sábado, 13 de dezembro de 2014

FLUÍDOS











A concisão é irmã do talento, dizia Tchekhov, possivelmente o mesmo que o grande Machado de Assis. Penso como eles,mas, é muito difícil ter talento e concisão. Há autores brilhantes como Clarice Lispector ou Guimarães Rosa que são prolixos e gongóricos, a concisão não faz parte de suas qualidades.  Para escrever muito em poucas linhas deve-se ser telegráfico. Forma de escrever que caiu em desuso, juntamente com a profissão de telegrafista. Hoje a linguagem dos internautas é quase ilegível em bom português. Ainda que coincisa!  Como ser precisa ao falar de energia, assunto tão complexo para poucas linhas.
  Fiquei pensando como é difícil ser professor, e eu o fui por cinquenta anos. Ser professor é ser conciso. Já li bastante sobre ensino e aprendizagem, bem como sobre educação, mas nunca li nada sobre os perigos da arte (ou oficio) de ensinar. Não são só dos germens (sejam vírus ou bactérias) que circulam em uma sala de aula cheia de gente, com as janelas fechadas em dias gelados. Não é só o desinteresse que afoga a concisão do professor. Há outras forças que não tem nem nome, nem estudos sobre elas. São forças que circulam nas salas de aula, (e em todos os lugares), negativas e positivas e que afetam tanto os seres humanos. Lembro-me que em alguns dias eu saia da sala literalmente moída, com os nervos e a mente em frangalhos, tal era pressão existente em tão pequeno espaço. Parecia que tinha sido sugada .Isso não é exclusividade minha ,os professores em particular e os homens em geral estão sujeitos , em seu dia a dia a essa perda de  energia .
A energia se encontra em todos os lugares. Até no computador onde escrevo.  Lembro-me de episódios da história recente do Brasil, onde a energia era tanta que quase se tornava visível. Como a morte de Tancredo Neves, quando a tristeza dos brasileiros foi tanta que enlutou o pais. Há outros episódios onde a energia negativa conspurca as imagens pelo tempo afora. Com o da patética figura de Herzog enforcado pela ditadura nas grades da janela da prisão, ou da bomba que estourou no colo de um militar, que acabou matando um dos responsáveis pelo atentado. E ainda as imagens repelentes do holocausto. São representações da energia humana, a qual perpassa tempo e espaço.
O mundo é feito tanto de matéria quanto de energia. A energia pesa sobre os vivos mais do que a matéria. Os homens não são ensinados a se precaver contra a ela, nem contra os maus fluidos. Infelizmente os fluidos do mal se espraiam sobre o mundo e são absorvidos por todos. O que diz Paulo Coelho merece ser pensado: “o mundo é um espelho, onde o bem e o mal são reflexos de quem nele se olha”. O que significa que são os homens a fonte das energias que assolam o mundo, não adianta procurar outros responsáveis!Como se precaver contra nós mesmos?
Loraine Slomp Giron Historiadora


sábado, 6 de dezembro de 2014

O SONHO DE KING



Mais uma vez nos Estados Unidos acontecem protestos contra a discriminação racial. Tudo começou em  Ferguson(Missouri) com o assassinato de  Michael Brown,18 anos ,suspeito de ter assaltado uma loja.Estava desarmado e foi morto  com seis tiros  pela policia. Não foi primeiro e nem será o últimoatentado contra os  afrodescendentes,que historicamente tem sido mortos  sem culpa alguma,apenas pela cor da pele . O fato ganhou as manchetes mundiais quando o seu assassino  foi absolvido.Tão grande foi a repercussão que  até a Anistia Internacional mandou delegados para estudar o caso. Lá a  questão racial ainda  não foi solucionada.Nada vale ter o  pais  um presidente negro,  eleito e reeleito. Obama é execrado no Sul, onde  o preconceito continua tão vivo quanto em 1863 quando foi abolida a escravidão por pelo presidente Lincoln.
Até 1964 os negros não tinham direitos políticos.,viviam segregados como na África do Sul. Eram cidadãos de segunda classe que não podiam viver andar, comer, transitar e morar no mesmo lugar do que os brancos. Muita coisa mudou na década de sessenta, com a luta encabeçada por Martin Luther King pelos direitos dos africanos e seus descendentes ,imigrantes forçados,vendidos como escravos .
Martin Luther King viveu apenas 38 anos. Nascido em Atlanta (Georgia) em 1929,foi assassinado e 1968, em  Memphis  (Tennesee )Pastor luterano foi um dos maiores ativistas na luta pelos Direitos Civis dos negros norte-americanos.  Suas lutas e suas palavras ressurgem quando ocorrem  novos  conflitos raciais .Sua Autobiografia  reúne trechos de suas palavras.Vale a pena conferir.  É  uma   obra  das mais notáveis  da arte da oratória de todos os tempos. Seguidor a doutrina de Gandhi, em 1964, King se tornou o  mais jovem dos ganhadores do Premio Nobel da Paz.,pela sua ação,  liderança e  resistência não violenta ao preconceito racial nos Estados Unidos
Muitas foram as marchas por ele lideradas, com a participação de associações contra a discriminação, reunindo  milhares de pessoas. Tudo começou em Albany em 1955 quando liderou o boicote aos  ônibus de (Alabama) .Logo as ações se multiplicaram,foram seguidas  em  Birmingham (1963) e em Saint. Augustine, na Flórida (1964), em  Selma e em Montgomery,no Alabama ( 1965 )  em Chicago e em Washington(1964).A Marcha sobre Washington que reuniu mais de um milhão de pessoas .As palavras que então proferiu ressoam até hoje nos ouvidos do mundo Disse ele .” Eu tenho um sonho de que, um dia, nas rubras colinas da Geórgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos senhores de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade. “ dizia ele pouco tempo antes de ser assassinado.Mas que tristeza ,o sonho de King  e de tantos outros líderes do movimento antirracista ainda está longe se ser concretizado.


