sábado, 21 de dezembro de 2013

POBRES MESTRES


Os professores carregam nas mãos o destino do mundo. São eles que formaram e formam as gerações de hoje e as de amanhã. Responsáveis pela transmissão de conhecimento, também são decisivos na formação do caráter dos alunos. No entanto no mundo, e não só no Brasil tem sido mal pagos e injustiçados. Falo dos professores do ensino fundamental e médio, do ensino público. Há professores bem pagos, são os astros dos cursinhos.
Uma tese de Doutorado da professora Berenice Corsetti revelou que desde o inicio do ensino público no RS os professores tiveram  baixos salários. Motivo pelo qual foram as mulheres (que em geral se casavam) a procurar o magistério para auxiliar nas despesas familiares. Ao se tornar cabeça do casal, como poderia a mulher sustentar uma família ganhando menos do que o salário mínimo? O problema do baixo salário está ligado ao número de professores. Pois, em geral, é a maior categoria na folha de pagamento do setor público.
Devido ao mau pagamento os professores buscam as escolas privadas para completar o orçamento, com aumento de trabalho há redução da qualidade de ensino, por pura exaustão. Os legisladores que nunca deram aula não sabem o esforço que  é despendido na  preparação, nas reuniões e nas correções. Só quem trabalhou no setor sabe o desgaste que os professores sofrem. Nesse assunto, falo de cadeira, como se dizia antigamente.
 Lembro-me do Coronel Mauro Costa Rodrigues, (Secretário de Educação do RS) que em 1974, dobrou o tempo de serviços dos professores estaduais mantendo o mesmo salário. Ninguém reclamou, eram tempos de silêncio! Agora a Prefeitura Municipal de Caxias do Sul por meio de ato do executivo retira o direito dos professores às horas extras.  A Prefeitura como o Coronel vai poder pagar dois professores pelo preço de um. Isso é bom apenas para a folha de pagamento!(Será que a  ideia da foi cartomante CC?) A Lei aprovada pela Câmara Municipal trará consequências para o ensino municipal. É a solução mais injusta, quando se sabe que é o  abusivo   número de CCs  que exaure sua folha de pagamento. Cargos em comissão que garantem a esdrúxula aliança partidária que governa a cidade.  A corda sempre se parte no lado mais fraco, e esse é o do professorado municipal. Mas, logo virão os resultados, tanto em movimentos, com as mais justas bandeiras, como em ações legais. Mexer com direitos adquiridos é questão delicada, foi o que fez Antônio Brito. Hoje o Estado gasta rios de dinheiro dos contribuintes para pagar o mal feito do Governador. O  mesmo vai acontecer com o Prefeitura ,podem crer.  No tempo do governador Brizola foi feita uma verdadeira revolução na educação, com a construção de escolas e aumento dos salários dos professores. Lembro-me de suas palavras: “A educação é o único caminho para emancipar o homem. Desenvolvimento sem educação é criação de riquezas apenas para alguns privilegiados.” Será que o Prefeito se lembra delas?

