domingo, 20 de janeiro de 2013


UMA CAXIAS COSMOPOLITA



No inicio da década de cinquenta, Caxias mudou de cara. O fim da Segunda Guerra( 1939-1945) repercutiu profundamente na  então pequena cidade. Novos moradores começaram a chegar: judeus, italianos, austríacos e alemães. Eram antigos partisans, fascistas e até nazistas.
            De onde vieram e como chegaram os novos caxienses? Havia várias organizações encarregadas de seu transporte. Creio que não é desconhecido que a principal era a Igreja Católica. A Igreja na Itália intermediou a salvação de  judeus.Depois da Guerra ajudou a salvar os fascistas .A grande maioria dos que vieram para cá ocupavam cargos na administração fascista ,eram técnicos de alto nível enólogos, engenheiros ,arquitetos entre outros. Depois de uma temporada na África ( Egito ,Tunísia  e etc.) a antiga região colonial italiana  era o  porto seguro.
Antes da Guerra haviam vindo muitos imigrantes tutelados alguns dos quais constituíram família e não mais voltaram para a Itália, os novos imigrantes encontraram trabalho e amigos  sem muita dificuldade, pois eram  mão de obra especializada.
Outra organização que ajudou no emprego de judeus foi a Gethal. Inúmeros judeus vieram para e alguns se radicaram na região. O trabalho social da empresa sueca de compensados merece elogios.
Um dos mais interessantes recém-chegados foi Kurt S. Era judeu natural de Graz (Áustria) sendo um músico muito bom. Dava gosto vê-lo ao piano desfiando o repertório completo. Tocava populares e clássicos com a mesma desenvoltura. Eram tempos de Glenn Miller se sua orquestra, o tempo das grandes bandas. Não sei como apareceu lá em casa em nosso piano, e tudo mudou. Novos ritmos foram incorporados a nossa vida diária.
Mas não era apenas a música que ele conhecia, sabia dos últimos lançamentos de livros recomendava leituras e aos poucos as nossas leituras começaram a acompanhar a música. Eram novos tempos com certeza.
Segundo me contou ele havia sobrevivido a um massacre. Quando estudante fora alvejado pelos nazistas num rio da sua cidade, ferido sobreviveu e veio para o Brasil, por meio da Gethal. A história de Kurt daria um romance.
Os novos imigrantes formaram razoável comunidade, pessoas cultas que trouxeram novos hábitos e costumes para a acanhada Caxias, independente de suas posições políticas. Muitos mantiveram suas antigas posições, um deles tinha até um altar secreto em sua casa para cultuar Mussolini. (assunto para outra crônica.)

Loraine Slomp Giron  Historiadora
Twitter: @loslomp




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