sábado, 29 de novembro de 2014

PRAIAS DE OUTRORA



Desde minha mais tenra idade frequentei o litoral. Os moradores da serra desde sempre tiveram uma atração muito grande pelas praias.De certa forma ao virem da Itália os seus antepassados atravessaram o Atlântico .
Desde os primeiros anos da chegada ao Brasil os imigrantes italianos em carro de boi, mais tarde em automóveis e muito mais tarde de ônibus fizeram do litoral seu paraíso perdido. Velhas fotos revelam os colonos na praia, em geral em Torres ou em Capão da Canoa. O porto alegrense iam para Cidreira e Tramandai. Na década de trinta e de quarenta do século passado,não havia transporte coletivo.As pessoas contratavam caminhões de carga,ou compravam imensos utilitários para realizaram a calamitosa viagem, de Caxias ao litoral.
A estrada era a velha da Serra do Pinto, sem calçamento e tão íngreme quanto se possa imaginar. Junto com colchões  onde dormiam as crianças,os motoristas levavam as correntes para os pneus. As correntes eram um equipamento indispensável para as viagens, pois com chuva só com elas as estradas podiam ser transitadas.
A viagem para as praias (sempre no plural) começava às quatro da manhã. As crianças carregadas como pacotes e estendidas em colchões. Viagem sem colchão? Nem falar. Lembrem-se que não eram colchonetes , o plástico e suas espumas   não eram nem imaginados.Eram  tremendos, feitos de lã  pesados como só eles.Ao meio dia comia-se a farofa   fria de galinha, pois viagem sem farnel eram impraticável. Era água, chá, café em garrafas térmicas (essas existiam), vinho e tudo o mais que fosse bebida necessária para a longa viagem. Chegava-se ao anoitecer, depois de doze (se tudo corresse bem) ou quatorze horas de viagem,
Contavam os antigos que de carro de boi a viagem levava de quatro dias a sete dias. Era uma epopeia. Comparando com a deles a nossa viagem de doze horas era muito rápida.
Para compensar a longa distancia, os veraneios eram mais longos. Menos de trinta dias era inimaginável. Algumas vezes duravam meses. Os colonos jamais tiravam férias em fevereiro ou março era em dezembro ou em abril. Quando os hotéis estavam vazios.Os hotéis eram semelhantes a pousadas ,Tinham um salão para as refeições e pequenos chalés de madeira com duas peças ou três para os hospedes .Os hotéis preferidos pelos colonos era o Bassani em Capão da Canoa e o Sartori em Torres. Serviam três refeições por dia por módicos preços. Fora da alta temporada os preços caiam. Observa-se que alguns imigrantes já tinham se instalado no litoral no fim do século XIX assim os de Caxias procuravam seus compatriotas para veranear em seus hotéis.

Hoje a marca da colônia do Litoral é clara,basta ver Curumim, Arroio do Sal , Areias Brancas cujo povoamento se deve aos serranos.As praias ficaram mais próximas no espaço e no tempo.

sábado, 22 de novembro de 2014

FANTASMAS E ASSOMBRAÇÕES


           

  Quando eu era criança bem pequena, eu via fantasmas. Eram figuras transparentes com caras medonhas que se espalhavam pelo teto de meu quarto. Eram seres parecidos (sei agora) com o Gênio da lâmpada de Aladim no desenho da Disney. Então abria  tal  berreiro que acordava a todos. Minha mãe dizia que eu tinha sonhado, mas nada disso, eu estava bem acordada. A  coisa era  assustadora  e a recordo até hoje.
Depois com a idade os fantasmas sumiram, então passei a inventar alguns deles. Adorava assustar minha irmã e minha prima, bem mais novas  do que eu ,com a aparição de um fantasma que eu chamava de  Fada. A Fada era um aparição minha fingindo ser um fantasma muito branco que dava ordens malévolas paras duas pequeninas. Elas morriam de medo da Fada,ou seja de mim.
A fada era tão maldosa que mandava as pequenas enterrar moedas afirmando que eram sementes de árvores de dinheiro. As crianças enterravam suas moedas e eu as colhia.. Outra coisa que gostava de fazer  remédios,macerava plantas e frutas e dava para elas tomarem. Por incrível que pareça elas nunca adoeceram. Eu era como se pode ver mma completa malvada.
Muitos anos depois inventei histórias de  fantasmas para alegrar meus filhos, com histórias apavorantes. Eram então os gênios que faziam os trabalhos para os outros, especialmente para os pobres. Mais tarde contava histórias de fantasmas também  para meus netos. Também eles acreditavam nos meus fantasmas e inventavam seus próprios fantasmas. Para então ter medo deles.
.   Com o tempo minhas histórias mudaram um pouco. Ao contrário das histórias  que eu contava que tinham objetivo de assustar ,, as novas  antigamente tinham caráter moral.Davam exemplos de como ser melhor e de como auxiliar os outros.
De uma forma geral as histórias infantis são cruéis. Tratam do abandono de crianças pelos pais, que as deixam em florestas, onde há bruxas que literalmente  comem as criancinhas.. Há outras histórias infantis com bruxas malvadas mas onde o fim da história muda seu curso e tudo acaba bem .Mas há outras terríveis  como a  história de Joãozinho e Mariazinha, de maldade sem explicação.Não há sensação pior para uma criança do que o de  ser abandonada pelos pais.
Desde pequenos somos condicionados ao mundo cruel,mundo que alimentamos e somos por ele alimentados.  Isto me levou a refletir sobre a importância do medo na vida humana.  Afinal o medo dirigiu (e dirige ) o mundo. O   demônio e as leis ,movem as  religiões e o  Estado .Ambos se  baseiam em normas restritivas e punitivas. Afinal não é o medo do inferno ou do castigo  o que dirige as ações humanas? Como  afirma Durkheim  “A religião não é somente um sistema de ideias ,antes disso ela é todo um sistema de forças”Isso vale para o Estado!