Loraine Slomp Giron Historiadora

domingo, 15 de dezembro de 2013

NOTÍCIA DE PARIS




Nas  minhas primeiras idas à Europa   fui  mal tratada, pelo simples fato de  ser brasileira. Então senti na carne o preconceito existente contra a pobreza  dos países do chamado Terceiro Mundo. Na Itália chegaram a dizer que éramos de la  Mérica Povera ,motivo pelo qual só mexíamos nas roupas e não as  comprávamos.Lembro-me de vários episódios degradantes que vivenciei .Era  a época em que FHC e outros brasileiros ilustres viviam no degredo .Os tempos eram outros e a situação brasileira era vergonhosa. Nem democracia existia, enfim, uma situação humilhante.
Eu sofria mais pelo Brasil do que por mim mesma , pois sabia que pertencia um grupo de emigrantes que foram expulsos da Itália pela fome.Portanto, a miséria foi ( e é)  grande também na Europa,já  que expulsou cerca de 50 milhões de seus filhos.  Muitos dos imigrantes entrados na América ( do Norte) ficaram bem, afinal criaram a Máfia e enriqueceram com a contravenção.Já os descendentes camponeses que vieram ao Brasil  tiveram que trabalhar.  Mas como afirma Mao Tse Tung “os camponeses tem uma forte propensão  ao capitalismo “ e, um dia , finalmente alguns enriqueceram, e  seus descendentes enfim puderam ver a pátria de seus antepassados.
No ano passado a Itália apresentou sua face mais rude, com movimentos de alunos, professores e trabalhadores exigindo melhores condições de educação e de vida.  Nesse mesmo ano milhares de brasileiros visitaram a Itália sendo tão bem tratados como qualquer outro cidadão do mundo civilizado. Atualmente  na Europa há mais turistas brasileiros do que japoneses, que antes  lideravam o turismo internacional.
Outrora, quando algum parente brasileiro chegava para visitar seus ‘ricos’ primos italianos, eram escorraçados. Hoje, porém, são bem vindos, pois a situação se inverteu.  O tempo passou, e a crise derrubou o velho orgulho europeu. O Brasil cresceu , a Europa envelheceu,como predizia  Hegel.
Nesse ano enfim a glória. Em Paris, nas casas de câmbio dos Campos Elíseos, entre outras moedas de países ricos aparece o Real brasileiro. Quando se poderia pensar que se poderia viajar com reais e se fazer o cambio na Europa. Os tempos mudaram e o Brasil também, ele está entre as maiores potências do mundo, não é mais o país do futuro, mas uma potência do presente. Agora os brasileiros são muito bem tratados confirmando o que disse de Shakespeare; “Quando o dinheiro vai à frente, todos os caminhos se abrem.” E como se abrem!
Para que tudo fique perfeito falta apenas terminar com a fome e a miséria, que acompanham o Brasil desde sempre. Creio, que com boa vontade, o dia que todos brasileiros terão o que comer também poderá chegar.
Loraine Slomp Giron    Historiadora



ASSASSINOS & ASSASSINADOS











Acabei de ler o mais extraordinários dos livros. É Anatomia de um assassinato, de Philip Shenon,que merece ser lido. Trata da história de como a Comissão Warren foi enganada pela CIA e pelo FBI, e de como está mal contado assassinato de J.F. Kennedy. Pelo livro se fica sabendo que houve uma conspiração sim, e que o responsável pelo assassinato ( de forma indireta) teria sido seu  Bob Kennedy, como reação as suas  tentativas (frustradas) de assassinar   Fidel  Castro e outros líderes socialistas. Bob apresenta no livro face diversa da oficial. O mesmo ocorre com Lee Oswald do qual apresenta outro lado, um desequilibrado sim, mas com uma missão, faltando pouco para ser herói.
Quatro presidentes dos Estados Unidos foram assassinados, estando no cargo: Lincoln (1865), Garfield (1881), Mckinley (1901) e Kennedy (196)3. Todos abatidos por tiros, com armas de fogo Não há como negar que a morte de um presidente é algo chocante e emocionante. Imaginem quatro. È de pensar como deve ficar o imaginário dos presidentes eleitos e de seus eleitores.
No Brasil nunca foram mortos presidentes enquanto ocupavam os cargos, e até hoje, se supunha nem depois.  O assassinato de dois presidentes em poucos meses, se comprovados muda essa posição. Segundo o que divulgou o sub-relatório da Comissão da Verdade Vladimir Herzog, da Câmara Municipal de São Paulo, Juscelino Kusbischeck de Oliveira teria sido assassinado. Pois,  seu motorista Geraldo Ribeiro teria levado um tiro na cabeça , provocando o acidente que o vitimou em 22 de agosto de 1976. Agora a Câmara exige retificação da causa da morte de JK, de acidente para assassinato.
Investiga-se agora a morte de Jango. O seu assassinato (se confirmado) , o de JK e o de Carlos Lacerda estariam relacionados com a DINA (Diretoria de Inteligência Nacional), com o apoio técnico  da CIA (Agencia Central de Inteligência) dos Estados Unidos. Eis uma bela colaboração multinacional!Afinal ,essa parece ser uma das especialidades norte-americanas. Tal fato  mudaria a história do Brasil.
O que espanta mais do que as mortes violentas é o tempo que levaram para serem descobertas as  suas causas. Afinal desde 1976 correm boatos da conspiração e dos assassinatos dos líderes da Frente Ampla, criada em 1966.
Não há outra semelhança entre os ter líderes mortos (ou assassinados?) do que a busca da liberdade política. Cada um tinha posições políticas diversas: um desenvolvimentista, outro populista, e um reacionário. Incontestável  também era  a  sua liderança, enquanto estivessem vivos  representariam as  bandeiras de mudanças do regime de 64 com  um retorno à democracia. Enfim, um verdadeiro perigo!Assim,  segundo os revolucionários, mereciam morrer.E  assim foi feito!

