domingo, 20 de janeiro de 2013


UMA CAXIAS COSMOPOLITA (2)


Um dos novos imigrantes cantava no coral da Catedral. Tinha uma maviosa voz de tenor. Segundo se comentava seria viúvo. Logo casou com uma jovem que poderia ser sua filha e continuou a cantar no Coral.

Pouca gente conhecia seu segredo: no sótão de sua casa tinha um altar votivo, onde guardava as mais caras lembranças do Duce, dentre os quais um grande retrato com a camisa negra. Um uniforme completo de esquadrista, braço armado do movimento, criado em 1919, base de todo movimento. Enfim, lá guardava as mais caras lembranças do fascio. Periodicamente dedicava parte de seu dia a cultuar seu herói.

Não sei como conseguira trazer tais troféus. Coisas de aficionado.

Outro dos novos imigrantes não tinha um altar, mas trazia o Duce entronizado no coração como se fora uma Sagrado Coração de Jesus. Qualquer palavra por menor que fosse era suficiente para fazer pulsar o coração fascista.      

Nem só de fascismo viviam os novos imigrantes.

Uma de suas mais importantes contribuições foi a culinária. Novos pratos eram apresentados nas festas de família e logo começavam a ser imitados. Assim o vitelo tonatto virou tatu com molho de maionese ganhando o nome de vitel tonê. Outro prato trazido foi o matambre recheado com ovos e ervas finas, que logo se tornou matambre recheado com linguiça. Afinal o nome vem do espanhol mata hambre, e para matar a fome tudo é válido.

Outra receita chegada foi a dos ovos recheados. Creio que esta não precisou ser reinventada, pois era perfeita. Dou a receita, pois pouca gente conhece. Basta cozinhar quatro ovos duros, cortar no sentido do comprimento  e reservar. À parte faz-se um molho com tomate, cebola, ervilha misturando levemente com as gemas e colocando uma colher de mostarda (Dijon, de preferência). A porção dá para quatro pessoas. É fácil e deliciosa.

Sem esquecer o maravilhoso estrogonoff, que logo virou picadinho com creme de leite. Pratos chegados após a Guerra, juntamente com bebidas diferentes, como os vinhos importados e o run. Novos coquetéis começam a ser saboreados como Daiquiri e a Cuba Libre, este, em homenagem a recém iniciada Revolução Cubana. Bons tempos onde ainda se tinha ideais.

Loraine Slomp Giron – Historiadora
Twitter: @loslomp

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