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

NOVO TEMPO





Igreja Católica só reconheceu a existência de movimentos sociais após o Concilio Vaticano II (1962-1965) convocado pelo Papa João XXIII. Antes os papas se comunicavam apenas com os chefes de Estado ,fossem eles quem fossem  .Assim eram recebidos ditadores e assassinos,bastando para isso que estivessem chefia  de uma nação( fosse imposto ou eleito).
No passado, pretendendo ser neutra a Igreja foi um instrumento de poder para os mais ricos. Com o Concilio e  as conferencias de Medellín e de Puebla nascia uma igreja  para todos,voltada  para a fome do mundo e para os pobres.Mas nem tudo correu como o desejado.
O santo João Paulo II foi um dos papas que mais se valeu do poder da Igreja para influenciar o mundo. Tanto na queda do comunismo como no recuo da Teologia da Libertação. Julgava ele que esse era a origem dos males do mundo. Vencidos o comunismo e a Teologia uma realidade se impôs, a miséria continuava soberana no mundo.
Tudo mudou com a eleição do Papa Francisco, homem do fim do mundo, como ele mesmo se chamou. Em dezembro de 2013 foi convocado pelo Vaticano o simpósio As emergências dos excluídos, dele participaram dele representantes dos movimentos sociais da América Latina. Como decorrência daquele simpósio foi convocado e realizado o Encontro Mundial de Movimentos Populares, nos dias 27, 28 e 29 de outubro passado. Foram convidados os líderes do MST e Via Campesina, representantes da Central de Movimentos Populares, Levante Popular da Juventude, Coordenação Nacional de Entidades Negras,  Central Única dos Trabalhadores Movimenta de Mulheres Camponesas e até um índio Terena.  Compareceram mais de cem líderes de movimentos sociais, trinta bispos e cinquenta agentes pastorais. Eu Morales foi um dos participantes (não como presidente da Bolívia) como líder indígena que foi dos plantadores de coca de seu país. Por sinal ele é o primeiro presidente indígena da América, advindo de movimentos sociais.
O evento teve como objetivos apresentar o pensamento social do Papa Francisco, elaborando uma síntese da sua visão dos movimentos populares, e sobre a crescente desigualdade social e exclusão, bem como refletir sobre a organização dos movimentos populares, propondo alternativas para enfrentar os problemas causados pelo avanço da miséria no mundo.
Pela primeira vez na história da Igreja que um papa convocou líderes de movimentos sociais para um encontro. Não há dúvidas é um novo tempo no Vaticano, uma aurora de mudanças. O Papa afirmou no Encontro: “Quando eu falo de terra, teto e trabalho dizem que o papa é comunista.” O Papa pode não ser comunista, mas não há dúvida é o mais avançado de todos os papas. 



sábado, 8 de novembro de 2014

O CHICOTE











Vivi em meus primeiros anos em três casas. As peças de cada uma estão fixadas em minha mente como numa planta bem desenhada pro um arquiteto. Lembro-me de cada móvel e de cada e de cada quadro. De cada peça e de cada louça. Essa lembrança sem palavras, feita de imagens apenas parece negar a afirmação que sem palavras não há pensamentos. Há sim e muitos. Há sonos falados, mas em geral eles são mudos. São cheios de símbolos dos quais as palavras são excluídas. Assim são algumas lembranças mudas e simbólicas. Para Freud os sonhos são a matéria prima para o estudo dos pensamentos oníricos latentes. Para ele, ”O sonho representa a realização de um desejo.” Enfim lembranças são a matéria prima dos sonhos, ou melhor, são sonhos que se pensa acordado.
O chicote ficava pendurado numa pequena despensa, cuja porta abria para o lado do Cinema Ópera, por onde os ratos passavam. O cinema Apollo (assim se chamava) era  o seu viveiro.Meu pai tinha encontrado o chicote na estrada,provavelmente perdido por um carreteiro. Era de couro trançado com uma tira única forte e resistente. A chegada do chicote foi comemorada por minha mãe, que logo me informou que eu seria a principal usuária. Naqueles tempos bater em crianças era a norma, era uma questão de disciplina. Antes eu apanhava de chinelo, com a vinda do chicote a surra seria mais violenta. Apanhei algumas vezes com o novo instrumento de tortura, mas nada mais do que duas ou três lambadas.. Sempre me pareceu uma grande injustiça um adulto bater em criança. Nunca fui favorável aos castigos físicos tanto é que nunca bati em meus filhos, nem em criança alguma Mas era assim que se educava antigamente.
Também na escola (estudei no São José) os castigos físicos existiam. Uma das freiras batia nas mãos das alunas e outra (uma louca) batia na cabeça delas com uma régua. Isso ninguém me contou, eu mesmo vi. Nenhuma irmã me bateu, mas não sei o que eu teria feito se alguma o tivesse feito. Havia outros castigos, desses recebi vários. Um deles consistia em colocar a infratora  atrás da porta durante as aulas. Outro era colocar milho no chão e mandar a vítima se ajoelhar sobre os grãos. Isso era muito dolorido e os joelhos ficavam inchados.
Apesar das mudanças no ensino e nas normas punitivas que ocorreram no século XIX em pelo pleno século XX os castigos existiam na educação brasileira. Segundo Del Priore, a religião judaico-cristã sempre foi  favorável a uma  educação baseada em castigos físicos, considerados como  forma segura de educar. Julgava-se que amar é castigar os erros para dar exemplo de uma vida cristã. Há até um provérbio "Quem sabe amar, sabe castigar", que garante a validade da prática dos castigos.  Coisas de antigamente, coisas sádicas isso sim!
Estudos recentes comprovam que os castigos foram contraproducentes tanto na aprendizagem quanto na vida. Enfim o chicote da minha infância serve como símbolo de um tempo, no qual se acreditava que amar era judiar. Triste convicção!