Loraine Slomp Giron   Historiadora

sábado, 30 de novembro de 2013

DEDURISMO




Se há defeito que detesto é o dedurismo. Por sinal não há um bom sinônimo para dedo duro, podem procurar no dicionário para ver. Delator seria o melhor sinônimo, mas é uma palavra pomposa, senta para os grandes traidores como Silvério dos Reis, que delatou a Inconfidência mineira. Delação não é sinônimo de dedurismo, que é coisa menor parecida com um verme. Alcaguete seria outro termo a ser usado, mas tem sentido mais restrito. Seu sentido está m geral ligado aos bandidos que delatam seus companheiros à polícia. Hoje se diz caguete. Mas é muito feio, não é?
            Voltando ao dedo duro, conheci dezenas deles. Fui premiada com a convivência de muitos deles, duvido muito que alguém não tenha sido. Em tempos de ditadura o dedurismo era até uma profissão. Eram chamados agentes disso ou daquilo, mas, na verdade estavam infiltrados para controlar professores e alunos. Alguns até lecionavam para dar mais credibilidade a seu ‘nobre ‘oficio. E como deduravam!
Um dos infiltrados se dizia geógrafo especializado sensoriamento remoto, na verdade não tinha nem o ensino médio, mas, dava aula e levava os imbecis para visitar seu laboratório, fazia churrascos e visitas aos generais acompanhados pelos luminares da instituição. Dai recolhia os dados para o repasse. Tinha outra professora (?) que nem sequer era paga, dedurava por puro prazer. Fazia seu trabalho sujo em sala de aula apontando para os alunos os comunistas do Curso. Depois para completar seu trabalho acusava outros colegas de terem dito o que ela dissera.
Mas não eram só professores, os alunos faziam também o trabalho sujo de dedurar. Um deles gravava as minhas aulas e as repassava no quartel. Outro me disse, em aula, que eu não sabia nada, que tudo o que eu falava era mentira. Quando perguntei como ele sabia disso, respondeu-me que seu patrão o prevenira sobre minha total ignorância. Outro coitadinho me disse (em plena sala de aula) que o tenente lhe havia dito para não acreditar em minhas palavras.  
Mas, como em tudo, a delação também tem duas faces. Para os romanos delatar o mal era prova de civismo. Ou seja, quem delatava o mal feito era um cidadão exemplar, digno de todo respeito.
Como diz Gaspary: "delação premiada” é a conduta de uma pessoa que, tendo participado de um malfeito, decide colaborar com as autoridades em busca de alguma leniência. Quem colabora com o poder público não é um delator, nem a busca da leniência é prêmio. “Será que a delação é uma qualidade”? Dizem que as pessoas nos odeiam outros os próprios defeitos, vai lá saber se não sou uma delatora do passado?

sábado, 9 de novembro de 2013

A OBSENA FOME





Começo com Saramago, portanto, bem acompanhada, diz ele: “Não é a pornografia que é obscena, é a fome que é obscena.” Eis um bom mote para um tema tão excruciante quanto o da fome.
Na Inglaterra, no século XVIII, cada povoado e cada cidade eram responsáveis pelos seus famintos.Os ricos alimentavam os pobres através da Igreja , era chamada Lei dos Pobres. Uma espécie de Fome Zero antetempo. Contra essa lei levantou-se a Economia Política, mais precisamente David Ricardo (1722-1823) e Malthus (1766-1834), segundo eles a culpa da miséria era dos próprios pobres. Ricardo chegou a brilhante conclusão que os pobres são pobres, por serem hiperativos sexualmente. Assim, a  causa da pobreza deveria ser buscada na cama dos pobres.  Os capitalistas não seriam responsáveis nem pela fome nem pala miséria. Maravilha! Com isso ficava resolvida questão. O problema da miséria seria castrar os pobres. Para isso, seria bom um novo Hitler!Outro dos responsabilizados, injustamente é Cristo. Acusado de afirmar que os pobres sempre existirão! Na verdade, essa afirmação é do Deuteronômio (15,11). A Bíblia (e não Jesus) concorda com Ricardo. Assim os cristãos poderiam lavar as mãos como Pilatos, deixando sem remorso o próximo morrer de fome. Já que ninguém poderia  vencer a fome ,o que fazer? Nada!
Outra foi à posição de Josué de Castro (1908-1973), que em 1946 escreveu a Geografia da Fome, um dos livros mais importantes do século XX, traduzido em muitas línguas (não mais reeditado no Brasil). O autor  teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar de 1964. Exilado em Paris lecionou na Sorbonne. Foi um homem adiante de seu tempo. Afirmou ele que a fome é resultado da má distribuição da riqueza, não dos pobres. Uma de suas frases lapidares é: ’ Metade da humanidade não come; e a outra metade não dorme, com medo da que não come’.
Nos últimos anos Brasil algo tem sido feito em favor dos pobres, e alguns brasileiros não gostaram disso.  Mas a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) reconheceu o esforço  realizado, tendo premiado no dia 16 de setembro o Brasil, e outros 37 países, por terem reduzido a fome pela metade antes da meta proposta pelas Nações Unidas.. Revela a Organização que no Brasil entre 1992 e 2013, o número de pessoas que passam fome baixou de 22,8 milhões para 13,6 milhões de pessoas.  Para a FAO a redução da fome no Brasil superou a marca de 54%.  Cerca 15% da população brasileira era faminta, a taxa hoje é de para 6,9%. Em números absolutos é uma das maiores reduções do mundo, sendo duas vezes maior do que a média mundial. No mundo, em 1992, havia um bilhão de famintos, hoje, 2013, há 815 milhões. Mas ainda há muitos famintos .Para resolver a questão diz Castro: ‘O que falta é vontade política para mobilizar recursos a favor dos que têm fome’. Aqueles que são contra a tímida justiça social brasileira nunca devem ter passado fome!
Loraine Slomp Giron  Historiadora



