho.As pessoas ao vê-lo se assustaram , e fugiram para todos os lados .. Sem olhar para os lados, ele foi direto ao alto falante, que ficava na frente da Católica Domus. Com machadadas certeiras terminou com a festa. Os feirantes e os compradores da feira (e eram muitos) assistiram a um espetáculo inesquecível, não havia muitos na cidade. . Com Alarico nada aconteceu, apenas pagou os prejuízos. Afinal era rico, mas ganhou um novo sobrenome. Desde então foi chamado de Alarico Machado.  Nos tempos de antigamente, nós teríamos aqui um Gelson Palmeira.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012


A CRIANÇA E O PECADO



Minha mãe me vem à memória. Havia dias em que ia a velórios, de conhecidos ou não. Puxava o terço, a ladainha ou o que fosse de costume, então. Havia dias que ela fazia visitas aos parentes, ou não. Mas havia um dia especial que ela anunciava “hoje vou visitar a mulher do Padre”. Católica ela era, mas não burra,  entendia  muito bem o que via. Era uma de suas visitas favoritas.
Não se tratava da esposa de um antigo sacerdote, nada disso, era a mulher que viveu maritalmente por décadas, com  famoso pároco da antiga Caxias. Não sei como minha mãe a conheceu, mas sei gostava dela e era sua amiga. Segundo ela dizia era cheia de boas qualidades.  Caprichosa, ela cuidava muito bem do santo ministro. Minha mãe  contou como os dois se conheceram. Foi numa festa de padroeiro de uma capela do interior. Ela dirigia a cozinha, cozinhava tão bem que o padre quis conhecê-la. E, biblicamente a conheceu.   Os dois viveram juntos num apartamento no centro da cidade, até a morte  dele. Enfim, uma história banal já imortalizada por Eça de Queiroz, Emile Zola e outros menos votados. Afinal os padres são apenas homens (com empáfia!).  
Essa seria  apenas mais uma história triste e comum não fosse o Pároco ser o mais reacionário dos reacionários e o mais conservador dos homens.. Poderia ter feito parte dos CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Eu o conhecia bem Muitas vezes me confessei com ele, e morria de medo, pois era extremamente curioso exigindo detalhes de coisas, cujos eu desconhecia. Afinal, eu escolhia os pecados no catecismo!Então, se fazia a Eucaristia cedo, quando não se tinha a noção de pecado. Foi numa dessas confissões, que ele que deixou perplexa, e me fez desacreditar dos adultos (que antes eu julgava sábios).
Eu tinha seis anos, tirei algumas moedas da gaveta da escrivaninha de meu pai para comprar números de uma rifa,que as freiras organizaram para salvar “os negrinhos da África”(palavras das irmãs  de São José). Então eu comprei os números da rifa e devo ter salvado alguns pagãos. Em compensação levei uns tapas (naqueles tempos não havia o Estatuto das Crianças) e uma tremenda xingada de meu pai.
Sabendo do meu pecado, fui me confessar, O Pároco (aquele mesmo) afirmou que eu não cometera pecado, pois o dinheiro do meu pai seria meu também. Fiquei perplexa. Assim aprendi que esse negócio de pecado, dependia da opinião dos adultos. Pecado era muito relativo. Na verdade, o certo e o errado dependem do tempo, do lugar, da religião e dos tabus de cada grupo social.   Um leitãozinho assado, tabu para os judeus é a máxima delicia para os católicos (seguidores da lei judaica). Perplexidade não resolvida até hoje. Vá querer julgar os pecados dos homens
Loraine Slomp Giron Twitter: loslomp Blog :historiadaquiblogspot.com