Loraine Slomp Giron Historiadora

sábado, 1 de novembro de 2014

ÓDIOS


            





Muitas vezes se fala odeio tal pessoa, ou odeio isso e aquilo. Na verdade é apenas uma hipérbole. Figura de linguagem que significa exagero. Exagerar faz parte do psicodrama diário em que se vive e serve para expurgar fantasmas e tristezas. Há qualquer coisa de profundo no pensamento deeramn  Herman   Hermann Hesse quando diz: ”Quando odiamos alguém, odiamos em sua imagem algo que está dentro de nós.” O que significa que se odeia outro o que existe em nós de ruim.
Poucas vezes conheci o ódio verdadeiro, aquele definido em dicionário como: “Sentimento de profunda inimizade; paixão que conduz ao mal que se faz ou se deseja a outrem. Ira contida; rancor violento e duradouro.”.
No sábado passado, véspera do segundo turno, tive o desprazer de vivenciar a ira e o rancor mais profundo em um ser humano. Passávamos pela Rua Pinheiro Machado, na altura da Rua Coronel Camisão, eu de carona com meu filho com a bandeira da Dilma flutuando sobre o carro. Quando fomos abordados por um cidadão que passava de bicicleta bem do ao lado do carro. Ele  
começou a vociferar afirmando que meu filho não tinha direito de levar a bandeira de ladrões e que ele não tinha moral por apoiar tal bandida, que defendia o assassinato! Fiquei agredida pela ira que existia no coração daquele ser. Nunca tinha visto o ódio em pessoa. Foi algo horrível! Como é possível em uma democracia odiar um candidato a um cargo eletivo que nunca lhes fez mal.

Em outros tempos quem merecia o ódio eram os judeus e os não católicos em geral. Mais tarde, mais ódios, agora contra os afrodescendentes nos USA e na União Sul Africana. Quem não se lembra do holocausto?Fruto do ódio aos judeus.
Após a Segunda Guerra foram os comunistas os grandes perseguidos e mortos. Veja o que foi feito no Chile, na Argentina e no Brasil. Agora no Brasil o bode expiatório tem nome: é o PT. Tudo é culpa dele. Os culpados se eximem de suas próprias culpas. Desta maneira sempre há alguém para culpar pela situação geral, da qual todos somos responsáveis. Fica mais fácil delegar  culpas e responsabilidades,não é mesmo?
Na verdade o que se assiste hoje é um pais dividido pela ideologia. Uma divisão sem lógica e irracional. As eleições do segundo turno ratificaram tal divisão. Diz um articulista  que é uma luta de classes. Eu diria que é uma guerra de modelos. Quem acredita num país para os ricos discorda dos que querem um país para todos, com os pobres incluídos pelos programas sociais. O resto é conversa. Rancores à parte penso em Martin Luther King, tão odiado que foi assassinado, quando diz: ”Tenho visto demasiado ódio para querer odiar”. Seria bom pensar nestas palavras!






sábado, 25 de outubro de 2014

DO SEGUNDO TURNO





Na semana passada fiz uma breve síntese dos resultados das eleições para a Câmara Federal. Não analisei os dados do Senado, pois a renovação foi apenas de um terço dos senadores. Por outro lado as  eleições para  governadores ainda não terminaram.  Assim a Câmara era o dado mais significativo que havia então.
Os resultados foram evidentes, a direita venceu. Mas não basta verificar, é preciso entender o porquê que os brasileiros se voltaram à direita. Não há com o negar que na última década o perfil do consumidor brasileiro mudou. A classe C ascendeu a uma nova posição e aumentou seu poder de consumo. As classes menos favorecidas receberam os benefícios de uma série de programas sociais. A ascensão social não foi seguida por uma mudança de mentalidade. Assim o modo de ver e entender o mundo permaneceu o mesmo. A mentalidade do povo é o reflexo da mentalidade da elite. Sem tirar nem por.Falta ao povo  o filtro da educação e o  da formação  intelectual que permite discernir o real do fictício, o  fato do factoide e a  verdade da versão.
 Para entender o brasileiro basta perceber o que pensa o poder hegemônico. Palavra difícil para designar a grande imprensa e os formadores de opinião. Essas posições se encontram nas novelas, nas noticias e nos consagrados comentaristas. Aí se encontra o que pensa a população menos esclarecida.  Ela não percebe que as noticias são manipuladas, para ratificar algumas posições e desqualificar outras.  Essas posições são maniqueístas afirmam e reafirmam que o mundo se fundamenta em princípios opostos: ou seja, o bem e o mal. O adversário é o mal (demônio) e o correligionário é o bem (deus).
A luta entre o bem e o mal na política é maior das falácias (mentiras). Na verdade os que estão convictos disso vem o mundo pelo buraco da fechadura. Como diz Nietzsche “ as convicções são inimigas mais perigosas da  verdade do que as mentiras.” Enquanto espera a vinda do bem, o povo vota no candidatado  da mídia,que representa a classe dominante.Dai se explica os votos nos empresários ,nos  advogados, nos médicos e nos pastores.
Depois de uma torrente de contrainformações mais uma vez os brasileiros irão votar livremente obrigados em candidatos que não escolheram. O povo não escolhe os seus representantes, são os partidos que indicam seus caciques e seus pajés. Coisa antiga e hereditária. Vale a pena prestar atenção nas pesquisas elas tem ganhado algumas  eleições, visto que, muitos gostam de votar nos vencedores. Não se pode negar a convicção de um povo, muito menos sua manipulação.

No próximo domingo será realizado o malfadado segundo turno, que ao que tudo indica repetirá o primeiro. Assim os aficionados da política terão mais algumas emoções. Com certeza tem razão Fernando Pessoa ao dizer: ”Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”.

sábado, 18 de outubro de 2014

DIREITA VOLVER!