sábado, 2 de novembro de 2013

VIÚVOS DA DITADURA


            
Alguns brasileiros odeiam os governos populares, ainda que democráticos. Para eles Maduro(Chaves),Lula(Dilma)  e Morales são enviados do demônio. A extrema direita e os ignorantes de forma geral sentem saudades de governos fortes e antipopulares. São  os viúvos da ditadura.Não sabem o que significa a ausência de liberdade.  Só o fanatismo pode desculpar tal desejo. A democracia é  frágil ,como toda a invenção humana. Mas  não adianta matar o santo, por não gostar de seu traje.
Nos movimentos ocorridos neste ano, nas principais cidades do país a ação da polícia foi calma e profissional. Nem prendeu os bandidos transmudados em manifestantes. Lembro-me de outras manifestações, em tempos de opressão, quando pessoas foram mortas ou presas como bandidos, quando eram simples manifestantes.
 Até o ar muda com a democracia, fica mais leve. Não importa o partido político que governe, basta que tenha sido eleito, isso já é um fato maravilhoso. Não penso como Jorge Luis Borges para o qual “A democracia é um erro estatístico, porque na democracia decide a maioria e a maioria é formada de imbecis.” Acredito que erro estatístico é quando um só imbecil governa todos os outros com mão de ferro.
Houve uma ditadura ‘esclarecida’ no Brasil, com alguns luminares ocupando o poder. Um deles afirmou “Se eu ganhasse salário mínimo eu me mataria.” Resposta dada à pergunta de uma criança de escola.Grande exemplo.Em outra ocasião afirmou  em cadeia nacional preferir o cheiro do cavalo ao do povo. Enfim, coisas de ditadores!  Naqueles tempos mais se aplaudia do que se criticava, era o tempo dos adoradores dos chefes. Da mesma forma não houve reclamações quando foi votada a lei Nº 6683, de 28 de agosto de 1979, a chamada de Lei da Anistia A Lei é um dos últimos presentes de grego do regime militar. Pois, anistiou tanto carrascos como vitimas.  Há muitos restos da ditadura que  ainda não foram removidos.
Agora é fácil falar em mudar a Lei, mas, quando foi promulgada muitos a louvaram. Depois de 34 anos a maioria dos algozes e de seus feitores estão mortos. Claro, sempre se podem condenar os mortos, em memória. Afinal, quem se lembra deles? Qual seria mesmo seu castigo? Presos post mortem? O presente dificilmente resolve os problemas do passado.
No caso da anistia, o Brasil perdeu para a Argentina, tanto em tempo   quanto  em conteúdo.Lá os torturadores e seus mandantes foram julgados e  punidos ,aqui se aposentaram e morreram em paz.Lá os governantes foram presos, aqui viraram   nomes de escolas.Belo exemplo para as crianças,o de homenagear tiranos.  Outro grande exemplo!
Se a mudança da Lei levar o mesmo tempo que levou para pensar em sua mudança poderá ser mudada nos próximos setenta anos. Então não restará nem a lembrança da ditadura. Quem vai saber? Ou, talvez haja então uma nova (?) ditadura para agradar os saudosistas.