Nunca, como agora, a Câmara Federal esteve mais a direita. O artigo Mais a Direita da Folha de São Paulo (11 e12 do corrente) merece ser lido, analisa a histórica virada, segundo ele desde 1964 não se via uma Câmara assim.
Há dados que revelam que a Câmara de Deputados é a antítese do Brasil. Acompanhe alguns deles: cerca de 80% dos deputados são brancos, num pais onde a maioria da população é mestiça. Entre os deputados eleitos apenas 15,79% se declararam pardos e apenas 4,29 % negros. Num país de jovens apenas 4,5 dos deputados tem menos de 30 anos, maioria absoluta 73,5% tem de 30 a 59 anos. Num país de analfabetos mais de 80% dos deputados tem curso superior.
Quanto à profissão dos 513 deputados 219, cerca de 50% declarou-se como político. Dos outros 50%, 36 são empresários, 25 advogados, 23 médicos, 17 engenheiros entre outras profissões. È possível afirmar que a Câmara não representa a sociedade brasileira, senão haveria 82 milhões de políticos, 11 milhões de médicos (são 400 mil) e 12 milhões de advogados (906 mil). Uma completa distorção.A Câmara dos deputados representa a  minoria da população brasileira,ou seja a sua elite.  Mas não é a idade nem as profissões que definem os rumos da Câmara, nem os partidos, mas a sua ideologia. Neste sentido a Câmara é de extrema direita. Para tanto basta observar as frentes parlamentares. As maiores frentes suprapartidárias, marcadas pelas bandeiras que defendem são: a ruralista, a evangélica e a sindicalista.
A Frente Parlamentar da Agropecuária(FPA) principal fórum para discussão dos temas agrários elegeu 168 deputados, dos quais 139 foram reeleitos, A FPA, acredita que ela pode crescer com os 118 parlamentares eleitos pela primeira vez. Se a adesão for total a bancada ruralista pode chegar a 257 dos 513 deputados federais o que corresponde a cerca de 50% do Congresso Nacional Em geral os deputados pertencem às velhas oligarquias agrárias da qual Ronaldo Caiado (médico por sinal) é o maior representante. O mais votado deputado do RS foi Luiz Carlos Heinze da mesma Frente. Com eles não há menor perigo de reforma agrária! .
A frente evangélica reúne 47 membros das igrejas evangélicas, mas é composta por 70 membros. Defende a luta contra alguns temas como igualdade racial, aborto, eutanásia e casamentos homossexuais. Opõe-se também a criminalização da discriminação de homossexuais e dos castigos físicos dos pais contra os filhos. Enfim a direita da direita!
 O número de deputados ligados a causas sociais caiu. Para se ter uma ideia à frente sindical que tinha  de 83 caiu para 46 deputados. Assim as mudanças sociais previstas na legislação tem poucas chances de serem aprovadas. Portanto os conservadores podem dormir tranquilo, em berço esplendido.  O novo ritmo do Brasil é “Direita Volver”!Mudanças nunca mais!

Loraine Slomp Giron  Historiadora

sábado, 11 de outubro de 2014

DA DEMOCRACIA (2)







Passado o primeiro turno, resta o segundo com as majoritárias do Estado e do País. Como sempre há ganhadores e perdedores, vitória de um lado, derrota de outro, coisas do voto.
 No dia seguinte ao das eleições, fui pagar uma conta na lotérica da esquina. Puxei conversa com um senhor que queria saber onde eu comprara a Folha de Caxias. Ele queria saber o nome dos deputados eleitos da cidade. Segundo o que pensava Daneluz tinha sido eleito. Não podia compreender, como não  conseguira se eleger com tantos votos que fez,enquanto outros se elegeram com poucos votos.
Uma senhora da fila disse que torcia por Pepe Vargas (como se ele fosse um jogador). Perguntei por que ela se tinha votado naqueles candidatos de quem gostava. Ela me respondeu “Não votei, por que não quis”, respondi que o voto era obrigatório ela retrucou: “Que nada! Isso é bobagem!”
 Outra coitada sem que ninguém pedisse, disse em alto e bom som, que vendeu seu voto. Precisava de dinheiro, e de qualquer jeito, todos os políticos são iguais!Nada como uma conversa numa fila.
Estes são pequenos exemplos do que pensa o povo, que não conhece sequer o sistema eleitoral, quanto mais os candidatos ou a democracia. Dai se pode entender porque 2.500.000 (32,29%) gaúchos não votaram, entre abstenções, votos nulos ou votos brancos. Simplesmente porque ignoram seus direitos e deveres.
Não é só o povo que ignora os descaminhos da política. Os representantes locais dos partidos políticos parecem sofrer do mesmo mal. Colocar 35 candidatos para a deputação deu no que deu. Caxias tornou-se a campeã da suplência. Só há um representante da cidade e vários suplentes. Nada menos que três suplentes de deputados federais e sete suplentes de deputados estaduais. È possível que isso não seja um problema!Afinal o que fazem os deputados?Apenas representam os interesses de suas regiões e votam as leis do país.
 Com 332.042 eleitores, Caxias poderia ter pelo menos cinco representantes. Só a ignorância pode justificar o mau uso do voto, como a eleição de políticos contrários às diferenças de opinião, credo ou de orientação sexual, entre os quais estão os mais votados do Estado. Eleger ensandecidos ou não votar não se sabe o que é pior.
Há coisas mais sérias. Como lembra Martin Luther King “o que mais me preocupa não é o nem o grito dos violentos, dos desonestos, dos corruptos, dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons.” (Viva Bibo) Parece que os bons ainda não têm voz ou vez.
Cabe lembrar que democracia não é só eleição, como disse JJ Rousseau “uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha de se vender a alguém”. Infelizmente, é o que acontece. Ainda hoje ,há os que vendem e os que compram. Afinal, democracia é uma mercadoria?


Loraine Slomp Giron Historiadora 

sábado, 4 de outubro de 2014

DA DEMOCRACIA



A democracia é a melhor forma de governo que existe, da mesma forma que a republica é o melhor sistema até hoje conhecido. Apesar de suas qualidades tanto uma com o a outra são permeadas por erros e defeitos, como todas as criações humanas. Feitas por homens e para os homens são sujeitas a graves equívocos. Afinal, quem não erra nesse mundo?

A democracia pretende a divisão de poderes para evitar a concentração seles nas mãos de um só indivíduo, como nas ditaduras e nas monarquias absolutas.   Dos regimes de governo o presidencialismo é o possibilita o excesso de poderes nas mãos de uma só pessoa, que pode interferir de maneira direta e indireta nos outros poderes, seja no judiciário através de nomeações e no legislativo através de alianças espúrias. O eleito bom ou mau permanece por quatro anos (ou mais) no poder, só o impeachemant (impugnação do mandato) pode cassar um chefe de um estado. Já o parlamentarismo permite a dissolução do governo e uma nova eleição.

O presidencialismo é uma criação norte americano (Constituição de 1787) e o parlamentarismo são uma criação europeia (Islândia em 900). Na América apenas o Canadá adota o parlamentarismo e na Europa apenas a França o presidencialismo.

A eleição possibilita a participação do povo na condução política. O sistema eleitoral brasileiro decalcado no dos Estados Unidos é atravessado por graves equívocos. Os políticos de uma forma geral se preocupam mais com sua permanência no poder do que com o bem geral da nação.  Há ainda outros institutos altamente discutíveis do atual sistema eleitoral são o segundo turno e a reeleição. O segundo turno foi uma inovação esdrúxula da constituição de 1988, que é realizada em cidades com mais de 200 mil eleitores. Já a reeleição em mandatos subsequentes foi criada em 1997(emenda constitucional nº 5) para permitir a reeleição de FHC.  Ao que tudo indica as duas inovações permitem a permanência do poder e o fisiologismo.

A democracia é imperfeita por ser criação humana e mais do que imperfeita menos por ser manipulada por políticos e mais pela existência de profundas diferenças sociais. A democracia seria perfeita se não houvesse as diferenças de classes sociais. Já dizia Aristóteles “A democracia surgiu quando, devido ao fato que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos os homens fossem iguais entre si.” Sem igualdade a democracia é eternamente capenga servindo os que detêm o poder dominante. Não é necessário ser muito esperto para ver que o poder se concentra nas mãos dos mais ricos, ou daqueles que por eles são manipulados. Esse não é o caso apenas do Brasil. Para ajudar a democracia é preciso votar  naqueles   que defendem a justiça  social.

Nem se eu quisesse inventaria  melhor frase do que a de  José Saramago: ”o grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente.” Para ajudar a democracia deve-se votar bem!

sábado, 27 de setembro de 2014

PESTES




    Um dos problemas da humanidade ao longo do tempo têm sido as epidemias, que outrora eram chamadas de pestes. Elas têm sido um dos reguladores da população, da mesma forma que as guerras. As duas tem impedido o aumento excessivo de homens na terra. Em tempos históricos (ou seja, depois da descoberta da escrita), muitas têm sido epidemias. As primeiras registradas foram no Egito há 5 mil anos. No século XV, aconteceu a mais violenta delas a peste negra, que dizimou um 1/3 da população da Europa, cerca de 75 milhões de habitantes. Só a Segunda Guerra (1939-1945) matou mais gente do que ela ,nada menos de  120 milhões de pessoas.
No século XX muitas foram as pestes entre elas: a influenza, a poliomielite e a AIDS. A influenza matou milhões de pessoas logo após a Primeira Guerra, resiste até  hoje causando  de 250 a 500 mil mortes por ano. A poliomielite detida pelas vacinações em massa, continua a existir e a matar na Ásia e  na África. Por fim a AIDS está longe de ser erradicada, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) de  acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), há mais de 34 milhões de pessoa com a doença no mundo. Nenhuma delas provocou a mortandade da peste negra ou da Guerra.  
O século XXI continua com suas pandemias e epidemias.Hoje a  nova ameaça   no mundo é a  Ébola ,que tem assombrado a imaginação mundial. È uma espécie de febre hemorrágica e que pode ser transmitida de várias formas e tem vários tipos. È o mais novo terror da humanidade, até na reunião anual da ONU o problema  tem sido  tratado.
O desconhecimento de suas causas e a ausência de vacinas impedem o controle e o contágio da doença. Enquanto se desenvolvem  antibióticos  surgem novas espécies de vírus a eles resistentes . Na medida em que avançam as pandemias e as epidemias cresce com elas a insegurança da população, ninguém parece estar imune à peste.
Não é possível afirmar porque alguns morrem e outros se salvam das epidemias. Certo dia viu um programa na televisão, que dava conta do resultado de pesquisas feitas em pessoas imunes à AIDS. Segundo elas aqueles que foram expostos à peste negra e sobreviveram teriam transmitido a seus descendestes um fator de imunidade, pelo qual esses poderiam ser expostos a alguns vírus sem perigo de contágio. Assim os imigrantes europeus que fugiram da Europa pela miséria trouxeram o fator Q, o que permitiria uma maior imunidade. Uma espécie de vacina avant la lettre.Não seria ótimo se fosse verdade?





terça-feira, 23 de setembro de 2014

ESCOCESES E GAÚCHOS



Para os apaixonados pelas tradições gauchescas existe um livro interessante e exótico de Manoelito de Ornelas (1903-1969), Gaúchos e Beduínos- origem étnica e a formação social do Rio Grande do Sul (1948), que busca a identidade do gaucho. Traça o perfil  do gaúcho associando-o  ao do árabe,pelas semelhanças entre suas lendas e superstições ,hábitos, costumes e tradições, apontando para as origens platinas das tradições gauchas.Outros autores  acreditam na origem lusa  da cultura regional.Entre as duas posições há oceanos de rivalidades e de crentes. Parece não haver modo de compatibilizar as duas posições. Ambas são culturalistas, colocam na diferença cultural as bases da formação social.
Há semelhanças culturais entre escoceses e gaúchos, sem querer lançar uma nova crença. Ambos os povos tem sua economia baseada na pecuária, são separatistas por vocação e conservadores por principio. Lembram-se das tribos do filme Coração Valente (Mel Gibson, 1995)? Não parecem os Farrapos, ou pelo menos as hordas de gaudérios  (procurem os sinônimos nos dicionários) de outra época e de outra etnia?A rebeldia e a ingenuidade são as características principais dos dois grupos. Lembram-se do kilt escocês, há por acaso traje mais parecido com o xiripá gaucho? Para não falar da gaita de fole.  Enfim, é possível comparar os povos mais dispares por alguns traços de semelhanças.
Por que estou escrevendo sobre algo tão distante?Pelo movimento separatista escocês. No dia 18 de setembro os escoceses vão às urnas para votar pela sua  desvinculação ou não do Reino Unido. Não é a primeira vez que a Escócia tenta sua libertação do jugo inglês. Mas é a primeira vez que tal  desejo vai à plebiscito.O Brasil terra de liberdades que permite a  fragmentação em milhares de municípios, e a divisão de estados ,que permitiu até  votação pela volta da monarquia uma das cláusulas pétreas  (que  não permitem  alteração,) da Constituição, jamais permitiu a independência por meio de plebiscito   de um estado brasileiro.
O Rio Grande do Sul é um estado atípico, com seus costumes platinos e sua  língua recheada espanholismos. Basta procurar no dicionário brasileiro as palavras muladas e lombas. Aqui  tudo é diferente do resto do Brasil . Só aqui há  partido que no estado tem posição contraria a posição nacional do partido.
Se fosse permitido um plebiscito no Rio Grande qual seria o resultado? Não sei, mas deveria ser o que acontece na Escócia onde 44% da população votará pela separação, e 43% pela manutenção da união. Se a Escócia pretende deixar o lar seguro da Libra pela hegemonia alemã do Euro, onde será um paraíso fiscal subalterno à Alemanha é problema deles. O nosso estado parece fingir independência que não possui! De que adianta tanto orgulho e preconceito.(  Jane Austen in memoriam)