sábado, 26 de outubro de 2013

PARADOXOS DA EDUCAÇÃO


Há algo de podre no reino da educação. Parece simples encontrar a solução, mas desde sempre os governos  a procuram inutilmente. Uma coisa é certa: a educação igual para todos é uma utopia. Um primeiro ponto que merece ser pensado: muitos nascem com poucas condições de aprender, outros nascem sabendo mais do que os mestres. Igualar pela educação assim é impossível. Como observa Voltaire: ”A educação desenvolve as faculdades, mas não as cria.” Não adianta insistir, educação não faz  milagres, só  melhora, mas , não inventa  um novo  homem.Por outro lado  quem educa não é a escola ,mas os exemplos familiares  e do  mundo .A escola ensina!
Outro ponto que merece destaque: todos os cidadãos (ricos ou pobres) deveriam  ter direito à educação gratuita. Bons médicos e muitos advogados estudaram em escolas públicas. Deve haver igual quantidade (ou menor) dos que estudaram em escolas privadas. Os maiores cientistas brasileiros estudaram em universidades federais. Poucos dos maiores deles estudaram em faculdades privadas. Se o ensino superior público é bom, por que o ensino público fundamental e médio não tem as mesmas qualidades? Algo deve ser reformulado nas escolas públicas estaduais e municipais. Pois, são os mesmos professores, (formados da mesma maneira) que atuam no ensino público e no privado. Os professores do ensino público passam por dura seleção o que não acontece com os do ensino privado. Os mestre do ensino público tem as mesmas qualidades (ou maiores) do que os do privado .São os mesmos métodos de ensino ,então porque os pais gastam tanto em educação privada para seus filhos? Uma resposta parece ser o desejo da  separação das classes sociais. Como se os ricos devessem estudar em escolas privadas e os pobres nas públicas. Então porque esses mesmos pais gastam em cursinhos para entrar numa universidade pública? Esse é um paradoxo.
A educação ajuda nas mudanças sociais. Mas, quanto mais se estimular a separação entre as classes maior será o problema da desigualdade. Da mesma forma que ensinar o que interessa à minoria é ensinar a discriminação. A escola deveria ser um espaço democrático e que estimulasse a aceitação das diferenças. Historicamente, no Brasil o poder público tem se mostrado incompetente para solucionar o problema educacional. Até hoje nem todos os brasileiros tem acesso à educação fundamental. Afinal, como fazer para atender 45 milhões de alunos? Não é problema fácil de resolver. Para resolver esse grave problema é preciso ter metas e objetivos definidos. É preciso planejar, ter um projeto nacional que englobe União, estados e municípios. Projeto que seja eficaz para elevar a qualidade da educação pública. Deveria haver um esforço conjunto para que a educação pública volte a ser como foi até a década de setenta. Então havia seleção (um vestibular) para entrar nas escolas públicas modelo como o Júlio de Castilhos e o Cristóvão de Mendoza. Ao que tudo indica, aí entra a política partidária, a  divisora  da construção de um projeto nacional. A melhoria da educação deve ser um esforço suprapartidário, só unindo forças será possível resolver o maior problema do país.
Loraine Slomp Giron  Historiadora




sábado, 19 de outubro de 2013

INCUBADORAS


Lembrei-me do inesquecível filme de Ingmar Bergman o Ovo da serpente, que todos deveriam assistir. Trata-se de como foi chocado o nazismo. O nazismo na Alemanha ,bem ou mal foi eliminado (?). Há outras incubações que não podem ser destruídas, de tão perniciosas que são.  Existem muitos tipos   de  incubadoras:  de ovos, de ecossistemas, de prematuros e de empresas (algo novo e de invenção Americana). Uma forma de fazer com que as universidades alienadas se conectem com o mundo real. Mas há outras e muitas outras.
            Uma das mais incríveis é a de políticos. Há inúmeras formas de criação de políticos. Alguns se inventam, outros nascem com o carisma necessário para a função, outros herdam a política com o sobrenome. Entre os políticos que se inventam está Tancredo Neves, sem carisma, mas com alguma sabedoria e muita matreirice. Por outro lado, seu neto herdou a o eleitorado ao reinventar seu sobrenome. Foi também o criador do Porta Voz, o inesquecível inventor dos pedágios gaúchos!  Desse grupo há muitos. Há genealogias de políticos como as de Sarney e de ACM. Seus filhos e os netos herdam tanto o sobrenome como o curral eleitoral.  Basta uma  simples gestação na  familia!
 Há os políticos carismáticos. São aqueles que nascem com uma qualidade única e intransferível que os torna líderes, por seu modo de ser, exemplos deles são Lincoln e Lula. O carisma não é hereditário, algumas vezes ele é cedido por empréstimo aos seus sucessores. Como Andrew Johnson e Dilma que entram na classificação de herdeiros do carisma alheio. Porém, há um novo tipo de político inventado pela mídia: os políticos incubados. O mais famoso deles foi Fernando de Mello, que já tinha sobrenome e algum carisma. Seu avô foi o ministro do trabalho Lindolfo Collor e seu  pai senador (Arnon de Mello). Mas foi inventado como o Caçador de Marajás. Graças à  televisão!
 Hoje o Rio Grande tem uma senadora que é  fruto da incubação midiática. Já se anuncia  outro candidato à senador da mesma matriz, gestado durante quatro anos até seu nascimento político. Outra incubada parece ser Marina Silva, que nos últimos dias, tem sido manchete de primeira página na grande imprensa nacional.
O problema dos incubados pela mídia é que nem sempre satisfazem. Alguns tão  são tão nocivos , que atiram nos pés daqueles que os criaram . São serpentes (essas também incubadas), que devem ser mortas por quem as criou. Lembro-me de um provérbio espanhol, ( nome a um filme de Carlos Saura):”Cria corvos e eles te comerão os olhos “.A mídia tem sido pródiga na criação de corvos e, mais ainda  de   inços. Como se sabe inços são pragas que nascem nas plantações e que não podem ser exterminadas. Pior ainda, permanecem no solo para futuras infestações. Invento um novo provérbio: “Cria inços e eles terminarão com tuas colheitas e com o Brasil”.  Ou não?
Loraine Slomp Giron Historiadora



sábado, 12 de outubro de 2013

DESTRUINDO O PASSADO


Meu pai era um homem inteligente. Ensinou-me muitas coisas, a principal delas foi a dúvida. Segundo ele não se deveria acreditar em nada. Duvidar de tudo era o principio, e só  depois só  tomar uma  decisão. Na verdade o que ele me ensinou  foi a negação hegeliana. Assim, aprendi dialética (pela duvida), desde criança, sem saber  realmente o que era. Outra coisa ele que me ensinou foi não olhar para o passado. Ao escolher a história neguei seu conselho.. Ainda assim, guardou velhos documentos e gravuras trazidas da Áustria (Trento) por seu avô. Assim guardou até morrer a imagem da família de Francisco José, imperador da Áustria e uma gravura do Monte Bondone que guarda a cidade de Trento. Muitos descendentes de imigrantes execravam o passado!Outros dele nunca falavam. Assim muitas  histórias se perderam.
De uma forma geral, os imigrantes aprenderam a esquecer do passado. Dura foi  a perda  do lugar de nascimento, , por muitos anos guardaram  calados o luto pela pátria perdida. O luto é a dor da perda de algo ou alguém querido. Quem já o passou por ele sabe o que significa. Assim, ensinaram seus filhos a olhar para frente e não para trás para evitar o sofrimento das lembranças. Outros, na Itália tinham problemas com a justiça, calar era preciso. Alguns desses princípios ensinados se mantiveram no tempo, não olhar para o passado parece ser um deles. O resultado é a sua destruição!
Vi com tristeza a destruição de várias casas históricas. Faz pouco derrubaram a  casa de Dona Sabina Pessin. A casa construída por Vicente Rovea, em 1928, era uma sobrevivente da antiga Caxias. As casas de madeira de três ou quatro pavimentos eram comuns na cidade de ontem.  Não sobrou nenhuma! Foram proibidas as construções de madeira no centro da Cidade por causa dos incêndios. O perfil da cidade mudou por força da lei, antes de madeira depois de material.
No centro da cidade os melhores exemplos da arquitetura colonial foram tombados literalmente sem dó nem piedade, algumas pelo poder público e outras com seu aval. Lembro-me de algumas: o cine Ópera, o Ideal e a Casa Raabe. Em seu lugar foram construídos pavorosos prédios, que só servem para entristecer. Teria bastado um pouco de boa vontade dos proprietários, e esses e outros marcos da história regional  ainda estariam de pé.
Mas voltando ao passado. Basta verificar na colônia as magníficas casas de pedra, que foram demolidas ou passaram a servir de estábulo ou galpão.  Não sei se  a questão é a do passado ou  a do lucro.  Creio que é o segundo!Como disse Voltaire: ‘Quando se trata de dinheiro, os homens (e os caxienses )todos  tem  a mesma religião’. Ou não?