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MESSIANISMO



O messianismo (do hebraico  mashiah) é a crença na vinda de um Messias para salvar o mundo ou pelo menos o povo eleito. Os judeus em sua crença ainda esperam a chegada de um salvador. Ele tem tardado a chegar.Basta ver as desgraças sofridas e realizadas pelo povo prometido. Outra crença arraigada é a da do milenarismo ( do latim Millennium) ou seja a doutrina religiosa  que promete a volta de Cristo,para formar um reino com duração de mil anos .As duas crenças se misturaram no decorrer dos tempos entre a população inculta e hoje milenarismo e messianismo se fundiram num casamento improvável.
Periodicamente se saúda a volta do messias ,ou então se inventa um messias.. Tal crença  tem gerado   episódios sangrentos no mundo e no Brasil. Como é o caso de Canudos com Antonio Conselheiro ,no Nordeste e do monge João Maria na Guerra do Contestado.  Na política os dois mitos tem criado verdadeiros monstros.Um deles foi Hitler e o mais recente deles Fernando Collor ,o caçador de marajás,o messias que salvaria o Brasil dos funcionários públicos .Todo mundo sabe, deu no que deu.
Algo muito parecido aconteceu com a eleição do Lula, que não sendo deus não pode fazer os milagres esperados.  Levam vantagem aqueles que  ninguém espera que  salvem o Brasil. Assim podem governar com cuidado e correção , sem necessidade de provar sua santidade.
Parece que tem inicio a crença de um novo predestinado por Deus, para o qual Ele promete a salvação do Brasil. Não pretendo discutir aqui os defeitos ou as qualidades da nova e fulminante candidata dos  salvadora da pátria. Os analistas políticos que se divirtam, alias são eles que mais se enganam, juntamente com os economistas e os meteorologistas. Seus erros chegam a 50% do que é previsto por eles previsto.. Ninguém reclama! Essas profissões tem feito cada analise e cada previsão que mereceriam um livro, para reafirmar seus enganos. Imaginem os leitores se uma cozinheira errasse 50% dos pratos que cozinhasse seria o caos econômico.Incrível é que com os citados profissionais nada acontece!
Messias é para os desesperançados. Como William Shakespeare afirmou : “Os pobres não têm outro remédio a não ser a esperança”. A crença em um salvador e na salvação faz parte da herança judaica. Uma coisa é certa, até hoje não nasceram os salvadores da pátria, nem do mundo. Pois esta não depende deles, depende isso sim  da democracia e do esforço de cada um. Como já dizia o sábio (entre os sábios) Aristóteles: “A esperança é o sonho do homem acordado.” Como é do conhecimento geral ninguém vive só de sonhos!
Loraine Slomp Giron Historiadora
zumbiserrano.blogspot.com.br



domingo, 31 de agosto de 2014

PADRE FALSO (2)






 Sobre a crônica do padre falso que casou meus avós recebi um telefone da Terezinha, antiga funcionária do Museu Municipal, amiga que não conheço. Falou-me ela de outro padre falso citado pelo padre Brandalise em seu livro A Paróquia de Santa Teresa. Voltei ao livro e reencontrei fatos não muito edificantes sobre padres falsos ou não. Conta ele  que por volta de 1880 apareceu em Caxias ,vestido de padre um alfaiate, que em Buenos Aires fora vendedor de frutas.Dizia-se relojoeiro,assim recolheu os relógios dos colonos  para concerto, fugiu com eles  da cidade.Nunca mais foi visto!
Fiquei relendo o livro e encontrei um caso ainda melhor. Artes do Padre Antônio Passagi, que em 19 de maio de 1877 foi o 1º capelão colonial de Caxias. Era um apreciador do vinho, bebia como poucos nesta terra de amantes dos derivados da uva. Quando bêbado gritava ofensas contra os fieis, e para completar, saia em companhia de indivíduos de má conduta. Entre seus mal feitos, esteve o casamento entre dois homens, um dos quais vestido de mulher. A cerimônia  com todos os requisitos exigidos pela Igreja ocorreu no Café Garibaldi , na Júlio ,defronte à Praça(hoje o  Caixa de Fósforo).Segundo o cronista citado a culpa foi dos maçons, que por sinal eram culpados por tudo o que ocorria  de mau em Caxias. Muitos anos depois foram substituídos pelos comunistas, que se tornaram os novos bodes expiatórios da Igreja.
O Diretor da Colônia Muniz Bittencourt em 5 de fevereiro de1881 informou ao Governo que as ordens de Passagi foram suspensas pelo Bispo Diocesano, e que o sacerdote expulso da colônia deveria se retirar em 24 horas. O Diretor teria alertado   o Padre dizendo: “Fiz  ver que não podia consentir a ter tal procedimento,ele porem declarou-me que continuaria como  bem entendesse,uma vez que a Constituição do Império lhe garantia”.O Padre Passagi sabia das coisas e das leis ,mas ainda assim foi expulso de Caxias. Em 8 de fevereiro de 1881 foi demitido pelo Diretor da Colônia Caxias (então a Igreja estava ligada ao Estado) e deixou a colônia. Foi para onde? O autor não diz.
Conta ainda Brandalise que em1889, os maçons quiseram comemorar o 20 de Setembro e os vinte anos da tomada dos Estados Pontifícios pelo Reino da Itália. O pároco de Caxias padre Henrique Vieter acabou com a alegria da festa mandando alguns católicos jogar fora os morteiros e os canhões que seriam usados nas comemorações. O padre não completou um ano de trabalho, logo foi removido para a África onde viveu até o fim de seus dias, em Camarões. Os maçons eram associados ao governo imperial, estando organizados em Caxias em Loja desde 1884. Mas o poder da Igreja era bem maior. Caxias parecia Brescello o pequeno mundo de Guareschi,com Dom Camillo e Pepone trocando ofensas e bordoadas.As causas  das brigas aqui e lá eram as mesmas:a perda dos Estados Pontifícios.Enfim tudo politicagem!
Loraine Slomp Giron Historiadora   zumbiserrano.blogspot.com.br