sábado, 5 de outubro de 2013

INTERNET E PODER




Muitos têm a impressão que a Internet é um espaço livre e democrático. Infelizmente, não é nem nunca foi. Pelo contrário é órgão de controle e de dominação. Criada como forma de comunicação à distância, foi arma essencial do Pentágono durante a 2ª Guerra. Só se tornou forma de comunicação aberta com a invenção da WEB ( World Wide Web). Inventada por Tim Berners-Lee, físico britânico , de 34 anos,  em 13 de março de 1989.Ele queria desenvolver uma ferramenta   que possibilitasse aos físicos divulgar e trocar  conhecimentos de forma simples e rápida.  A Web permitiu o intercâmbio de informação a todos os setores da sociedade. O conceito chave da da Web é o ‘hipertexto’(links), ferramenta a partir da qual um clique sobre uma informação permite chegar a outra direção onde se obtém mais dados. Daí a navegação.
Hoje o controle da Web se dá por meio da ICANN, acrônimo inglês para Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números. É a  entidade internacional  responsável pela alocação do espaço de endereços de Protocolos da Internet , pela atribuição de identificadores de protocolo,  e pela administração  em primeiro nível dos  códigos de todos os países.Suas  funções são de  gerenciamento do sistema  que subordina o sistema geral de  comunicação do mundo  aos Estados Unidos.   A ICANN sofreu mudanças de   1998 a 2009, sendo controlada pelo Departamento de Comércio que a recebeu do Departamento de Defesa norte-americano.É o maior centro mundial de estudos de criptologia ,cujos resultados não divulga . Faz ainda  a leitura, a interpretação e  a interceptação de sinais em  toda e qualquer ligação feita na Internet.Os dados são armazenados pela  NSA - (Agência de Segurança Nacional).Assim os EUA têm  a recepção e domínio e mundial das  informações veiculadas no mundo virtual.
Logo, a posição assumida pela Presidenta Dilma, na ONU não é fruto de delírio. È tão importante que tem  ocupado espaços na imprensa mundial.  Ela defendeu a Internet aberta, neutra e com controle multiparticipativo. Tal postura é a reação a  alegada espionagem dos USA, por  meio da NSA. Nem todos acharam a manifestação imprópria, 58 entidades  e 14 países deram apoio integral  à posição brasileira.
O domínio virtual que agora é do Estado, poderá ser de alguma entidade privada por ele concedida.  Noam Chomsky o maior teórico  de comunicação acredita  que o caminho do poder virtual é o   mesmo que já foi tomado pelo rádio e pela televisão em seus primórdios, ou seja, o da delegação de seu uso do Estado à  iniciativa privada e a concentração da informação nas mãos de poucos. A concentração do poder da informação gerada em todo mundo não é algo desprezível. Ela permite não só o avanço científico, como o total controle das mensagens e dos pensamentos correntes no mundo virtual (e, portanto do real). Permite ainda o conhecimento estratégico de recursos no  domínio político. Assim, a WEB pode se tornar privada. Copiando o que disse Malcon X : “Se você não se cuidar(...) a comunicação fará com que  odeie os oprimidos e ame os opressores.”Cuidado com suas posições!


sábado, 28 de setembro de 2013

GOVERNADORES DO RIO GRANDE








Na República Velha (1889-1930) o Rio Grande do Sul era aficionado em reeleições, nada menos do que cinco vezes reelegeu Borges de Medeiros. Nada mais corrupto e antidemocrático que aquelas malfadadas eleições. Ano após ano Assis Brasil tentava se eleger e nada. Creio que houve um enjoo geral de reeleições para governador. Após o  doloroso período da ditadura (1964-1988) onde eram nomeados governadores, ao arrepio da democracia, recomeçaram as eleições diretas. Com a Constituição de 1988  chegaram as esperadas  eleições diretas .Desde então nenhum governador foi reeleito.
Em compensação os representantes gaúchos no Senado parecem ter sido eleitos de forma vitalícia. Sem renovação!Não é porque os senadores sejam maravilhosos ao contrário, há os que ocupam cadeiras para dormir. Aliás, eu gostaria que o Senado fosse extinto seria uma grande economia, pois não vejo nele grande valor democrático. Uma só Câmara seria suficiente, tornaria mais rápidas as decisões legislativas.
Os nossos governadores não tem sido extraordinários. Há os péssimos como o invencível como o pai dos pedágios. Há os medíocres (a maioria) e os nocivos, esses foram os responsáveis pelas privatizações, que dilapidaram o tesouro do Estado.De uma forma geral são provenientes das classes privilegiadas e ou são por elas sustentados .Mas há os originais. O mais original de todos (em todos os tempos) foi penalizado pela sua ação em relação ao pedágio (mão dupla), afastado (e desiludido) da política partidária teve atitudes muito parecidas com o Papa Francisco, outro simples. Pode não ter sido o maior dos governadores, mas como ser humano é o mais apreciável. Sem esquecer o que diz Leonardo da Vinci “A simplicidade é o último grau da sofisticação,” eu diria que é “o mais elevado grau da sabedoria”.
O Rio Grande já experimentou de tudo elegeu desde afrodescendente à mulher. O que mais me irrita é o esquecimento dos malfeitos e das boas obras. Com o passar do tempo cria-se uma espécie de véu que esconde a verdadeira face  dos antigos governantes. Há os covardes, um deles   tratado como reserva moral, durante a ditadura quando tinha de tomar uma posição decisiva , internava-se em clínicas. Dizia-se doente do  coração. Hoje com mais de oitenta anos continua na ativa. Com uma saúde de ferro! Outro apaixonado era mandado pela mulher ,dizia-se que dela apanhava.
O Rio Grande teve como governador o  mais sagaz dos homens :Getúlio Vargas .Não sei se ele teria sido reeleito! Uma coisa é certa, nem sempre o governador eleito é melhor do que o não reeleito, fica claro que se trata de não reeleger e não de eleger o melhor ,apenas uma obtusidade política!


sábado, 14 de setembro de 2013

A VELINHA DE TAUBATÉ







Um dos personagens mais marcantes de Luis Fernando Veríssimo foi a Velinha de Taubaté, melhor do que o Analista de Bagé, que era engraçado demais. A Velinha acreditava piamente no governo militar, tudo que era dito ou feito para ela era lei. Publicada numa revista conservadora como a Veja, o melhor dessa criação de adesão aparente à ditadura, era que furava a censura. Assim nasceram as melhores críticas feitas e publicadas ao regime militar .Em geral há uma tendência de não  se acreditar no humor. Nenhum  escritor humorista recebeu o premio Nobel, nenhum  comediante  recebeu o Oscar . Mas, há os que acreditam no humor!
Minha mãe nos seus últimos anos era como a Velinha de Taubaté, mas em lugar de crer no governo (no qual já não cria) acreditava nas pessoas. Às vezes saia na rua com um maço de notas de R$50,00 e distribuía para aqueles que ela acreditava que precisavam. Outras vezes, sem conhecer as pessoas as convidava para almoçar. Não conseguia ver o lado avesso das pessoas. Só o lado direito, ou seja, sua aparência o que é enganoso!
Há os que custam acreditar no lado inverso, e só acreditam naquilo que está no exterior das coisas! Nos meus tempos de professora (controlada de perto pela ditadura), eu usava a técnica do absurdo. A partir de um texto selecionado cada aluno escrevia  a negação daquilo que lera . Em tempos de regime militar, era a forma de rir e de criticar, sem temor. Riamos tanto que a Direção vinha até sala para ver o que estava acontecendo. Eram aulas muito felizes. Em geral, os alunos aprendem mais com o riso do que com a tristeza. A ironia e o riso fazem  vida melhor. Mas, nem todos têm censo de humor e muitas das coisas que escrevo (rindo adoidada) são vistas como ofensas. Os carentes de humor que me perdoem, mas vida amargurada e sem cor, serve apenas para os desservidos de inteligência.
O Prefeito de todos os caxienses, (como pode ser lido no Twitter) está enviando um projeto para a Câmara visando instituir o ostracismo no município. Tal ato teria a finalidade expulsar da cidade alguns críticos do atual o regime. O novo tipo de democracia a ser instalado em Caxias, será a democracia dos Ausentes, ou apenas a ausência de democracia?O vereador  Incerti que o diga! Será que expulsar’ inimigos’ é a nova democracia gaucha? A velha democracia gaúcha foi a escravos, (tão bem tratados eles) não era mesmo? Nem a Revolução de 64 criou tal sistema, apenas a cassação e a expulsão direta, sem os maneirismos campestres.

O consenso é burro, o dissenso pode trazer  novas interpretações. Como dizem os árabes: “Os homens são como os tapetes, precisam ser sacudidos”. E por falar em sacudir, ninguém atira pedras em árvores que não dão frutos. As críticas tem a mesma finalidade que as sacudidelas, ou seja, apresentar a realidade pelo avesso. O avesso é o inverso da aparência. È o avesso que em geral desvela a essência do problema!