sábado, 23 de agosto de 2014

60 ANOS SEM GEGÊ


No próximo dia 24 se comemora 60 anos da morte de Getúlio Vargas. Seu suicídio foi uma tragédia digna de Sófocles ou de Shakespeare. Há poucos fatos mais chocantes na história brasileira do que ele. Para marcar a efeméride foi lançada a trilogia ‘Getulio’ do jornalista e historiador cearense Lira Neto, que reconstituiu a vida e a ação do mais importante político brasileiro do século XX. A obra é grandiosa abrangendo cerca de 60 anos de história pessoal e nacional. O último volume da trilogia foi lançado agora, trata-se de Getúlio (1945-1954) - da volta pela consagração popular ao suicídio (Companhia das Letras), relata a última fase da vida de GV, na qual já não há amores nem escapadas românticas. O antigo ditador isolado no sítio Itu, em São Borja (RS) limita-se a visitantes ocasionais e a correspondência com sua filha Alzira. Em 1950 ocorre a virada histórica e a retomada do poder pela força do voto, sem a maioria no Congresso. Sem ela, ele pouco pode fazer. Alguns dos projetos do governo essenciais para o Brasil foram votados como a criação da Petrobras, mas a maioria deles nem sequer foram discutidos. Entre eles o da Eletrobrás e o do direito dos  trabalhadores do campo e o aumento em 100% do salário mínimo.

Desde o inicio do governo, duas forças se levantaram contra ele: a conspiração militar e a Tribuna da Imprensa. O alto escalão das forças armadas alinhado com os Estados Unidos desejava a intervenção do Brasil na guerra da Coréia.   O golpe de 1964 está presente em toda a obra como um espectro maligno.Desde 1951,  organizados  na ADESG (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra), os militares não paravam de atacar o governo. Da mesma forma, o Clube da Lanterna, fundado em agosto de 1953, por Lacerda no Rio de Janeiro, que congregava a maioria da oposição à Vargas. O problema entre os campos políticos opostos chegou a tal ponto que um impeachment foi votado contra Getúlio, Câmara dos deputados (16 de junho de 1953). O projeto recebeu apenas 35 votos favoráveis, todos da UDN.               
  A tragédia teve seu apogeu com o atentado de 5 de agosto de 1954 no qual morreu o major Vaz da aeronáutica, acompanhante (ou segurança) de Lacerda na Rua Tonelero. O atentado gerou um IPM instalado no Galeão pela Aeronáutica. O livro trás revelações inéditas sobre as últimas semanas do Presidente. Fica ainda a questão?Quem matou quem.  Para os que amam Gegê como então era chamado carinhosamente Getulio livro é imperdível.

Como Getúlio faz falta na política nacional!  Basta lembrar suas palavras na carta testamento: “Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional (...) através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.”.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

1914




Neste ano completa-se o centenário do inicio da Primeira Grande Guerra (1914-1918). Guerra que mudou a fisionomia da Europa e aniquilou o Império Austro Húngaro, que durante anos liderou a política europeia, reduzindo a Áustria a um minúsculo país.
Tudo começou em 28 de junho de 1914, o dia nacional da Sérvia, dedicado a São Vito. Nessa ocasião, foram mortos a tiros o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, e sua esposa morganamática a condessa Sofia. Casamento morganático é a união  de um(a) nobre, príncipe (princesa) ou rei (rainha) com alguém de posição social inferior, uma pessoa de baixa  nobreza ou sem títulos de nobreza. O nobre nesse caso mantém seus títulos, seus direitos de sucessão,estes não são estendidos ao seu esposo(a) nem aos  filhos(as) resultantes da união. A pobre condessa Sofia era nobre menor. Não pertencia à família real austríaca, merecendo por isso o ostracismo e o desprezo da corte de Viena. O rei Francisco José ao que parece não sofreu com a morte do casal, pois um de seus problemas em relação à sua sucessão foi resolvido com ela.
A vantagem das efemérides é que a quantidade apreciável de estudos que é publicada. Um deles merece ser citado. Trata-se de O assassinato do Arquiduque, dos historiadores britânicos Greg King e Sue Woolmans (Cultrix). O livro traça uma biografia do casal e revela dados sobre ele nunca antes publicados. Conta à história de amor do herdeiro do trono austríaco e a condessa Sofia, revelam as lutas enfrentadas para que pudessem casar, e as humilhações à que ela foi submetida por ser desigual. Isso ocorreu no inicio do século XX.
O livro lança uma nova luz sobre o atentado. O descaso com a segurança dada ao casal no dia de seus assassinatos só pode ser comparado ao que ocorreu com o assassinato de Kennedy. Em ambos os casos pode ter sido conspiração, e ela nunca será descoberta. Trata-se de fatos históricos mal contados ou crimes encobertos?
Fico pensando no que teria ocorrido se Kate Midleton tivesse pretendido casar com o herdeiro do trono austríaco. Ou se a jornalista Letizia Ortiz pretendesse casar com o herdeiro do trono espanhol, no século XIX. Para sobreviver, a monarquia tem mudado muito. Pois mais desiguais do que elas não há nem pode haver. O antigo rigor de ter 16 antepassados para casar com um herdeiro ao trono deixou de existir.
A leitura do livro modificou meu ponto de vista sobre Francisco José e sobre o casal assassinado. Para o qual a história só demonstrou desprezo e preconceito. Nada como o tempo para reescrever o passado sob outros olhos e outros valores. Como observou o sempre atual Voltaire “Os preconceitos são a razão dos imbecis”. Eles continuam existindo!
Loraine Slomp Giron Historiadora